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Os mais recentes lançamentos de carros elétricos no Brasil podem dar a impressão de que os modelos estão se popularizando, algo que de fato estão, mas em volume de vendas. Os preços não estão sendo derrubados, o que há é uma maior oferta de carros elétricos pequenos, modelos que são bem mais caros do que os compactos a combustão equivalentes.
De acordo com a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), já há 100 mil elétricos rodando pelo país. A associação diz que o Brasil emplacou 3.395 veículos totalmente elétricos no primeiro semestre, número que é 19% superior aos 2.851 vendidos em todo ano de 2021. Mas cabe um parêntese, visto que o número inclui comerciais leves e outros tipos de veículos.
O avanço entre os carros de passeio ainda é modulado por várias questões, principalmente o preço. Há apenas três automóveis do tipo por menos de R$ 200 mil: o Caoa Chery iCar (R$ 144.990), o Renault Kwid E-Tech (R$ 146.990) e o Jac E-JS1 (R$ 159.990), todos carros subcompactos e de utilização restrita.
“Eu acho que o uso do elétrico no país é um tanto quanto elitista. Que parcela da população tem poder aquisitivo de gastar mais de 150 mil em um segundo ou terceiro carro da família? Qual vai ser o momento em que passaremos a ter uma equiparação de valores para termos uma dúvida na hora em que formos comprar o carro? Eu o vejo como um mercado restrito e de nicho não só no Brasil, como também nos Estados Unidos”, lamenta Fabio Delatore, docente do departamento de Engenharia Elétrica da FEI e coordenador do projeto Fórmula FEI Elétrico.
Ter um elétrico como único carro da casa deve ser algo limitado a um público ainda mais restrito, dado que os perfis de tamanho e desempenho podem ser até mais problemáticos do que a recarga.
A despeito dos incentivos ao desenvolvimento de tecnologias verdes sancionado pelo Senado americano, os planos do presidente Biden terão que contornar a mesma questão do preço, segundo indica matéria do jornal The New York Times
O incentivo dado na compra de um elétrico zero quilômetro permanece em até 7.500 dólares em descontos de impostos, mas havia um senão: nem todos os carros são elegíveis. O porém mudou na nova lei, que retira a limitação e estende o prazo para o desconto até o ano de 2032. Outra novidade é que os carros usados do tipo também dão direito ao crédito, mas limitado a até 4 mil dólares. A medida é elogiável, contudo são raros os seminovos elétricos disponíveis por valores abaixo de 40 mil dólares.
Em relação aos carros novos, o grande problema é a questão do preço. O Tesla Model 3 bem serve de exemplo. Lançado como o modelo de acesso da famosa marca, o carro foi projetado para custar cerca de 35 mil dólares, mas já está próximo dos 50 mil dólares. Alguns fabricantes instalados nos Estados Unidos tentam baixar o chamado ticket de entrada dos seus elétricos. A Chevrolet oferece o Bolt por cerca de 31 mil dólares, enquanto a Volkswagen planeja lançar o SUV ID.4 por 37 mil dólares.
A verdade é que a oferta é menor do que a demanda, o que restringiu a capacidade de produção de muitos modelos. Se antes já enfrentava restrições para a entrega do Mach-E, a Ford passou a ter problemas com a F-150 Lightning. A picape grande elétrica foi lançada recentemente por cerca de 40 mil dólares, mas já passou por aumentos de 5 mil dólares para cima. Por que baixar os preços diante de tamanha procura?
Não é apenas uma questão de posicionamento de produto e demanda, o aumento das commodities necessárias para a produção de motores elétricos e bateria foi notável. O aumento médio dos veículos elétricos nos EUA foi de 14% no ano passado, indica a Kelley Blue Book (KBB).
“É por isso que o mercado está crescendo, há fortes incentivos ao consumo. É coisa de país rico, seria impensável pensarmos em uma política de promoção ao consumo agressiva aqui no Brasil”, lamenta a professora Flavia Consoni, coordenadora do Laboratório de Estudos do Veículo Elétrico (LEVE) – Unicamp.
No caso do Brasil, o encarecimento do dólar tem peso redobrado para qualquer veículo importado. Um bom exemplo é o Bolt, que chegou em 2019 por R$ 175 mil, mas ultrapassou os R$ 317 mil no ano passado. Os patamares das demais opções passam largamente dos R$ 200 mil e se restringem a um público habituado a carros de luxo.
“O Brasil tem 65 modelos elétricos, cinco vezes menos que a China, e ainda ficamos restritos aos veículos de luxo e SUVs, carros que têm menos distorção e em que o preço não é tão importante. O que move esses compradores é mais a tecnologia e performance do que o preço. O consumidor não compra o carro elétrico só pelo lado ambiental, mas pela tecnologia embarcada”, explica Adalberto Maluf, Presidente do Conselho Diretor da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE).
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