O caríssimo amigo Waslon Terllizzie, Professor Associado do Departamento de Engenharia Elétrica do Centro de Energias Alternativas e Renováveis da UFPB, em João Pessoa – PB, sabedor do meu interesse pelo tema mobilidade elétrica, enviou uma matéria publicada sobre o assunto, na qual Herbert Diess, Diretor Executivo de uma grande fabricante alemã de veículos, expôs algumas reflexões oportunas sobre o tema.
De acordo com a referida matéria, o executivo criticou os líderes mundiais por não terem definido uma data para o banimento do carvão como fonte de energia, usado principalmente nas usinas termoelétricas, em uma medida que seria vital para neutralizar mais rapidamente os estragos causados pelas emissões de dióxido de carbono.
Em particular, a crítica de Diess é direcionada ao G7 (Grupo dos 7 países mais industrializados do mundo) que, em vez de fixar prazo de validade para as vendas de carros movidos a gasolina e a diesel, como se pensava a princípio, sequer fixou uma meta mínima para a produção de carros elétricos, limitando-se a uma meta genérica dentro da questão do transporte.
Nada contra a mobilidade elétrica, pois entendo que os avanços tecnológicos dos veículos a combustão interna encontram limites inerentes aos ciclos termodinâmicos das máquinas térmicas. Assim, em termos de eficientização energética não haveria outro caminho a não ser a transição para outra tecnologia, no caso, a mobilidade elétrica.
Porém, quando o assunto é mobilidade elétrica não se pode deixar de lado uma abordagem sistêmica para além da narrativa ambientalista que escamoteia interesses subjacentes de ordem política e econômica, duas forças motrizes que lhe dão suporte.
E quando falo em abordagem sistêmica me reporto ao ciclo completo do emprego das energias e matérias primas utilizadas na fabricação dos veículos elétricos, ao processo de conversão eletromecânica durante o uso desses veículos e à política de reciclagem de seus componentes ao término da vida útil. Enfim, ao balanço energético completo e ao passivo ambiental.
Então, comecemos por desmistificar o termo descarbonização associado aos veículos elétricos, partindo de uma pergunta simples: faz sentido falar em descarbonização no processo de carregamento das baterias de um veículo elétrico conectado à tomada quando a energia elétrica originária é proveniente da queima de carvão numa usina termelétrica? Não teríamos, paradoxalmente, neste caso, um carro elétrico movido a carvão?
Indo literalmente mais fundo, como abstrair o impacto ambiental causado pela extração do carvão nas minas? Honestamente, os ambientalistas deveriam admitir que não há como fazer omelete sem quebrar os ovos e que não existe jantar grátis, pois para tudo existe um preço a pagar, seja por ações ou por omissões.
O fato é que todas as formas de conversões energéticas atualmente conhecidas e utilizadas pelo Homem, em maior ou menor escala, impactam o meio ambiente. Neste contexto, falar em energia limpa associada à mobilidade elétrica é alimentar um mito e, citando Fernando Pessoa: “O mito é o nada que é tudo/ O mesmo Sol que abre os céus/ É um mito brilhante e mudo”.
P.S. No artigo publicado nesta coluna em 8/7/2021, sob o título “Brasil sem risco de racionamento de energia elétrica”, cometi um equívoco ao digitar o nome do atual Diretor de Engenharia da Chesf. A forma correta é Reive Barros dos Santos. Agradeço ao colega Herivelto Bronzeado pela leitura atenta e por ter me alertado sobre a minha falha.
