Praticamente todas as montadoras mundo afora estão focando na eletrificação de suas linhas. Algumas, como a Chevrolet, já foram além e determinaram uma data para ter apenas veículos elétricos. No caso da americana, o ano “escolhido” é o de 2035, ou seja, daqui há 14 anos.
Pode até parecer pouco — para realizar toda uma revolução industrial –, mas com a velocidade com que a indústria no geral, e a automotiva especificamente, está evoluindo, é um período até razoável. Mas o objetivo parece ser ainda mais distante ao analisar que, nos Estados Unidos, de 15 modelos da linha atual da GM, apenas o Bolt EV é elétrico.
Se o caminho a ser percorrido por lá parece ser longo, por aqui não é diferente. O crossover — o modelo é uma fusão entre um hatch e um monovolume — foi anunciado no Brasil durante o Salão do Automóvel de São Paulo de 2018, teve a pré-venda iniciada no fim de 2019, chegando ao país no início de 2020 e comercializado continuamente desde então.
O elétrico é o nosso “Teste da Vez”. O modelo que, como todo eletrificado, tem alta capacidade de aceleração, peca na lista de equipamentos (para o valor do veículo) e, como todo e qualquer carro no país, está muito mais caro do que deveria. Por aqui, o Bolt EV está custando insanos R$ 274 mil, R$ 100 mil a mais de quando foi anunciado em 2018.
Sobriedade
Quando os primeiros veículos eletrificados começaram a surgir, as marcas pareciam precisar fazer um modelo com visual tirado de um filme trash de sify. Os primeiros eram verdadeiros atentados ao design automotivo. Com o tempo, as montadoras viram que essa ousadia mais afastava do que atraia os clientes e passaram a fazer carros elétricos “normais”.
O Bolt já segue essa nova tendência, com estilo próprio, mas nada exagerado. A única coisa que indica que não se trata de um veículo à combustão é a grade frontal, que não é aberta, apenas uma peça elegantemente desenhada que completa o visual entre o para-choque, os faróis e o capô.
O certo é que, durante o tempo em que testamos o Bolt, ele não chamou a devida atenção nas ruas, o que mostra que o visual não está exagerado. O fato da unidade ser branca também ajuda, já que é uma cor que pouco chama a atenção.
Por dentro o elétrico tem um estilo mais ousado, principalmente por causa do vão livre na dianteira, o que passa um ar de maior amplitude. O destaque fica pelo painel de instrumentos digital. O acabamento gera uma certa controvérsia. Apesar de elegante, a peça em cinza é de um plástico duro de toque não muito agradável.
O mesmo material é visto nas portas. Elas até contam com plástico macio ao toque, mas não nas áreas de maior contato, como nos puxadores. No mais, o acabamento é muito bem feito, sem qualquer tipo de rebarba ou peça mal encaixada e ele ainda conta com um filete de LED azul que envolve todo o painel, deixando a cabine ainda mais elegante a noite.
Como o porte é de um hatch médio, ou de um monovolume, o espaço interno é muito bom. O Bolt leva quatro adultos grandes com facilidade e conforto. Um quinto sempre gera um pouco mais de aperto para quem vai atrás, mas pelo menos não tem o túnel central para apertar ainda mais. O porta-malas tem um bom tamanho também, levando 478 litros.
Deveria ser melhor
A lista de equipamentos do Bolt manda muito bem em alguns aspectos e desliza em outros, principalmente para um veículo de quase R$ 300 mil, mesmo sendo elétrico. Ao mesmo tempo que ele tem 10 airbags (frontais, de joelho, laterais e de cortina), não conta com piloto automático adaptativo ou auxiliar de frenagem, este último até está presente, mas apenas para baixas velocidades.
Ao passo que ele vem com abertura das portas e partida do motor com chave sensorial e ar-condicionado digital, o mesmo é de apenas uma zona e não tem saída para a traseira, os bancos não contam com ajustes elétricos e nada de teto solar.
Na parte da segurança, ele vem com básicos controles de tração e estabilidade, freios a disco nas quatro rodas, sensores de estacionamento traseiro, crepuscular e de chuva e monitoramento de pressão dos pneus. De, digamos, diferente, ele conta com câmera 360º e alertas de movimentação traseira, de permanência em faixa e de colisão frontal.
No que refere a comodidade, carregador sem fio para smartphones, quatro portas USB (sendo duas voltadas para a traseira), central multimídia com tela de 10,2 polegadas e conexão Android Auto e Apple CarPlay, sistema de som premium Bose, bancos e volante com aquecimento e partida remota pela chave.
O grande diferencial
Claramente o grande destaque do Bolt EV é a motorização 100% elétrica. Para o modelo, a Chevrolet decidiu utilizar um sistema mais simples, com o propulsor na dianteira (algumas marcas usam a caixa de força eletrificada diretamente em um ou nos dois eixos). Com isso, o americano tem tração dianteira, como a maioria dos veículos à combustão.
Quem não está acostumado com este tipo de veículo, no primeiro contato estranha a completa falta de som. O motor é totalmente silencioso, mesmo ligado e, não fosse o aviso no painel que ele está em funcionamento, não teria como saber se o carro foi ligado ou não.
A falta de ruído gera dois pontos distintos. O positivo é que ele contribui para a diminuição da poluição sonora, já que é um veículo a menos emitindo excesso de som. O negativo é que, falta o ronco que os apaixonados por carros tanto gostam, principalmente na hora de “pisar fundo” no acelerador, ele continua quieto como se estivesse parado.
Falando em aceleração, é outro fator positivo. Como não há faixa de torque, a potência é toda despejada nas rodas de forma instantânea. Além disso, o Bolt tem excelentes 203 cavalos e 36,7kgfm de torque, o que faz as saídas serem feitas com extrema segurança.
Para o americano falta apenas uma retomada mais agressiva, presentes em outros elétricos. Ele faz a manobra com segurança também, mas não dá aquela “puxada forte” de médias para altas velocidades. Saídas e ultrapassagens são feitas com precisão.
Um ponto interessante do Bolt é que, pela alavanca do câmbio, o motorista pode acionar o modo “único pedal” na posição “L”, comum em elétricos. Com ele, basta tirar o pé do acelerador para o veículo iniciar o processo de frenagem que, inclusive, ajuda a regenerar as baterias. No início pode ser meio estranho, pois dependendo do tanto que você tira o pé, ele freia mais forte, mas acostuma rapidamente.
Carregamento e autonomia
O grande porém de um carro elétrico, além do preço, é o tempo de recarga. Com o Bolt não é diferente. Ao pegarmos o modelo para testar, as baterias estavam totalmente cheias e indicavam uma autonomia de 419 quilômetros.
Após 250 quilômetros rodados, elas apontavam 116, ou seja, uma totalidade de 367 quilômetros de autonomia, bem menos que a inicial. Mas o gasto de energia é como o de combustível, varia de acordo com o modo de conduzir o veículo.
Ao conectar o carregador no veículo, ele aponta quando as baterias estarão totalmente cheias. Mas um detalhe, não é nada rápido. Em um Wallbox, os carregadores rápidos daqueles encontrados em shoppings e que podem ser instalados em casa, são cerca de nove horas para carregar 100%, isso com as baterias praticamente zeradas.
Nos modelos super-rápidos, daqueles de rodovias, são necessárias pouco mais de duas horas para alcançar a carga total. Mas em cerca de 30 minutos, é possível ganhar 160 quilômetros de autonomia. Em uma tomada comum, é melhor nem tentar, são quase dois dias para recarregar totalmente.
A opinião do Diário Motor
Ao analisar o Bolt EV apenas como um veículo, sem levar em conta o fato dele ser elétrico, faltam muitos itens, principalmente pelo alto valor pedido. Alguns, como teto solar e ajustes elétricos nos bancos podem até ser supérfluos, mas o piloto automático adaptativo e os alertas de ponto cego fazem falta de verdade e deveriam estar presentes no modelo.
Como todo elétrico, o grande diferencial do Bolt é a direção, com acelerações potentes e seguras, sem falar na completa ausência de ruído, que até chega a incomodar na hora de “pisar fundo”, já que o carro acelera rapidamente sem emitir nenhum ronco. O tempo de recarga está dentro do padrão de outros modelos elétricos, até de mais caros. É um ponto que a indústria como um todo precisa resolver.
Além disso, tem a questão de ele “não poluir” o meio ambiente. Como qualquer meio de produção, fabricar um veículo gera poluição, seja ele elétrico ou não. E tem a questão da energia, no Brasil ela vem de matriz limpa, mas na maioria dos países, não. Ou seja, por aqui ele só não poluirá ao rodar, o que, de certa forma, já é alguma coisa.
O preço é algo a se levar em consideração também. O valor esbarra em SUV híbridos, que também contam com função elétrica, são mais completos e os queridinhos do momento. Se você realmente estiver querendo um carro elétrico, ele é uma boa escolha. Mas se não tiver essa preocupação, há opções melhores na faixa de preço. Pode valer a compra! Nota: 8,5.
Ficha técnica
Motor: elétrico
Potência máxima: 203cv
Torque máximo: 36,7kgfm
Transmissão: automática
Direção: elétrica
Suspensão: independente na dianteira e semi-independente na traseira
Freios: a disco nas quatro rodas
Porta-malas: 478 litros
Dimensões (A x L x C x EE): 1.595 x 1.765 x 4.165 x 2.600mm
Preço: R$ 274 mil