Em entrevista nesta segunda-feira (10) à Live do Tempo, o Holger Marquardt, CEO da Mercedes-Benz Cars & Vans, disse que a empresa está com foco nesse segmento e que o investimento nos veículos elétricos é a direção correta que a Mercedes. Ele disse que autonomia de combustível e infraestrutura não são mais problemas para comercialização desses carros, mas reclama da burocracia e do dólar alto no Brasil. Confira a entrevista.

Como foram os reflexos da pandemia na Mercedes-Benz Cars & Vans?  Especialmente no mercado de luxo? A pandemia foi realmente uma surpresa. Com muitas coisas ruins e outras boas para o nosso futuro. Estamos pensando especialmente nas coisas da digitalização. Temos na nossas empresas e concessionários coisas muitos importantes. Estamos sempre olhando a saúde e os sistemas de higienização que foram muito importantes no momento do contato entre o cliente e o concessionário. Na empresa, estamos em home office desde 17 de março e a previsão é que vamos ficar até a pandemia estar mais sob controle. O mercado foi reduzido, especialmente em abril e maio, mas agora está voltando, com crescimento de demanda que pode ser o primeiro efeito da recuperação.

Um dos aspectos durante a pandemia foi a adoção da digitalização, com canais online para venda e apresentação dos modelos para os clientes. Mercado premium é de um consumidor muito exigente que preza pelo preço, qualidade, história e relacionamento. Como é o resultado de vendas obtido por meios digitais? O que nós fizemos foi abrir conta no Instagram e no Facebook e também contatos diretamente com os clientes, via WhatsApp, Os clientes da marca querem ver, sentir o carro e ouvir o barulho do motor. Por isso, muitos de nossos concessionários, levaram os carros para os clientes para teste. Sem eles precisarem sair de casa.

Qual foi a queda real nesse mercado de luxo? O mercado de carros em geral caiu 40%. Carros premium tiverem uma queda de 30%. Nosso ticket médio aumentou bastante. Nosso futuro dependerá especialmente do câmbio.

Qual carro da Mercedes está sendo mais vendido por causa do câmbio? Muito difícil para dizer, temos vários lançamentos. Veículos com tickets médios mais altos. Muito difícil falar sobre o efeito da pandemia sobre o ticket médio. Vamos ver quando voltarmos, o futuro vai ser mais estável.

Qual é a essência da AMG, uma empresa da Mercedes? São carros muito esportivos. Trouxemos nos últimos anos bastante produção. Tivemos primeiros carros com motores AMG 63 e agora com motores 35, 45 e 53. 

A Mercedes tem há nove anos a liderança do mercado nessa área e tem crescido bastante a exportação no mercado chinês. Como está sendo para a Alemanha negociar com os chineses e quais as perspectivas, inclusive com exportações via Brasil? Crescemos no mundo todo. Hoje, vendemos mais carros no mercado chinês do que no ano passado, nos prmeiros seis, sete meses. Temos uma fábrica na China que está produzindo muitos veículos do nosso portfólio.

Antes da pandemia, a Mercedes tinha um cronograma para apresentar a linha renovada de SUVs. Em que o efeito da Covid-19 atrasa esse plano de trazer esses modelos novos, inclusive o GLA, que está em final de linha no Brasil, e quando vai chegar no mercado brasileiro? O efeito da pandemia foi o fechamento de fábricas. Temos produtos um pouco atrasados na produção e no lançamento aqui no mercado. Desde novembro do ano passado, renovamos toda a frota de SUVs, lançamos o GLC, o GLC Cupê, depois o GLE. Os próximos carros vão ser o GLE Coupê, o GLS e, durante esse ano, também vamos  lançar o novo GLB, um carro SUV com sete lugares. importante especialmente para as famílias. Depois vamos lançar o GLA, no primeiro semestre do ano que vem,  A Alemanha tem outra situação de pandemia comparada à América do Norte e América do Sul. Os lançamentos mundiais estão no tempo e nos prazos.

Qual a relação da Daimler com a marca Smart. Alguma chance de o Smart voltar a ser vendido  no Brasil? Depende muito de demanda para saber se nós vamos trazer o carro. Depende muito também do câmbio. Ninguém hoje vai vender um carro com uma margem zero. Vamos ver como ficará o mercado, os preços mundiais, os custos. Uma coisa é muito clara, eles serão 100% elétricos no futuro.

Tem precisão de quando ele chega no Brasil? Por enquanto, não. Não temos, depende da demanda de mercado e do preço.

O carro elétrco é mais caro? Normalmente, está um pouco mais caro, mas vamos ver se temos chance de fazer uma supresa para o mercado.

Essa faixa do dólar acima de R$ 5 é ideal para o segmento? No passado, nossa expectativa é que o câmbio ficaria em R$ 4. Com esse aumento até R$ 5,20, R$ 5,40, foi uma surpresa para todos nós. Por isso, aumentamos nossos preços, que vão refletir na demanda do mercado premium. Esse câmbio não é normal, se realmente vai voltar para R$ 5 ou R$ 4,80 ou vai ser mai alto não sabemos. Nas últimas quatro, cinco semanas, o câmbio foi para R$ 6. Essa volatilidade é muito difícil para fazer uma projeção para o futuro.

Conte um pouco sobre a eletrificação dos carros na Mercedes. A eletrificação, do nosso ponto de vista é o futuro. Muita gente tem medo, em princípio, e não sabe como será dirigir um carro elético. Para mim, aceleração desses veículos é fantástica. E fazemos uma coisa no sentimento da sustentabilidade. Nós vamos lançar em breve o EQC, e será o primeiro carro elétrico aqui no Brasil. Ano que vem vamos lançar outros carros na Alemanha. Nosso foco é realmente para os carros elétricos. Nós achamos que essa é a direção correta. Nosso carro da linha EQC terá autonomia de 440 Km. Com esse total, eu posso viver uma semana. Vou e volto para São Bernardo do Campo com 50 Km. cinco vezes 50 Km são 250 Km. E tenho quase outros 250 Km para fazer outras coisas. Infraestrutura não vai ser mais problema no futuro. Ninguém precisa ficar preocupado. Quantas vezes você precisa ficar dirigindo para Rio de Janeiro? Não são muitas pessoas que fazem isso. Autonomia e  infraestrutura para mim não são problemas, isso está resolvido. Oferecemos um aplicativo que pode simular quantas vezes você precisa abastecer o carro, qual vai ser o consumo. 

Se a infraestrutura não é um problema, o que impede o carrro elétrico de estar nas ruas no Brasil? Todas as marcas estão lançando os carros. Minha opinião é que as pessoas tem um pouco de medo, não sabem como funcionam. Por isso, oferecemos a chance de testar. Para abastecer o carro uma vez talvez no shopping, em casa, não vai ser difícil.

Mas precisaria de uma rede de parcerias que ainda não existem… Nós também trabalhamos nisso e talvez em breve teremos uma novidade sobre isso.

E qual novidade seria? Novidades são sempre coisas do futuro. Se eu falar agora, não vai ser mais novidade.

Mercedes lançou como piloto nos Estados Unidos, em 2018, o MB Collection, serviço de uso dos carros da marca por assinatura. Como funciona e há previsão desse serviço no Brasil? Está funcionando superbem nos Estados Unidos. Claro, tudo no aplicativo. O mercado brasileiro nos acompanhamos, e há muitas empresas que estão oferecendo esse serviço, mas, por enquanto, o mercado não está crescendo. Isso por várias razões. Infelizmente, falta segurança. Precisamos de parceria porque não é nosso negócio. 

Classe C quinta geração vai chegar no Brasil? A previsão é que, no segundo semestre do ano que vem, nós vamos lançar o Classe C no Brasil. Depende da demanda e da economia no país para analisarmos a produção do carro aqui.

Ainda temos um imposto de importação sobre esse segmento de produtos bastante elevado, parece em torno  de 35%… Exatamente.

Como estão os esforços para conseguir a redução desse índice? O caminho começa com o acordo Mercosul e Europa. É o caminho correto. Outros países na América do Sul não tem mais esses impostos de importação. Vamos torcer para que isso vai andar rápido e bem e sem muitas perguntas políticas.

Qual é  reforma tributária que você acha que seria necessária aqui no Brasil? Acho que está muito difícil e complexo, são diferentes impostos. Outros países têm impostos muito mais simples. A administração de impostos para vender carros caros é muito complexo, para não falar complicado. Precisamos de uma coisa mais simples, com menos administração. Isso causa uma imprevisibilidade de como vai ser o futuro. Acredito muito no plano do Paulo Guedes, ele tem muita experiência. Vai ajudar o goiverno, os clientes e a nós.

 A Mercedes trabalha com a possibilidade de carros sem o motorista? Sim, a tecnologia hoje em dia está quase pronta. As leis mundiais são totalmente diferentes e ainda não permitem o lançamento. A tecnologias existem. Temos também no Estados Unidos, perto de Los Angeles, carros em teste, por enquanto, com motorista. Mas ele está sem sentir o volante, só usa em caso de precisarmos. Aí, ele pode dirigir o carro. 

As marcas de luxo têm dificuldade para oferecer modelos blindados direto da fábrica aqui no Brasil. serviço precisa ser terceizado. Por que isso acontece? A Mercedes tem planos de entregar carros blindados? Não temos plano para isso. Analisamos uma vez essa possibilidade, mas temos tantas empresas de blidangem. E isso nunca foi nosso foco. Talvez possamos trabalhar como muitos dos nossos concessionários, com uma parceria. Mas não são planos nossos?

Você acredita numa Fórmula 1 hídrida entre elétrico e combustível? Hoje, usamos as Fórmulas 1 e E para trazer tecnologias para nossos carros. Um dia, acho que vai ser a substituição da F-1 para outra coisa. Gosto muito do barulho dos carros, mas fui assistir a F-E uma vez e foi uma sensação difernte. Foi uma surpresa agradável, outro jeito, sem barulho.

Qual foi o impacto da pandemia no mercado de vans? Mercado no mês passado foi muito bom. Segundo melhor de vendas que fizemos no segmento de vans nos últimos anos. Acreditamos que vai crescer mais e mais rápido do que o mercado de automóveis. Temos a Splinter para passgeiros e para transporte, mas nosso foco é muito maior no transporte.

No mercado premium, segmento de médios e grandes, vocês têm seis veículos entre os 13 com mais licenciamentos no mês e somente um teve retração., Acredita que essa tendência vai continuar ao longo do ano? Depende da evolução do câmbio. Nunguém quer perder dinheiro. Vamos torcer para que o câmbio volte para um nível razoável e possamos vender nossos carros com preços mais acessíveis para todos.



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