O carro elétrico ainda é um luxo para poucos endinheirados. Só que a situação não deve mudar muito nas próximas décadas. É o que acreditam especialistas da indústria automotiva.
“Na minha visão, o carro elétrico ainda será caro no futuro. No máximo, vai ser o segundo carro de famílias de classe A que estejam preocupados com a natureza”, afirmou Marco de Mitri, sócio-fundador da AM2 Consultoria, empresa especializada em tomadas de decisões no setor automotivo.
O discurso é endossado por Carlos Bernardes, head de Pós-Vendas da AM2. “O consumidor que comprar um carro elétrico precisará ter outro veículo para realizar deslocamentos mais longos”.
Atualmente, o veículo movido a eletricidade mais barato do país é o JAC iEV20, que sai por R$ 159.900. Em breve, o compacto será desbancado por outro modelo da JAC, o e-JS1. Primeiro projeto feito pela SOL (joint-venture formada com a Volkswagen), o pequenino elétrico está em pré-venda por R$ 149.990 e será entregue a partir de setembro.
Alguns modelos mais sofisticados e esportivos, como o Porsche Taycan, podem chegar perto da casa de R$ 1 milhão.
A dupla usa os recentes lançamentos da indústria como forma de endossar sua previsão.
“A nova geração do (Chevrolet) Bolt chegou ao Brasil por R$ 317 mil. Ou seja, a própria montadora já sabe que o cliente dela é classe AA. Ela não quer popularizar essa tecnologia”, opina Carlos.
Brasil está um passo atrás
Apesar do expressivo aumento de 66% nos emplacamentos de veículos eletrificados em 2020, os números de venda ainda são extremamente tímidos, especialmente quando comparados a outros países.
No ano passado, 19.745 unidades foram emplacadas no país. Parece muito, mas a quantidade é quase irrisória perto dos 296 mil carros vendidos nos Estados Unidos no mesmo período.
“Existe uma tendência forte de crescimento dos veículos eletrificados (no Brasil), mas, ainda assim, é algo muito embrionário. Não vai chegar a impactar o mercado em quantidade e infraestrutura”, prevê Marco.
De fato, as previsões para o futuro não são otimistas. Um novo estudo divulgado pela Anfavea e realizado em parceria com a consultoria Boston Consulting Group (BCG) revelou que as vendas de veículos eletrificados no Brasil deverão representar de 12% a 22% em 2030, dependendo de incentivos e outras variáveis estimadas no estudo.
A participação é extremamente pequena perto dos números de China, EUA e União Europeia no mesmo período. Nesses países, este tipo de veículo poderá responder por 50% das vendas de veículos em 2026 – ou seja, daqui a apenas cinco anos.
Por trás deste crescimento acelerado está a queda no custo das baterias (que ainda é o componente mais caro nos carros elétricos, por exemplo), a concessão de incentivos para a compra de veículos eletrificados e o estabelecimento de prazos para o fim da venda de carros movidos a combustão. Nada disso aconteceu no Brasil até o momento, o que reforça que o carro elétrico será caro mesmo daqui a algumas décadas.
“Outros países já definiram suas metas de descarbonização, bem como os caminhos para se chegar a elas. O Brasil, em seu papel de um dos principais mercados para o setor de transporte no mundo, não pode mais perder tempo”, declarou Luiz Carlos Moraes, presidente da Anfavea.