Johannes Roscheck, presidente e CEO da Audi do Brasil, disse à Live do Tempo desta quarta-feira (12) que o consumidor sempre vai gostar de sentir o carro antes fechar uma compra
Johannes Roscheck, presidente e CEO da Audi do Brasil, disse à Live do Tempo desta quarta-feira (12) que o consumidor sempre vai gostar de sentir o carro antes fechar uma compra e, por isso, as concessionárias vão continuar existindo, mesmo com o crescimento da vida digital no cotidiano das montadoras. Segundo ele, o mercado deve conviver com um sistema misto, no qual o cliente é atendido de forma remota num primeiro momento, mas que o fechamento do negócio deve se manter de forma presencial. Confira a entrevista.
A Audi tem uma fábrica no Brasil, a única na América Latina, foi instalada em São José dos Pinhais (PR), em 2015. Qual o efeito da pandemia na empresa no Brasil? Como estamos operando a fábrica junto com nossos colegas da Volkswagen, fizemos praticamente todas as ações juntos. Mandamos as pessoas para casa, paramos a produção até ter certeza de que seria seguro voltar. A gente passou o mesmo de outras montadoras, essa crise não conhece nomes, tinha esse efeito para todos. Paramos a produção praticamente no mundo inteiro, quase ao mesmo tempo e num patamar mais ou menos parecido, algo em torno de dois meses.
Qual era a produção da Audi no Brasil antes da pandemia e a expectativa para o ano? Ainda estamos com projeção para o ano de uma queda de 20%. O mercado caiu bem mais até agora, acima de 30%. A gente vê que o mercado voltou um pouco agora em julho. Vamos ver uma melhora leve em agosto e setembro. Estamos indo na direção certa. Parece que o mercado premium está se recuperando mais rápido. É muito importante para nós. É muito importante manter uma certa flexibilidade porque hoje ninguém pode dizer como o mercado vai reagir nos próximos meses. Temos impacto para o consumidor e para nós porque a gente na produção não pode tomar decisões de um dia para o outro. A gente precisa de planejar com mais tempo. Depende de muitos fatores. Um deles com certeza é como essa pandemia vai seguir, tendo impacto ou não nas nossas vidas. Estamos com uma perspectiva positiva, estamos recuperando um pouco o mercado, mas essa queda de mais ou menos 20% com certeza vai ser uma realidade ao final deste ano.
Existe expectativa de prosseguir a produção do A3 ou seria mais adequado a escolha pelo SUV Q3, que foi lançado em fevereiro e que é o segmento que mais cresce? Em que o programa Rota 2030 pode contribuir para que a fábrica no Paraná se mantenha em atividade? Estamos mantendo os nossos planejamentos por enquanto. Significa que estamos estudando a produção dos dois modelos Q3 e A3. Mas é uma tendência no nosso mercado, principalmente o SUV pequeno, está crescendo cada vez mais. Depois do sucesso da primeira geração, a Q3, que era o modelo mais vendido nesse segmento no Brasil, a gente está estudando com muito carinho a produção da Q3 nova que lançamos agora no início deste ano. A situação atualmente oferece muitos fatores que influenciam nas decisões. O segmento em si do mercao premium no Brasil é muito pequeno, são mais ou menos 2%. A legislação no Brasil tem um certo impacto. A produção local sempre era interessante quando as taxas de importação eram altas. Quando a fábrica foi construída, e, depois, na Inovar-Auto, as taxas de importação praticamente foram duplicadas. Com a condição de ter uma fábrica local, essa situação ia ser anulada, e a gente conseguiu a importação com as taxas normais. Tudo isso foram medidas a curto prazo. A nossa conversa com todas as entidades que têm uma certa influência no governo para definir as codições, também dentro de uma Rota 2030, foi nesse sentido de que a gente precisa ter uma certeza para o longo prazo. A gente não pode planejar para três ou quatro anos porque o ciclo do produto nosso, e de praticamente toda a indústria de carros, é algo em torno de cinco a sete anos. A gente precisa ter uma certa certeza de que as regras não vão ser mudadas no meio do jogo. A Rota 2030 tem exatamente esse objetivo de criar um patamar até 2030 que permita à indústria ter condições e premissas para planejamento um pouco mais de longo prazo, que é necessário. A Rota 2030 tinha esse objetivo. Muitas definições ainda estão faltando, quando foi decidido a primeira rodada da Rota 2030, em final de 2018, era claro que muitas condições ainda precisavam ser definidas pelo governo. Entendo perfeitamente que o governo e todo o Brasil têm outras prioridades, mas, de fato, para a nossa indústria, sobretudo para o mercado premium, faltam muitas muitas definições. A gente está observando como o mercado está se desenvolvendo e o que vai ser feito agora para combater os efeitos da pandemia. São muitos fatores em conjunto que fazem a nossa decisão ser concreta.
Isso colocaria em risco uma produção nacional da Audi? Há o risco de a Audi deixar o Brasil? Nossa intenção com certeza é manter a produção. Nós acreditamos no mercado brasileiro, queremos manter o mercado com um dos pilares fundamentais mundialmente. Não vejo como deixar a produção como uma opção. Estou dizendo que a forma como a gente precisa criar esse projeto de uma produção nova depende muito dessas definições.
Qual é o índice de nacionalização das peças atualmente dos carros produzidos pela Audi no Brasil? Nossa produção atual é mais ou menos a metade comprada localmente. Isso também foi uma das regras do Inovar-Auto, e a gente cumpriu exatamente conforme os requerimentos da lei.
Isso pode melhorar ou é o máximo que Audi consegue no Brasil? Para o projeto atual da produção, por exemplo, da Audi A3, não faz sentido aumentar a nacionalização. Isso também vale para os fonecedores. Significa que são investimentos a longo prazo, vale para a montadora e para o fornecedor. Eles também precisam ter uma certa certeza de que os investimentos que fazem têm um certo retorno. O mercado era de crescimento, e a crise se 2014, 2015, 2016, com certeza não contribuiu para manter esse volume que inicialmente foi planejado. Tudo isso tem um certo efeito, positivo ou negativo, tanto para nós quanto para os fonecedores locais e internacionais.
E-Tron é uma SUV 100% elétrica. Fale sobre autonomia, desempenho, potência e o que a Audi tem feito para viabilizar a infraestrutura para o reabastecimento das baterias. Nosso primeiro modelo 100% elétrico é um carro fantástico. Ele tem uma potência de 400 CV e tem uma bateria com 95 quilowatts/hora, que representa mais ou menos uma autonomia acima de 400 Km. Isso na maioria dos casos vai ser suficiente para rodar com veículo com 95% de condições. Mas todas as conversas que temos com pessoas que atuam no mercado elétrico, a gente aprendeu que na maioria dos mercados – e no Brasil não é diferente -, as pessoas têm essa dúvida se a vida diária com modelo elétrico talvez poderia significar alguma restrição. A nossa meta principal é tirar esse medo das pessoas. O primeiro caminho é que nós decidimos investir em carregador público. Para viajar para longas distâncias, a gente está com um projeto junto com nossos colegas da Volkswagen e da Porsche, e com vários parceiros, para criar vários corredores, desde Vitória para Florianópolis e de São para o interior. Isso é um programa para os próximos três anos. Justamente para oferecer carregadores de altíssima potência nos caminhos para as pessoas terem certeza de que sempre terá carregadores e que podem viajar para longa distância. Nosso veículo foi o primeiro a oferecer carga super rápida com 150 quilowatts. Permite carregar o veículo mais ou menos 80% em apenas 30 minutos. Nosso segundo pilar é não ter restrições para viajar com nosso veículo. O carro é SUV, Audi 100%, extremamente grande, cômodo, espaçoso e além disso oferece esportividade. Carro elétrico está vindo para ficar. Temos outros modelos para vir. Daqui a um mês, a gente vai lançar o E-Tron Sportback, que é uma versão com uma carroceria mais esportiva, e no ano vem vamos trazer o E-Tron GT, superesportivo elétrico da nossa marca, também para o mercado brasileiro. Serão 30 veículos eletrificados nos próximos anos para oferecer uma vasta gama de carros, sendo 100% elétricos ou híbridos. São coisas que já existem hoje que são símbolos da tecnolgia da nossa marca e que virão para o mercado barsileiro.
Vocês investiram cerca de R$ 10 milhões para instalação de 200 carregadores. Como está o andamento, foi afetado nesse ano, já concluíram a instalação, há previsão para Minas Gerais? Lógico. Nós temos uma concessionária super ativa da Audi em Belo Horizonte, temos planos para instalar os carregadores, estão em negociação. O efeito foi mínimo na pamdemia. De vez em quando nós tínhamos dificuldade de entrar em contato com a adminsitração de uma empresa, um shopping, pois estavam fechados, mas foi em um mês e meio. A gente tinha avanços mais devagar, mas agora estamos a todo vapor, e a gente tentará recuperar essas seis semanas nos próximos meses. Está tudo indo muito bem.
E nos corredores em direção a Minas e ao Nordeste? Será na segunda etapa. Estamos indo de São Paulo na direção de Belo Horizonte, a instalação também será no corredor Campinas-Uberlândia-Belo Horizonte.
Há uma previsão? Provavelmente no início do ano que vem a gente pode lançar.
O que Minas representa de mercado para Audi? Minas sempre está entre os os primeiros três lugares para nossa marca. Temos uma representação muito forte em Belo Horizonte. Estamos sempre estudando formas de crescer e de melhorar nossas serviços. Belo Horizonte é um dos mercados principais no segmento premium.
Você enxerga no etanol, mesmo com a chegada dos carros elétricos, um futuro melhor para esse combustível e para o Brasil? Tem previsão de produzir mais carros Audi movidos a etanol? Tudo isso faz parte do nosso planejamento. Adaptar um veículo para combustível flex requer um investimento alto. A gente precisa também ver o volume dos nossos veículos, nossa venda, se faz sentido a adaptação a um combustível flex. O etanol já é 25% em cada litro de gasolina normal. Com certeza, é uma vantagem muito grande no Brasil. Nenhum país tem isso. A gente precisa ver também a idade média do carro no Brasil, que é muito alta. Tirando esse efeito, o veículo novo, das últimas gerações, andando com etanol, com certeza, é extremamente limpo em comparação com muitos outros mercados no mundo. Em combinação com o veículo elétrico, eu acho que a frota nova no Brasil pode ser uma das mais limpas no mundo inteiro. Sou fã do etanol. Acho que poderia exportar mais para mercados para que não têm.
Falta explorar mais o mercado brasileiro e a exportação? Exatamente, acho que tem espaço para explorar mais.
Até 2025, a Audi pretende ter 30 modelos elétricos mundialmente. Para os motores híbridos, o que tem dizer? O motor híbrido tem algumas vantagens e muitas desvantabgens. Nós apostamos no veículo 100% elétrico em primeiro lugar. mas tem lugares em que o veículo elétrico 100% chega a ser uma solução complicada, sobretudo nos lugares mais distantes. A gente está desenvolvendo veículos híbridos para vários mercados no mundo e a gente vai trazê-los também para o mercado brasileiro, para cobrir essas áreas onde o 100% elétrico ainda está distante para ser uma opção boa e praticável.
Essa questão do carro elétrico não se resume ao produto, o centro técnico de vocês é 100% abastecido por módulos fotovoltaicos, e vocês têm como meta ser carbono neutro até 2050. Como é essa interação entre a filosofia para a empresa em relação com o produto? Eu tenho certeza e convicção absoluta que a gente precisa contribuir para deixar um mundo melhor para nossos filhos. Parte disso é responsabilidade por tudo que nós fazemos. Isso significa que precisamos olhar para a produção de um veículo, não a fábrica em si, mas toda a cadeia, desde a produção dos materiais até o fim da vida de um veículo. A gente tem como meta criar um sistema e chegar a ser completamente neutro em CO² até 2050. Tudo isso que falei precisa ser integrado. Não vale apenas olhar o veículo em si ou a fábrica, precisa olhar todas as operações da nossa marca como uma só e analisar passo a passo as possiblidades de ser neutro em CO² e usar cada vez mais energias renováveis. Para nós, foi um passo simbólico e importante usar energia solar em nosso centro técnico em São Paulo. A energia solar, sobretiudo no Brasil, tem de sobra. Com essas duas formas, também a gente já está em nível bastante bom, mas falta dar esses pequenos passos, que a gente definiu aqui no Brasil e no mundo inteiro. A fábrica onde os modelos elétricos da Audi estão sendo construídos na Bélgica é a primei no grupo 100% neutra em CO². Ela usa só energia renovável. A fábrica na Hungria está coberta por painéis solares. A gente está gerando energia nas épocas em que a gente não precisa delas na Hubgria, São passos importantes para contribuir para fazer o mundo melhor. A gente precisa sempre olhar o todo.
A Audi pensa em investir em uma fazenda solar? Temos uma fabrica solar em São Paulo. Só o telhado do nosso centro técnico não é suficiente para ser neutro em energia elétrica. Estamos fazendo isso. Temos uma concessionária em Santos que seguiu nosso exemplo e já atua de forma neutra em CO² usando energia solar. Acho que vamos ver uma tendência no mundo inteiro e no Brasil que a energia renovável, a sustentabilidade tem cada vez mais importância. Acho isso também como um efeito da pandemia, onde as pessoas tinham tempo de analisar, pensar e ver as possibilidades de criar uma coisa melhor. Investimento em painel solar ainda é alto, mas tem retorno. Cada situação é uma situação. Nosso retorno de investimento se justifica e vamos seguir esse caminho.
Como vê o tamanho da rede de concessinárias em relação ao espaço físico e as vendas digitais? Essa discussão é um dos efeitos da pandemia. Vemos algumas tendências se acelerando. E uma delas é que o cliente está cada vez mais sendo informado pela internet. O primeiro contato com a concessionária, que era o principal no passado, agora não é mais. O cliente precisa, sobretudo do mercado premium, de um contato com uma pessoa física. Signficia que as pesaos estão se informando antes pela internet, mas a concessionária não perde a importância. Vemos isso no mundo inteiro. Ela muda o papel um pouco. Não faz mais o primeiro contato com o cliente, não é mais como anos atrás. O cliente chega muito bem informado e quer sentir o veículo. Nós lançamos o E-Tron através de um streamming. A gente tem flexibilidade pela internet, pela parte digital que não tinha antes. A gente lançou o modelo em abril, no pico da pandemia, então a gente estava em dúvida em como fazer. Fomos o primeiro a fazer isso. Atendemos pessoas que não podem participar de uma apresentação física por vários motivos. A gente criou uma coisa nova e servil como exemplo de como a internet tem poder de informar, ficar perto das pessoas. É o primeiro contato que funcionou muito bem. A renovação inteira dos novos modelos RS e R nas últimas semanas, que a gente trouxe da Alemanha, foi a mesma coisa. De forma exclusiva, com medidas de segurança, higienizando os veículos após cada visita de clientes, que foram tratados com muito cuidado. Cada cliente recebeu um tratamento exclusivo e funcionou muito bem. As pessoas podem fazer um primeiro contato pela internet, mas a aquisição final, as pessoas precisam ver o veículo e conversar com o vendedor. Vamos ter uma situação diferente. A concessionária tem a função de mostrar o veículo para o cliente, falar sobre as condições do negócio. Não vejo que isso vai mudar no segmento premium nos próximos anos. Uma loja não precisa ter o tamanho que tinha até agora, quando formos construir novas, vamos pensar em combinar essa parte digital com a parte presencial. Ver e sentir o carrro não vai mudar.
A A3 Sedã dará adeus às linhas da fábrica no Brasil e o Audi Q3 é o candidato a ser produzido no país? Muito provavelmente sim. Esse dois veículos são nossos candidatos a seguirem na produção.
Nessa estratégia digital vocês estão buscando um público mais jovem? Para ter um cliente feliz, não pode começar cedo demais. Ter um cliente fiel à marca é muito importante. Criar um sonho para uma pessoa é muito importante. Temos fãs da marca muito jovens, e a gente quer entrar em contato com essas pessoas. Observamos também que pessoas de todas as idades estão entrando nas redes sociais. Não existe mais essa limitação de que rede social é só para os jovens. A gente apresenou nossos veículos RS e R na internet e deu muito certo. Não podemos nos limitar a coisas tradicionais, a gente precisa sempre procurar novos caminhos, novas formas para supreender as pessoas de forma positiva e sempre estar perto dos clientes, mesmo nessa situação de separação.
Você se adaptou bem ao home office. Como vai ser a rotina dos executivos após a pandemia? Acho que muitas coisas que estamos vivendo agora não voltar 100%. Significa que todos nós vamos aprender uma lição muito grande de que trabalhar em times, cada um na sua casa, não significa que as coisas não funcionem e que os resultaos não virão. E nem que as reuniões não são produtivas. Descobrimos nossa parte produtiva em casa, tem vantagens e desvantagens. Trabalho em casa não termina nunca, não tem horário, dia da semana, mas, por outro, foi um prazer não ver minha esposa só duas vezes no dia. Sinceramente, sinto muita falta das reuniões com os colegas do trabalho, mas agora estamos vivendo o extremo. Estamos em home office desde meados de março. Vamos ter uma boa parte das pessoas seguindo em casa e outra voltando ao escritório. Sobre as viagens para discutir coisas mais complicadas, profundas, uma reunião em pessoa ajuda, Vamos ter uma vida um pouco mista. Vamos viajar menos, ter menos pessoas no escritório e vamos achar uma forma de aumentar nossa produtividade. Quero agradecer a todos nossos funcionários e as pessoas que permitiram que a gente seguisse com o ritmo alto no nosso ttrabalho, com muitos desafios. Até agora deu tudo certo. Tenho um time sensacional.