Uma das características consideradas mais positivas em relação aos carros elétricos, quem diria, pode ser também uma de suas maiores ameaças: o silêncio. Há alguns anos, uma pesquisa feita durante alguns meses nos EUA indicou que, por não serem “audíveis”, esses veículos têm 35% mais chances de se envolverem em acidentes com pedestres que seus primos barulhentos. Em relação aos ciclistas, essa probabilidade maior é de até assustadores 57%. Com esse dado na pauta, o órgão responsável pela segurança nas estradas de lá recomendou que os automóveis, tanto híbridos quando 100% movidos a bateria, passem a produzir algum tipo de ruído. A recomendação acabou transformada em lei e regulamentada em 2016, e deve passar a vigorar no país já em 2020. Normas semelhantes já foram aprovadas pela União Europeia e, também, no Japão. Aqui no Brasil, pe claro, não será diferente.
Antecipando-se à exigência a japonesa Nissan – que fabrica o modelo 100% elétrico atualmente mais vendido no mundo, o Leaf – contratou o grupo Man Made Music, especializado em trilhas sonoras, para desenvolver um som especialmente para seus carros. O resultado você escuta no vídeo abaixo.
Como dá para notar, o som sintetizado se modifica de acordo com a velocidade do carro, tendendo a ficar mais agudo e a sumir com a aceleração.
É tudo uma questão de adaptação e de mudança de hábitos. Não custa lembrar que, no finalzinho do século XIX, quando os primeiros carros começaram a circular, em grandes cidades como Londres era obrigatório que fossem precedidos por um pedestre com uma bandeira e um apito, para avisar e afastar os pedestres do caminho.
Pelo que pude levantar, o tal som não precisará ser emitido permanentemente, mas somente em velocidades de até 30 km/h, em determinadas condições de trânsito e locais específicos em que o excesso de discrição possa representar risco – como em vias urbanas de pouco movimento, onde exista tráfego de bicicletas, por exemplo. E não há, pelo menos por enquanto, um tipo único de som a ser utilizado – o que abre, inclusive, a possibilidade de um mesmo carro ter, digamos, um repertório deles à disposição do motorista.
O som do dono e o dono do som
Cá entre nós, se é para colocar um som em meu carro elétrico, preferiria que este fosse o de um motor V8 ou V12 dos velhos tempos ou, igualmente nostálgico, o de um refrigerado a ar de Fusca ou dois tempos “suingado” de um velho DKW. E não duvido nada que, no futuro, seja perfeitamente comum cada um gravar, samplear (editar o som) e usar em seu carango o som de que mais gostar.
Sim, sim, a menos que regras bem claras e fiscalizáveis sejam definidas, a tendência é que isso transforme as ruas em verdadeiros mafuás sonoros, multiplicando uma espécie de “efeito trio elétrico” por todos os dias do ano. Esperamos que, entre o caos e a segurança, sobrevenha um meio termo razoável e, quem sabe, divertido.