Depois das fortes chuvas no Rio de Janeiro e em Belo Horizonte, a tempestade da última segunda-feira pegou de surpresa os paulistanos. Muitos não esperavam que a água subisse tão rápido e acabaram perdendo seus carros, estacionados nas ruas ou mesmo em garagens e estacionamentos subterrâneos, que foram inundados.
Já demos dicas de como proceder caso o motorista esteja dirigindo em condições de temporal, mas e se o carro for elétrico? As recomendações são as mesmas? Há risco de curtos-circuitos, explosões ou de choques nos ocupantes?
Segundo Ricardo Takahira, da Comissão Técnica de Veículos Elétricos e Híbridos da SAE Brasil, o medo associado à combinação de água e eletricidade, algo que escutamos desde criança, não procede quando falamos de carros elétricos.
“Esses veículos têm sistemas complexos de proteção, um conteúdo tecnológico muito maior. Não faria sentido os fabricantes de automóveis sacrificarem a segurança dos passageiros apenas para oferecer uma nova tecnologia de propulsão”, afirma.
Muitas das precauções devem ser as mesmas feitas para carros a combustão, mas os elétricos até levam vantagens em alguns casos. Os conectores e a bateria ficam em invólucros selados, projetados para que não haja contato com a água, portanto o risco de estrago é menor.
Por exemplo, em uma travessia de área alagada, o modelo a combustão precisa entrar com uma marcha mais forte engatada, normalmente a segunda, e manter o giro alto do motor e a velocidade constante para que a água não entre pelo escapamento – esse não é um dos problemas do elétrico, que não tem escapamento.
Mas para ambos, o ideal é que a água não ultrapasse muito a metade da roda, já que se o nível subir muito, pode haver perda de contato com o solo e o carro começar a boiar. Até nessa hora os elétricos levam vantagem. Como são mais pesados por conta da bateria, é preciso de mais força para tirá-los do chão. Ou seja, um elétrico tem menos chance de sair navegando sozinho.
Takahira explica que existem vários módulos eletrônicos que detectam a fuga da corrente elétrica caso o sistema de vedação esteja comprometido, ou seja, se houver desgaste das borrachas – algo que ocorre com o tempo – a ponto de permitir que a água entre em contato com os componentes.
“Isso pode até causar um curto, mas não será sentido pelos ocupantes do veículo. Por projeto, os módulos e o motor têm um índice de proteção com pressão positiva, de onde só sai ar, e não entra ar ou água. Portanto se houver algum risco, o circuito desarma os polos da bateria e o carro para de funcionar.”
Caso o carro não tenha problemas de vedação dos componentes eletrônicos, a chance de recuperação de um veículo elétrico que ficou submerso até a altura do assoalho é até maior que a de um automóvel a combustão. É preciso levar modelo a um mecânico para secar terminais e eventualmente trocar borrachas, mas não há risco de fundir o motor, por exemplo.
A chance de recuperação diminui caso a água tenha entrado na cabine, uma vez que os módulos, fusíveis e relês internos não recebem a mesma proteção e selagem que os componentes do motor e bateria.
Bônus: os híbridos
Para os carros híbridos, as recomendações são as mesmas de um carro a combustão, já que ele tem esse tipo de motor combinado a um elétrico. Ou seja, os riscos não mudam.
Apenas os híbridos plug-in (e os elétricos, claro, por terem carregamento externo) merecem uma dose extra de cuidado. O plugue em si não é energizado, a recarga só inicia depois que uma série de requisitos são preenchidos. Mas, se você estiver em um eletroposto carregando o carro e começar uma chuva forte, não tente tirar o plugue do carro: “a água é condutora de energia e seu corpo pode receber uma descarga elétrica”, finaliza o engenheiro. É o único risco real.