A GM do Brasil surpreendeu o mercado nesta quinta-feira (28) ao confirmar que os planos globais de eletrificação da matriz serão aplicados por aqui, provocando o fim da produção de carros a combustão no país até 2035.
Normalmente as políticas globais de mobilidade elétrica das grandes empresas são ajustadas para cada região, considerando limitações de investimento, linhas de montagem e até valor médio dos veículos novos. Por isso a surpresa da GM em oferecer só carros elétricos, que ainda têm valor elevado, no Brasil até 2035.
Outras empresas vêm buscando alternativas mais baratas e também sustentáveis para reduzir suas emissões em países desenvolvidos. No Brasil alguns dos caminhos analisados está o uso de hidrogênio a partir do etanol (Nissan), híbridos flex (Toyota) e até a volta de carros movidos apenas com etanol (FCA).
O Bolt é o único carro elétrico vendido pela GM no Brasil — Foto: Auto Esporte
Para se ter uma ideia do impacto da decisão, essa política implica que a GM busque alternativas elétricas para modelos que vão do compacto Onix até o enorme Trailblazer, passando pelo esportivo Camaro. Ou, ainda, uma opção mais drástica: encerrar a produção de veículos no Brasil, seguindo o caminho da Ford.
A GM não comentou sobre seus planos detalhados para o Brasil, mas é certo que a gama de veículos elétricos da Chevrolet por aqui deve crescer: atualmente a empresa oferece apenas o Bolt, por altos R$ 260.790.
Considerando que o hatch é o elétrico mais barato da GM também nos Estados Unidos, a melhor alternativa para oferecer um modelo eletrificado por um valor mais atraente seria montá-lo no Brasil — ou trazê-lo do México e Argentina, para evitar os 35% de imposto de importação.
Carros elétricos no Brasil nunca passaram da fase protótipo ou produção limitada — Foto: Auto Esporte
E este é o maior problema da GM por aqui. O Brasil nunca fabricou um veículo elétrico em série, tendo tido apenas experimentos pontuais que começaram com a Gurgel e culminaram na montagem de algumas unidades do Renault Twizy no Paraná. A produção nacional também exigiria investimentos pesados nas fábricas de São José dos Campos (SP), Gravataí (RS) e São Caetano do Sul (SP).
A cadeia de fornecedores seria outro problema, já que a maioria dos componentes do trem de força dos veículos elétricos é importada, incluindo a caríssima bateria de íon-lítio. Por conta dos valores envolvidos, a nacionalização dessas peças só seria possível em um trabalho conjunto com o governo, instituições de pesquisa e desenvolvimento, faculdades e empresas.
As baterias de carros elétricos chegam a custar 40% do preço do veículo — Foto: Divulgação
Mary Barra, CEO global da GM, já havia anunciado um investimento massivo de R$ 146 bilhões nos próximos cinco anos em veículos elétricos e autônomos. Não se sabe ainda, porém, quanto desse dinheiro será aplicado no Brasil.
Fim do Onix?
Uma má notícia para os brasileiros está nos poucos detalhes dos planos eletrificados da GM. Barra afirmou que a empresa irá produzir veículos elétricos com preço abaixo de 30 mil dólares até os 100 mil dólares. Deixando a conversão de lado, isso significa que haverá produtos mais baratos que o Bolt, mas não muito: nos EUA o elétrico custa US$ 36 mil.
Ou seja, mesmo nos Estados Unidos isso significa que a marca irá abrir mão do segmento de entrada, composto por uma gama que vai do Spark até o enorme Traverse, SUV posicionado acima do Equinox. Parte da explicação para isso pode ser emprestada do anúncio de reestruturação da Renault: fazer carros baratos dá menos lucro e exige um volume maior de produção.
A eletrificação dos modelos GM está mais avançada na China — Foto: Divulgação
Mesmo altamente nacionalizado, um hipotético Onix ou Spin elétricos seriam muito caros para serem lucrativos. Até mesmo o Tracker, terceiro SUV compacto mais vendido do Brasil em 2020, teria seu futuro posto em cheque. Ao subir de preço, o modelo passaria a disputar mercado com modelos maiores e mais refinados, como as versões híbridas do Jeep Compass e Volkswagen Tiguan.
O caminho mais provável para a GM no Brasil seria abandonar o segmento abaixo dos R$ 100 mil e focar em nichos e faixas superiores dos SUVs. A montagem local do sucessor do Equinox seria uma alternativa, caso a marca conseguisse encontrar mercado suficiente para o SUV elétrico na América Latina.
A Silverado terá uma versão elétrica, mas modelo custaria mais de meio milhão no Brasil — Foto: Divulgação
Menos claro é o futuro da Chevrolet S10. A GM até desenvolve uma picape elétrica, mas ela é baseada na enorme Silverado, que no Brasil disputaria o pequeno segmento da RAM 1500. Aplicar um trem de força elétrico na S10 demanda um delicado equilíbrio entre autonomia e capacidade de carga, já que as baterias de um carro podem pesar mais de 700 kg. Atualmente esse segmento tem apenas uma representante no Brasil, a JAC iEV330P. Focada para uso comercial, porém, a picape chinesa tem preço sugerido de altíssimos R$ 289.900.
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