Dois anos atrás, a Nissan contratou o estúdio Man Made Music para uma tarefa simples: criar um som suficientemente discreto que os veículos elétricos pudessem usar para anunciar sua presença nas ruas.
A indústria não estava apenas investindo num futuro sonoro. Preparava-se para uma regulamentação federal que entraria em vigor no ano seguinte e exigia que carros híbridos e elétricos, mais silenciosos que os antecessores a explosão, emitissem ruídos a partir de certa velocidade para segurança dos pedestres.
Em meados de setembro, a Administração de Segurança do Tráfico nas Rodovias dos Estados Unidos (ASTR) propôs mudanças que permitem aos fabricantes oferecer sons variados. Por enquanto, somente a Nissan vai incluir um no seu Leaf elétrico no próximo ano: é o “Canto”, um som baixinho que vai aumentando à medida que o carro acelera.
Criar tais sons é um trabalho difícil, segundo Joel Beckerman, fundador da Man Made Music. Com o Canto, a equipe procurou proporcionar segurança e manter a identidade da marca, tudo em um toque de três segundos.
“Se o trabalho for bem feito, as pessoas nem notam o ruído, que passa a fazer parte do ambiente”, disse Beckerman. “Elas começam a notar quando o som está errado.”
A equipe da Man Made Music passou metade do ano de 2017 desenvolvendo o som, agrupando vento soprando, instrumentos de corda e sintetizadores digitais e analógicos.
Embora a chegada de veículos híbridos e elétricos mais silenciosos seja uma oportunidade para criar sons de buzina diferentes de barulho, a história de sons produzidos pela indústria automobilística é longa. Carros possantes há muito têm rugidos. Motos Harley Davidson orgulham-se do sincopato “patá-tatá-tatá” de seus motores.
Uma década atrás,a ASTR constatou que veículos híbridos e elétricos têm 35% mais risco de provocarem acidentes com pedestres que os de motores a explosão. Os híbridos também provocam mais acidentes envolvendo bicicletas.
Em 2010, o Congresso americano aprovou uma lei obrigando que os fabricantes de híbridos e elétricos produzissem veículos que fizessem algum ruído. A regulamentação foi concluída em 2016 e estabelecia que tais ruídos fossem feitos quando o carro atingisse a velocidade de 30 quilômetros por hora. Abaixo disso, pneus, vento e outros sons do carro seriam alerta suficiente. A medida foi comemorada pela comunidade dos cegos.
Os fabricantes, porém, pediram umas poucas mudanças, entre elas permitir aos proprietários escolher sons entre várias opções, em lugar de ter apenas um som padronizado.
Como resultado, os grandes fabricantes de autos têm estudado sons personalizados que combinem com seus veículos. A Jaguar, por exemplo, trabalhou quatro anos desenvolvendo um som futurista para seu I-Pace SUV. A General Motors também produziu som próprio para seu Chevrolet Bolt, um zumbido elétrico que começa a ser ouvido a partir de determinada velocidade.
“O som precisa ser agradável e ter o propósito de avisar as pessoas de que vem vindo algo”, disse Todd Bruder, engenheiro da GM, “mas é claro que ele também reforça a identidade marca.” / TRADUÇÃO DE ROBERTO MUNIZ