A frota de carros elétricos no país ainda é pequena perto do total de veículos em circulação – 45 mil, segundo a Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE), contra 46,2 milhões de veículos, o que inclui comerciais, caminhões e ônibus -, mas vem crescendo de forma consistente ano a ano.
Uma parcela desses veículos, caso dos totalmente elétricos e híbridos plug-in, requer pontos de carregamento, o que coloca a infraestrutura atual, além do alto custo de compra, como um grande entrave para a popularização desses modelos.
Há algumas semanas, porém, houve uma boa notícia para a categoria: uma lei aprovada em São Paulo, a maior cidade do país, determinou que todos os novos prédios comerciais e residenciais da cidade construídos após 31 de março deste ano tenham pontos de recarga para veículos do tipo.
Se o futuro parece promissor para veículos que precisam ser carregados na tomada, quem tem um carro do tipo no presente e mora em um condomínio tende a passar alguns apertos.
Primeiramente, como todo dono de elétrico, é preciso planejar bem seus trajetos para não correr o risco de ficar a pé por não ter onde carregar o carro. E, mesmo no seu condomínio, é preciso uma boa dose de paciência e bom-senso para que seu carro ecologicamente correto não acabe sendo o motivo para indisposição com os vizinhos.
Nem todo prédio está pronto
Como se trata de um tema recente, a presença de carros elétricos não foi prevista na grande maioria dos projetos de prédios já existentes. E, dependendo da idade do imóvel, instalar carregadores acaba sendo um desafio e tanto.
“Tudo depende do projeto do imóvel e da sua idade, já que muitos dos empreendimentos atuais estão até mesmo fora das normas vigentes. Instalar um carregador exigiria, portanto, uma modernização da parte elétrica do imóvel”, explica Evandro Mendes, CEO da Electricus.
Idealmente, esses carregadores teriam que ser ligados em uma rede de 380 volts trifásica, mas essa é uma tensão pouco comum, geralmente destinada a prédios industriais e comerciais.
Ainda assim, eles funcionam bem se ligados em uma rede de 220 volts bifásica, mais comum em cidades como São Paulo e que garantem uma potência de carregamento de 7 kW. Em termos práticos, isso significa de 35 km a 40 km de autonomia por hora de carregamento.
Mesmo que um prédio do tipo tenha um ponto de energia dentro dessas especificações, é preciso se atentar para outros detalhes.
“Antes de instalar um carregador, também é preciso fazer testes para medir o impacto da exigência adicional na rede elétrica do condomínio. Geralmente a instalação avalia isso e, caso sejam detectadas limitações, é possível instalar um carregador inteligente, que limita o quanto de energia é utilizada para evitar sobrecarga”, aponta Mendes.
Bom-senso é fundamental
Mesmo que seu prédio tenha as condições para ter um carregador instalado, isso não quer dizer que ele, de fato, passará a integrar a paisagem da garagem do condomínio. Mesmo que você arque com os custos da instalação – algo provável caso não existam outros vizinhos que sejam donos de veículos do tipo -, toda e qualquer decisão do tipo tem que ser discutida em assembleia.
“Ter um aparelho do tipo representa um custo na estrutura do estrutura e, neste caso, a assembleia irá determinar sobre a instalação ou não e também qual modelo e quantos pontos serão instalados”, aponta Marco Antonio Araújo Júnior, professor de Direito do Consumidor e sócio do Meu Curso.
E, no caso de pontos de recarga utilizados por mais de uma pessoa, como saber quanto cada um gastou? A solução aqui é adotar modelos de carregador que sejam liberados por meio de cartão ou aplicativo de smartphone, de forma a identificar quem está usando o aparelho e o tempo de recarga. Assim, a conta é enviada automaticamente para os responsáveis.
“Caso existam mais moradores com carros do tipo do que pontos de recarga disponíveis, definir horários de uso acaba sendo similar ao visto quando um morador vai reservar o salão de festa. É possível fazer agendamentos prévios, utilizando sistemas do tipo em aplicativo de celular, por exemplo”, salienta Júnior. Caso não haja uma plataforma de agendamento, vale a regra mais básica que evita problemas em condomínios: ter bom-senso.
E se a assembleia não aprovar a instalação de pontos de recarga? O que resta é utilizar carregadores portáteis, de menor capacidade e que, geralmente, acompanham de fábrica os veículos. Mas aqui, fica o alerta: não vale procurar a tomada mais próxima da sua vaga e simplesmente deixar o seu carro sendo carregado a noite toda.
Isso tende a gerar um impacto na conta de energia elétrica do condomínio e, por isso, é um tema que deve ser submetido à assembleia e exige um acordo para que o dono do veículo pague o valor adicional por esse uso. Além disso, mesmo o uso de carregadores portáteis dependem de tomadas adequadas – na tensão correta e aterradas. Caso não haja uma disponível, não tem jeito: será necessário arcar com o custo de instalação.