O carro elétrico segue em crescente demanda mundo afora. É tanto que o seu uso será obrigatório em questão de anos, com a proibição da venda de veículos a combustão em diversos países da Europa e nos Estados Unidos, por exemplo. No Brasil, os números também estão em alta, mas ainda de forma tímida, pois a grande questão – além da falta de infraestrutura de recarga do País – é entender se a conta fecha. Afinal, custa menos manter um carro movido a bateria ou é mais barato ter um a combustão?

Para realizar essa equação financeira, o Jornal do Carro foi atrás de especialistas para sanar cada ponto. A ideia, portanto, é explicar se vale a pena o investimento de cerca de R$ 150 mil, considerando preço da energia elétrica, do combustível fóssil e de outros pontos como autonomia, revisões e incentivos já disponíveis para os carros elétricos.

Renault/Divulgação

De acordo com a Finclass, plataforma de educação financeira do Grupo Primo, é preciso propor uma conta justa. Para isso, neste estudo fornecido ao JC, considerou-se o Renault Kwid E-Tech – elétrico mais barato do Brasil, com baterias de 26,8 kWh e autonomia máxima de 298 km – e o Volkswagen T-Cross, SUV com motor 1.0 turbo flex e preço similar.

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Valeria Gonçalvez/Estadão

A princípio, é de conhecimento geral que, apesar de ser mais caro, o carro elétrico tem custos de manutenção e rodagem menores. Nesse sentido, é importante esclarecer que, no Brasil, ainda não é permitida a cobrança de energia elétrica em pontos de recarga pública – como aqueles instalados em postos de combustíveis, por exemplo. Afinal, o País não possui lei específica que regulamente o preço da eletricidade.



Valores

A princípio, uma vantagem dos carros elétricos está nos custos de recarga. De acordo com a análise da Finclass, para encher o tanque de um Volkswagen T-Cross, o custo médio após um ano de uso é de R$ 7.296,52 – ou seja, são cerca de R$ 608,04 mensais. Para chegar nesse resultado, o estudo considerou o preço médio da gasolina (em São Paulo) nos últimos 15 dias, de R$ 7,12 o litro, e a média de 12.400 km rodados no período – quase 35 km/dia.

Com a mesma base de km rodados e o custo médio de R$ 0,66 o kWh, o resultado de gastos com o Kwid E-Tech chega a R$ 744 – R$ 62/mês. Assim, o valor torna-se quase dez vezes menor no período proposto.

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Foto: Gabriela Biló/Estadão

Levando em conta que o Renault Kwid E-Tech custa R$ 142.990, seu IPVA não sairia por menos de R$ 5.719,60. Já a desvalorização fica em R$ 19.063,43 por ano. Para calcular a depreciação do carro elétrico, o estudo leva em conta um número utilizado pela Tabela Fipe: 40% em 3 anos de uso. Desse modo, daria 66,66% de depreciação em 5 anos, ou 13,33% ao ano.

No caso do T-Cross, entretanto, o preço sugerido é um pouco mais baixo: R$ 140.934. Considerando a versão Comfortline 1.0 TSI Flex, o IPVA também custaria menos: R$ 5.637,36. Já a desvalorização fica em R$ 28.186,80 por ano.

Nesse sentido, enquanto o Kwid E-Tech tem gasto total de R$ 25.527,02 no primeiro ano, enquanto o dono do T-Cross desembolsa R$ 41.120,68 no mesmo período. Portanto, vantagem para o carro elétrico. Além disso, de acordo com a tabela do Inmetro, enquanto o Kwid E-Tech apresenta índice de eficiência energética de 0,44 MJ/km, o T-Cross Comfortline tem 1,82 MJ/km.

Prós e contras

De acordo com Marcelo Alemi, head da Finclass, os benefícios de comprar um carro elétrico se baseiam em alguns pilares. “Além de manutenção mais barata e de não emitir gases poluentes, os modelos alimentados a eletricidade (por ora) não têm custos com combustíveis e, na capital paulista, ficam isentos do rodízio municipal”.

Por outro lado, o executivo aponta que esse tipo de veículo tem “baixa liquidez” – ou seja, é mais difícil de vender – e o “seguro pode ser mais caro em algumas seguradoras”, explica. No mais, “tem autonomia menor, poucos pontos de recarga e valor inicial mais alto do que a média dos carros tradicionais a combustão disponíveis no mercado”, pontua.

BMW 740e híbrido fazendo recarga
Hairton Ponciano/Estadão

De acordo com Alemi, Kwid E-Tech e T-Cross também mostram algumas semelhanças. “Carros 0-km possuem uma garantia média de 3 anos. Portanto, não há gastos extras com manutenção no primeiro ano”, enfatiza.

Contudo, outro ponto que pesa na balança contra os elétricos é a falta de incentivo do governo. Assim, tanto veículos não poluentes quanto modelos a combustão têm alíquota do IPVA de 4% sobre o valor de tabela. Os dados se baseiam no estado de São Paulo. O Projeto de Lei 1256/2019 prevê isenção do imposto, mas ainda segue em trânsito.

Kwid flex vs Kwid elétrico

E se você é daqueles que pensa: “O Renault Kwid elétrico pode render economia a longo prazo quando comparado ao Renault Kwid a combustão?”. A resposta é “sim”, informa Lai Santiago, educadora financeira e cientista comportamental da Open Co. Mas isso leva tempo.

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Rodolfo BUHRER/Renault

“Rodando 60 km por dia, o custo do Kwid E-tech se equipara ao do Kwid Intense (versão intermediária do hatch) em 117 meses”, descreve. Para ela (que considerou, respectivamente os preços de R$ 143.000 e R$ 57.440), caso o proprietário percorra 90 km por dia, o tempo cai para 78 meses.

Pelo estudo da especialista, o Kwid E-Tech gasta R$ 1.296 no período de um ano, rodando 60 km/dia. Entretanto, quem percorre o mesmo trajeto com o Kwid 1.0 flex não desembolsa menos de R$ 10.086,98 em 12 meses. O custo por km rodado é de, respectivamente, R$ 0,06 e R$ 6,97, de acordo com Lai.

A análise aponta que o consumo do Kwid elétrico (1,39 MJ/km, segundo o Inmetro) é de 0,09 kWh/km. Já o modelo a combustão percorre até 14,9 km com um litro de combustível. Nesse sentido, enquanto o modelo a baterias roda até 298 km com carga completa, o 1.0 Flex chega a 566 km totalmente abastecido.

Lai Santiago também aponta que os carros elétricos podem perder autonomia com o tempo. “Cerca de 2,3% por ano de uso”, detalha a executiva.

O mercado

Em síntese, cabe contextualizar o mercado. As vendas de eletrificados cresceram 115% entre janeiro e março. Pegando apenas os veículos 100% elétricos, o número de emplacamentos foi de 519 unidades só no terceiro mês de 2022, de acordo com números da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE). Isso ainda é pouco frente às quase 135 mil unidades emplacadas no Brasil no mês passado, conforme aponta a Fenabrave, associação dos concessionários no País.

Cabe lembrar que os estudos desta reportagem consideram os custos com o elétrico mais barato do Brasil. Mas essa conta hoje “não fecha”, pois a maioria dos modelos têm tíquete médio superior a R$ 200.000 ou R$ 300.000. Entretanto, assim como os smartphones, o carro elétrico é um caminho sem volta. E com o avanço da tecnologia – e do tempo – irão baratear.

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