Espaços vazios, alguns expositores isolados em corredores sem visitantes e nada da badalação tradicional de feira de tecnologia. Assim foi o retorno presencial da CES (Consumer Electronics Show) 2022, uma das maiores do mundo. O evento começou oficialmente na quarta-feira (5) e termina hoje (7), um dia antes do previsto inicialmente, por causa do coronavírus.
Tradicionalmente, a CES é motivo suficiente para virar Las Vegas de ponta cabeça todo início de janeiro. Visitantes de diferentes cidades do mundo seguem para os Estados Unidos para divulgar produtos e sistemas, fechar negócios, lançar tendências tecnológicas e compartilhar conhecimento (existe uma parte da feira que é voltada para palestras temáticas). Não foi este o clima agora.
Poucas empresas mantiveram a participação presencial com enormes estruturas físicas para divulgar seus avanços em TVs, robótica, dispositivos para saúde, carro que muda de cor e conceitos para o futuro dos eletrônicos. Por conta disso, esses estandes atraíram mais os olhares dos visitantes.
Dois exemplos são a Samsung e TCL, que ocuparam boa parte dos espaços com suas TVs (Qled, Micro Led, 8K e 4K), eletrodomésticos (como aspirador de pó robô), celulares, monitores gamers etc.
Não há ainda um número final de participantes (entre empresas e visitantes) neste ano. Mas, para se ter uma ideia, em 2020 o evento reuniu em torno de 4.500 expositores — muitas empresa cancelaram a ida no final de dezembro, como Google, Amazon e Microsoft.
Mais digital do que presencial
A Sony, por exemplo, tinha um espaço reservado bem grande, mas o ocupou apenas com dois protótipos do futuro carro elétrico da empresa, alguns drones e PlayStation 5. Tudo em decorrência da covid-19.
Já a LG, que tradicionalmente traz para Las Vegas inovações em TVs e eletrodomésticos, distribuiu QR codes que convidavam o participante para ter uma experiência virtual com os lançamentos da marca — por exemplo, a primeira TV de micro LED da empresa, que terá 136 polegadas e chega até o final do ano.
Ou seja, a empresa estava fisicamente na CES 2022, mas tudo o que lançou ficou no ambiente virtual.
Paralelamente, as empresas que decidiram cancelar a participação presencial adotaram o mesmo formato da CES 2021: apresentações pela internet e materiais (textos, fotos e vídeos) de divulgação compartilhados online.
O que veio de interessante
Além dos tradicionais avanços na área de som e imagem, chamou a atenção as evoluções no campo da saúde.
Duas tecnologias desenvolvidas pela empresa Opteev destacaram-se.
Uma delas é o Virawarn Freedom, um dispositivo portátil no formato de um nebulizador que promete detectar a covid-19 por meio da análise da respiração e hálito da pessoa em até 5 segundos.
Segundo a empresa, o aparelho tem biossensores que quando entram em contato com partículas virais ativam filtros, indicando se a pessoa está infectada (luz vermelha) ou não (luz verde).
“Se alguém tiver com a proteína do vírus [no material analisado], o sistema reconhece”, explicou a Tilt o representante da empresa Kevin Walsh.
De acordo com ele, o aparelho teve 100% de eficácia em testes realizados e está em processo de análise para aprovação de uso pela FDA, órgão regulador dos Estados Unidos que funciona como a Anvisa no Brasil.
No site da empresa, já existe uma fila de espera para aquisição do produto com preço sugerido de US$ 360, cerca de R$ 2.050. O equipamento foi testado com sucesso pelo Instituto Nacional da Saúde dos EUA, uma agência governamental de pesquisa médica.
A outra solução criada pela companhia envolve dois modelos de monitor de ar que funcionam de forma parecida com o produto acima. Ele analisa o ar do ambiente e indica se existe alguém no local contaminado.
Já a empresa Satisfyer atraiu visitantes exibindo vários modelos de vibradores e estimuladores de clitóris. Foi um dos estandes que mais formou fila, principalmente durante um sorteio de produtos da marca.
Com ajuda de um aplicativo para celular, é possível customizar intensidades e vibrações para tornar a experiência mais pessoal. Se desejar, as consumidoras podem salvar os programas que mais curtiram e retornar a eles quando quiserem.
Sobre a segurança e privacidade do aplicativo, Stephanie Trachtenberg, diretora de marketing e relações públicas da Satisfyer, destacou que os dados não são enviados para a empresa. As informações são criptografadas e ficam armazenadas localmente no celular.
“Sentindo” a realidade virtual
Não faltaram experiências de realidade virtual (RV). Uma das mais legais foi a da empresa bHaptics que permitia “sentir” coisas no mundo digital com ajuda de um colete, luva cheia de sensores e óculos de RV —o kit será disponibilizado para consumidores nos EUA até o fim do ano por US$ 300 (cerca de R$ 1.700).
Deu para acariciar um gato, brincar com um sabre de luz e tocar objetos.
Já a TCL investiu nos óculos NXTWear Air, literalmente um cinema portátil. Compatível com celular e laptop, é possível usá-lo para jogar ou assistir a filmes e séries de forma discreta.
Pesando apenas 75 gramas, o acessório conta duas telas OLED com resolução Full HD (1.920 x 1.080 pixels) — segundo a marca, a imersão é equivalente a assistir um telão de 140 polegadas a uma distância de 4 metros.
Não possui bateria (é ligado por meio de uma porta USB-C) e conta com dois alto-falantes. Não há ainda preço sugerido, no entanto, a TCL diz que lançará os óculos comercialmente ainda no primeiro trimestre deste ano.
Carro camaleão
O estande da BMW foi outro que formou filas por conta de seu carro elétrico BMW iX Flow com e-ink (tinta eletrônica), cujo exterior conta com material presente em telas de leitores eletrônicos, como o Kindle, e permite a mudança da cor.
Segundo a BMW, esta tecnologia permitiria, por exemplo, ter um controle melhor sobre a temperatura do carro. Ao selecionar uma cor externa mais escura, por exemplo, o veículo “absorve” luz, aquecendo o veículo e economizando ar-condicionado.
Projetor que não é só projetor
O dispositivo The Freestyle, da Samsung, foi outro que atraiu olhares curiosos. O aparelho funciona como projetor, alto-falante e luminária. As imagens variam de 30 a 100 polegadas. O preço nos EUA é de US$ 899.
A foto abaixo mostra o aparelho funcionando com o sistema operacional das TVs da marca, chamado Tizer. É só configurá-lo como se fosse uma televisão (como conectar no wi-fi) e sair usando como projetor.
Só é preciso que o dispositivo esteja ligado na tomada para funcionar, mas o consumidor pode usar bateria externa caso queira levar para um churrasco ou acampamento.
*A jornalista viajou a convite da Samsung