Com preços entre R$ 69.990 e R$ 101.090, o Citroën C4 Cactus está no caminho certo para reerguer a PSA e aumentar as chances de se impor diante das grandes no segmento dos SUVs compactos. Nos anos 90, quando a marca firmou as suas atividades no mercado brasileiro — após a abertura das importações — e nos anos 2000, tecnologias inéditas foram tanto o motivo de grande admiração, quanto de afastar a clientela. E, nessa nova fase da empresa, os projetistas entenderam que o Brasil não é país para qualquer um. A partir disso e da tendência crescente dos SUVs, o desafio está lançado para o modelo.
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O Citroën C4 Cactus avaliado é da versão de topo Shine Pack 1.6 THP, na cor Preto Perla Nera, com teto, retrovisores e outros detalhes em branco. Com luzes diurnas de LED, Isofix, seis airbags, direção elétrica, ar-condicionado automático, sensor de chuva, central multimídia sensível ao toque com conectividade para celulares, controles eletrônicos de estabilidade e tração, seletor de terreno “Neve”, “Areia”, “Lama” e “Normal”, sistema de partida em rampa e monitoramento de pressão dos pneus, bancos de couro, alerta de colisão, sistema de frenagem automática, detector de fadiga, controle de cruzeiro adaptativo e leitor de faixa, vem equipado o bastante para a média do mercado.
O conjunto mecânico é praticamente o mesmo do irmão Peugeot 2008. A versão mais em conta deixa as concessionárias com motor 1.6 aspirado, de 16 válvulas, com 122 cv e 16,4 kgfm. O câmbio pode ser manual, ou automático de seis marchas da japonesa Aisin. A partir da versão Shine (que engloba o modelo do nosso teste), o motor é o conhecido 1.6 THP Flex, que também equipa o sedã C4 Lounge e, em outras variações, modelos da Mini e da BMW. Ele entrega 173 cv e 24,5 kgfm a 1.400 rpm, capazes de levar o SUV compacto de 0 a 100 km/h em 7,3 segundos e chegar aos 215 km/h. Vale lembrar que, em um futuro próximo, o C4 Cactus deverá sair de linha na Europa para aguardar um novo modelo híbrido.
Caiu na real, mas não perdeu a essência
A PSA viu que, no Brasil, não basta uma marca ser inovadora, pois ela tem que atender às demandas do mercado que se configura como emergente. Isso significa que, no mesmo patamar, estão as más condições das vias, eventuais serviços de manutenção ruins e por aí vai. Diante disso, o foco dos projetistas foi de conferir um caráter mais sóbrio ao carro, ao mesmo tempo que moderno (um tanto futurista até) e com personalidade.
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O carro conta com faróis afilados, posicionados acima de um conjunto óptico maior, situado no pára-choque. O rack de teto e as molduras nas laterais dão ares de aventureiro, enquanto que, na traseira, destaca-se o par de lanternas maiores. As escolhas por esses equipamentos têm sido relativamente comuns entre as fabricantes, que não querem abandonar a pretensão urbana dos SUVs da atualidade.
E essa pretensão urbana, que hibridiza com o lado mais aventureiro, é perceptível assim que se entra no carro. O ponto H (altura dos assentos) é mais alto que dos hatches, mas oferece boa acomodação, ergonomia e também aquela visão mais de cima. O acabamento é moderno e não abandona a personalidade da marca nos detalhes, como a faixa de tecido no painel, do lado do passageiro. Por outro lado, falta um pouco de espaço para três passageiros no banco de trás.
Migrando para os itens de conectividade, a central multimídia tem tela com boa resolução, mas poderia ser mais prática de seu usada no dia a dia. Por exemplo, se você está usando o Waze e quer regular o ar-condicionado, a tela sai totalmente da aba anterior. E para retornar, você precisa clicar novamente em todos as funções necessárias até estar de volta ao aplicativo. Seria muito mais fácil se houvesse a possibilidade de acessar cada recurso separadamente, ou pelo menos sem que fosse necessário tantos toques e comandos.
O cluster digital, apesar de bem apresentado, poderia ser mais preciso ao revelar as rotações do motor, que aumentam ou decrescem de 500 em 500 rpm. De todo o modo, fornece informações como consumo médio, consumo instantâneo, autonomia restante, entre outros, o que é informativo ao condutor.
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Ao volante, o SUV mostra a sua vocação. Além do bom isolamento acústico, o C4 Cactus THP contorna curvas rápido e equilibrado como um hatch, com um pouco menos de agilidade e respostas ao volante que um C3 (para usar um exemplo sem sair da marca), sem deixar de lado atributos de um SUV compacto no que diz respeito a altura do solo e ao conforto. Um pouco por esses dois últimos aspectos, o volante tende a ficar leve quando o controle de tração é desligado e o turbo se enche, com o pedal no assoalho. Logo, não subestime o acelerador enquanto estiver na zona de turbolag , pois logo em seguida ele acorda.
Um ponto que poderia ser melhor é o seu modo Sport. Com funcionamento conservador, as rotações do motor até que se mantêm isoladas do lag, mas não é o bastante para compensar a resposta lenta do câmbio. Precisaria ter um sistema mais rápido, ou algo como uma mudança no mapa de câmbio ao ativar o modo “S”.
O Eco, por sua vez, é muito bom para a proposta. Vai aumentando marcha sem parar, sem “matar” a fluidez e o fôlego do motor, ao mesmo tempo que garante uma melhor economia de combustível. Nos modos off-road , utiliza bem os controles de tração e estabilidade para evitar patinar tanto, mas não espere que seja possível uma condução tão esportiva nessas situações.
Conclusão
A fama da PSA se pautou fortemente tanto nos problemas decorrentes de tecnologias inovadoras que vieram entre os anos 90 e 2000, quanto na falta de cuidado com a durabilidade e o uso dos conjuntos mecânicos e eletrônicos à realidade brasileira. Por outro lado, o C4 Cactus não é como os seus antepassados.
Mesmo que nada na vida seja absolutamente perfeito, seu projeto é bem maduro, muitos de seus componentes foram aprovados por diversos engenheiros, de várias montadoras, o que se reflete na qualidade do carro. É bastante improvável que virá a dar algum problema fora do comum — como se observou em alguns componentes do passado — com o passar dos anos e bons kms de uso. A PSA tem o que precisa para estar de volta no mercado, e o Citroën C4 Cactus deve se colocar na linha de frente. Basta uma quebra de paradigmas do mercado.
Ficha técnica:
Citroën C4 Cactus Shine Pack 1.6 THP
Preço: a partir de R$ 101.090
Motor: 1.6, quatro cilindros, flex
Potência: 173 cv (E) / 166 cv (G) a 6.000 rpm
Torque: 24,5 kgfm a 1.400 rpm
Transmissão: Automático, seis marchas, tração dianteira
Suspensão: Independente, McPherson (dianteira) / eixo de torção (traseira)
Freios: Discos ventilados (dianteiros) / tambores (traseiros)
Pneus: 205/55 R17
Dimensões: 4,17 m (comprimento) / 1,71 m (largura) / 1,56 m (altura), 2,60 m (entre-eixos)
Tanque: 55 litros
Porta-malas: 320 litros
Consumo gasolina: 12,5 km/l (cidade) / 13,5 km/l (estrada)
0 a 100 km/h: 7,3 segundos
Velocidade máxima: 215 km/h