Durante anos, imaginei como seria bom ter um carro elétrico. Em vez de gastar quase US$ 40 por semana com gasolina, eu poderia simplesmente ir até o posto mais próximo e carregar meu carro enquanto comprava verduras orgânicas. Não seria ótimo? Não só para mim, mas também para o meio ambiente? Talvez não.
Embora os carros
elétricos sejam um passo na direção certa, sua produção e carregamento ainda
contribuem para o aumento dos níveis de CO2, em alguns casos até
mais do que os carros a gasolina.
Do escapamento para a usina elétrica
As emissões de
dióxido de carbono não saem de um escapamento. Os carros elétricos emitem CO2
tanto na produção quanto no carregamento. Primeiro, a produção das baterias
elétricas requer lítio, cobalto e manganês. Os fabricantes acabam gastando uma
grande quantidade de energia na mineração e no processamento dessas
matérias-primas.
De acordo com um novo estudo alemão, assinado pelos pesquisadores Christoph Buchal, Hans-Dieter Karl e Hans-Werner Sinn, “para uma bateria Tesla de 75 kWh, isso significa uma emissão adicional de 10.875kg a 14.625kg de CO2.” Convertidos em libras, esses números estão entre 23 mil e 32 mil libras de carbono adicional emitido. Para cada bateria!
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Mesmo após a
produção inicial da bateria, muitos carros elétricos são carregados por usinas
que produzem eletricidade por meio da queima de carvão ou gás. De acordo com o órgão
governamental norte-americano responsável pelas informações sobre energia – a
Energy Information Administration (EIA) –, 63% da eletricidade produzida nos
Estados Unidos é gerada usando combustíveis fósseis. Se a eletricidade que está
sendo usada para abastecer os carros elétricosé produzida a partir de
combustíveis fósseis, então usar carros elétricos é simplesmente trocar as
emissões de CO2 do escapamento do carro para as da usina elétrica.
Combustíveis fósseis
Ao redor do
globo, diferentes países têm diferentes níveis de dependência de combustíveis
fósseis para a produção de eletricidade. De acordo com um estudo
de 2017 realizado por Michael Sivak e Brandon Schoettle, da
Universidade de Michigan, por exemplo, “em um extremo está a Albânia (que gera
100% de sua eletricidade a partir de energia hidrelétrica) e no outro estão
Botsuana e Gibraltar (que geram 100% de sua eletricidade a partir do carvão e
do petróleo)”.
Embora os carros
elétricos possam não emitir CO2 visivelmente quando em funcionamento,
não se engane. Uma quantidade significativa de emissões de CO2 é
produzida na fabricação da bateria e em seu carregamento contínuo. De acordo
com um estudo
de 2012 da Yale, “é contraproducente promover carros elétricos em
regiões onde a eletricidade é gerada a partir da combustão de petróleo, carvão
e lignito”.
Marketing enviesado
Imagine se a Tesla
anunciasse um novo avião sustentável que funcionasse totalmente à base de
eletricidade. Se a produção da bateria emitisse dezenas de milhares de libras
de emissões de carbono e se seu carregamento mais algumas centenas, essa opção seria
realmente sustentável? É o mesmo caso dos carros elétricos.
No final das
contas, a comparação direta entre carros elétricos e carros a gasolina é
irrelevante. O que realmente importa é a quantidade total de emissões de
carbono envolvidas na produção, carregamento e condução de um carro durante
toda a sua vida útil. Levando em conta que mais da metade da eletricidade dos
Estados Unidos é produzida a partir de combustíveis fósseis, é ilusório dizer
que carros elétricos gerem “emissões zero”.
Então, da
próxima vez que você vir um novo veículo elétrico ou uma estação de recarga, tenha
em mente as emissões envolvidas na produção da bateria e da eletricidade usada
para mantê-lo funcionando. As aparências enganam.
Tradução de Janaína Imthurm.
©FEE. Publicado
com permissão. Original
em inglês.