RIO – A produção de carros elétricos pisou no acelerador e desencadeou uma verdadeira corrida ao níquel, metal essencial para a produção de baterias para os automóveis. Esse rali pode colocar o Brasil no centro do mapa global dessa indústria, que tem alto potencial de crescimento nos cálculos de investidores e da Agência Internacional de Energia (AIE).

A Vale, maior produtora global de níquel, já busca parceiros para o desenvolvimento de baterias com o objetivo de pegar carona na expansão do segmento.

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O bilionário Elon Musk, fundador da Tesla, acenou recentemente com a possibilidade de um “contrato gigante” para a mineradora capaz de oferecer níquel a preço baixo e mínimo impacto ambiental.

A preocupação não é à toa: as ações da fabricante de carro elétrico acumulam alta superior a 400% este ano na Bolsa de Nova York, embaladas pela produção aquecida, que superou as projeções de analistas no primeiro trimestre.

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Além da Vale, que tem produção de níquel em Brasil, Canadá, Indonésia e Nova Caledônia, o mercado é disputado por mineradoras como a australiana BHP e a russa Norilsk Nickel.

As projeções para o futuro são otimistas. Segundo a AIE, o total de veículos elétricos em circulação no mundo poderia saltar de 9,4 milhões de unidades para 135 milhões em dez anos. O cenário esperado para o Brasil também é de rápida expansão.

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Frota de 1 milhão até 2030

A Empresa de Pesquisa Energética (EPE) prevê que a frota de carros híbridos (movidos a combustão e baterias) passe dos atuais 30 mil para um milhão até 2030. A avaliação é que a indústria teria capacidade de crescer mesmo neste ano, marcado pela pandemia.

— Nossa estimativa central é que as vendas globais de carros elétricos este ano excedam as de 2019, chegando a 2,3 milhões de unidades. Isso eleva o número total de carros elétricos nas estradas em todo o mundo para um novo recorde de quase 10 milhões, cerca de 1% do estoque global de automóveis — avalia Jacob Teter, analista de Política Energética da AIE.

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Ele continua:

— As vendas aumentarão também no Brasil, mas a velocidade de penetração no mercado é difícil de prever, depende de o país estabelecer um ecossistema, política de apoio, conscientização e educação do consumidor.

Mudança  climática

Segundo analistas, a expansão da indústria reflete a preocupação com a redução de emissões de gases poluentes causadores do efeito estufa, como registrado em carros movidos a diesel ou gasolina.

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Para as empresas, a questão é saber se a rápida expansão será viável diante do fator preço, que torna o produto ainda restrito, em grande parte, ao consumidor de alta renda. No Brasil, cada veículo sai, em média, a R$ 175 mil.

— Os carros elétricos fazem parte da transição energética dos países. Mas ainda é um mercado novo. A Tesla não tinha nada até alguns anos atrás. O desafio hoje é saber se vale subsidiar um setor que é voltado para uma classe de alta renda — afirma Rafael Araújo, consultor técnico da EPE.

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No longo prazo, a projeção da EPE é que, com um empurrãozinho de políticas públicas, o país teria 61% de carros híbridos e 11% puramente elétricos em um horizonte de 30 anos.

Mesmo diante destas incertezas, a aposta das mineradoras já começou. Segundo o diretor executivo de Metais Básicos da Vale, Mark Travers, o mercado está em rápida evolução, criando oportunidades em potencial, como o estabelecimento de parcerias estratégicas com fabricantes.

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Segundo Travers, a capacidade de níquel da Vale hoje é de aproximadamente 200 mil toneladas, mas o plano é expandir. Um dos principais trunfos da empresa é concentrar cerca de 40% da oferta do níquel Classe 1, que conta com menos impurezas e aumenta a eficiência das baterias.

A Atlantic Nickel, produtora do mineral com sede na Bahia, pretende dobrar sua capacidade nos próximos anos para atender ao mercado crescente de eletrificação.

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Pesquisa da companhia aponta que as baterias, que respondem por cerca de 6% do consumo de níquel no mundo, devem ficar com 40% da oferta total em 2040. Hoje, o níquel é usado em sua maior parte na indústria de aço inox.

— Iniciamos nossos investimentos em 2019. Confirmamos o potencial de uma nova mina subterrânea, que tende a dobrar nossa capacidade de produção. Toda essa demanda por carros elétricos vem elevando o preço da commodity. Hoje, o desafio do setor como um todo é buscar reservas do níquel ideal para carros elétricos — diz Paulo Castellari, presidente do Grupo Appian no Brasil, dona da Atlantic Nickel.

Modelos no Brasil

O Brasil tem condições de ganhar importância no cenário mundial de níquel. Estimativa da Agência Nacional de Mineração (ANM) aponta que a produção de níquel puro deve mais que dobrar no país, pulando das 65.254 toneladas anuais para algo entre 140 mil e 150 mil toneladas em cinco anos.

Segundo a ANM, a projeção faz parte de um cenário otimista com a entrada de projetos e a reativação de minas. A produção no Brasil fica atrás de Indonésia, Filipinas, Rússia, Nova Caledônia, Canadá, Austrália e China.

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O grupo PSA, dono das marcas Peugeot e Citroën, tem como estratégia mundial ter até 2025 todos os seus modelos também na versão elétrica ou híbrida. Hoje, tem sete totalmente elétricos e seis híbridos. Até o fim de 2021, serão 21 nessas categorias. Em duas semanas, o grupo lançará seu primeiro carro elétrico no Brasil, o novo Peugeot 208 e-GT.

— A tendência mundial é que os carros elétricos continuem com crescimento, mas é necessário ter incentivos fiscais — destaca Pablo Averame, vice-presidente de Marketing da empresa.

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A Nissan também aposta em modelos elétricos. Em 2019, começou a vender o seu primeiro modelo no país, o Leaf, que já vendeu quase meio milhão de unidades em todo o mundo. O presidente da Nissan do Brasil, Marcos Silva, diz que, embora a pandemia tenha prejudicado, Japão e China já retomaram as vendas:

— A pandemia fará com que as pessoas pensem em questões como sustentabilidade. E aí se pensa no carro elétrico.

Segundo Hermann Mahnke, Diretor Executivo de Marketing da GM América do Sul, o segmento triplicou de tamanho nos primeiros seis meses do ano. A montadora já oferece opções de carros elétricos em seus principais mercados, incluindo o Brasil, que começou a ser distribuído em fevereiro.

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– Estamos investindo US$ 20 bilhões no desenvolvimento de uma nova geração de veículos elétricos.  Até 2023 a tecnologia estará disponível para 20 modelos da GM. A pandemia está acelerando um processo de transformação e e certamente os veículos elétricos, com zero emissão de poluentes.

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