Embora pareça artigo de luxo, o custo do carro elétrico no Brasil pode fazer sentido com o preço atual dos combustíveis; entenda se vale a pena optar por esta categoria
Com o preço da gasolina em disparada, muitos brasileiros que usam carro diariamente procuram alternativas para fugir dos índices de aumento que já passam de 45%, só em 2021. Como em muitos outros casos, a saída pode estar na inovação, que repousa no crescente mercado de moto e carro elétrico no Brasil. Mas a dúvida que surge é: vale a pena?
A resposta para esta pergunta é um pouco difícil, já que o Brasil não tem um lugar privilegiado quando se fala em tecnologia. De acordo com o Índice Global de Inovação, o país figura na posição número 62 no ranking, tendo avançado apenas quatro posições desde o último levantamento.
Esse cenário se reproduz no caso dos carros elétricos, com um lento avanço na questão da organização das cidades brasileiras para receber e abastecer esses veículos. No entanto, em grandes cidades, onde já há uma estrutura mínima para a categoria, ela pode ser um atrativo tanto em questão financeira como em sustentabilidade.
Em uma viagem interestadual, entre São Paulo e Rio de Janeiro, por exemplo, os motoristas podem encontrar postos de abastecimento que já contam com unidades de carregamento elétrico, frutos de uma parceria entre Electric Mobility Brasil, EDP e BMW. Os eletro postos estão localizadas em intervalos médios de 100 km entre eles, assegurando total autonomia aos veículos.
Já na zona urbana, um projeto da Enel X, da Volvo e da Estapar está implantando cerca de 250 estações de recarga em diversas cidades brasileiras. Além de São Paulo, os municípios do Rio de Janeiro (RJ), Belo Horizonte (MG), Curitiba (PR), Aracaju (SE), Recife (PE), Salvador (BA), Brasília (DF), Campinas (SP) e Fortaleza (CE) também serão beneficiados.
Mas o crescimento da malha de carregamento é o principal fator? Segundo especialistas, há outras questões que devem ser consideradas na hora de se trocar o tipo de veículo automotivo.
Como está o mercado de moto e carro elétrico no Brasil?
De acordo com dados da consultoria sueca EV-Volumes, o ano de 2020, mesmo em pandemia, foi bem positivo para a indústria de carros elétricos. Ao todo, foram mais de 3 milhões de unidades vendidas em todo o mundo, um número 43% superior ao registrado em 2019.
O principal mercado consumidor desta categoria é o europeu, que vendeu 1,3 milhão de exemplares durante o ano passado. A China, por sua vez, é responsável por outros 1,3 milhão, em um movimento de mercado que já era visto nos últimos anos.
O Brasil, porém, nem sequer aparece neste ranking mundial. Por aqui, essa aferição fica por conta da Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE), que, em relatório, mostrou que 2020 também foi o melhor ano da categoria no país. Mesmo passando longe dos números estrangeiros, as vendas foram 66,5% maiores que em 2019.
Em todo o ano, foram vendidas 19.745 unidades de carro elétrico no Brasil, com destaque para o mês de dezembro, responsável por 10% das vendas anuais. Com esse saldo, o país terminou 2020 com uma malha de 42.269 eletrificados.
Para Adalberto Maluf, presidente da ABVE, embora ainda estejam distantes da participação expressiva no número total, os veículos eletrificados brasileiros estão mostrando o seu potencial no país.
Nesses tempos de Covid-19, o consumidor brasileiro fez uma aposta clara nos veículos não poluentes e sustentáveis. Optou por proteger a sua saúde e a saúde da sociedade.
Adalberto Maluf
Quais são os veículos disponíveis no país?
Já são vendidos diversas motos e carros elétricos no país, das mais variadas montadoras. Os preços variam conforme a potência, o consumo de energia elétrica, a performance e a autonomia dos veículos. Abaixo você confere os modelos e seus respectivos preços em solo nacional.
Carros
Motos
E os carros híbridos, como são?
Um meio-termo na linha automotiva são os carros híbridos. Esse modelo se difere por trazer dois motores – um à combustão e outro à eletricidade – que se alternam para aproveitar o melhor das duas possibilidades. Além disso, os carros são alimentados por uma bateria que garante a sua autonomia, conforme a quilometragem informada pelo fabricante.
Atualmente, são fabricadas três versões de modelos híbridos: híbrido moderado (MHEV), híbrido plug-in (PHEV) e híbrido-elétrico regular (HEV). A principal diferença desses carros está no funcionamento do motor, tanto na partida quanto no desempenho, e no uso da bateria durante a viagem. É ela, inclusive, que impacta no preço final desta categoria.
Algumas marcas, como a Lexus, oferecem veículos com baterias auto recarregáveis que trabalham nas acelerações e desacelerações, armazenando energia para uso posterior. Além disso, essa tecnologia otimiza o gasto de combustível e reduz a emissão de poluentes.
Afinal, vale a pena ter carro elétrico no Brasil?
Os brasileiros preferem transportes mais sustentáveis, conforme mostrou um levantamento do Instituto Clima e Sociedade. A maioria da população teria um carro elétrico nos próximos anos, caso tivesse dinheiro. O grande impeditivo é o preço de compra e manutenção destes veículos, que está bem aquém do rendimento médio.
Mas uma calculadora da NeoCharge pode mostrar se vale a pena trocar um veículo à combustão por um elétrico, de acordo com o padrão de cada usuário. A conta considera o uso anual do veículo.
O Showmetech fez uma simulação, com base nos dados da cidade de São Paulo e no padrão de consumo de um motorista paulistano que usa o veículo para trabalhar diariamente, a 5 km de sua casa.
- Distância percorrida por ano em km: 22 (dias úteis) x 10 km (5 por viagem) x 12 (meses) = 2.640 km
- Consumo médio do carro comum: 10 km/L
- Preço do combustível: R$ 5,15 (gasolina, segundo dados da ANP para a cidade de São Paulo, em 06/04/2021)
- Consumo médio do carro elétrico: 10 kWh para 100 km (dados do JAC iEV20)
- Preço da energia: R$ 0,80 (valor comercial médio divulgado pela Enel para a cidade de São Paulo)
Obviamente, esses preços podem variar conforme a região do país, mas eles retratam que os modelos híbrido ou elétrico podem ser ótimas opções quando se trata de custo-benefício anual.
Além disso, por não emitirem CO², alguns estados brasileiros isentam os donos do pagamento de IPVA (Imposto sobre Propriedades de Veículos Automotores), que pode chegar a 4% do valor de avaliação do carro. No caso dos motores híbridos, a redução pode ser de 50%, como acontece no estado de São Paulo.
O custo anual de um eletrificado ou híbrido, portanto, fica ainda mais atrativo que o de um térmico.
Para além das grandes capitais
Como a maioria das cidades não tem estrutura para o abastecimento destes veículos, o carregamento dele pode ser feito antecipadamente ainda em casa. Isso pode impactar negativamente no uso do automóvel, cuja autonomia vai depender do restante da bateria, principalmente no caso das motos.
A bateria de um carro elétrico no Brasil pode ser recarregada em tomadas de 110 e 220 volts, disponíveis em todo o país, e pode levar até 22 horas para a conclusão, conforme informam as montadoras.
Para quem mora em prédio, porém, essa recarga pode ser ainda mais difícil, já que nem sempre há uma tomada disponível na área comum do condomínio ou ela não pode ser utilizada para fins pessoais.
Mas os motoristas não precisam se preocupar com o impacto que a recarga pode trazer à rede elétrica residencial. Um estudo do Laboratório de Mobilidade Elétrica, da CPFL Energia com o CPqD (Centro de Pesquisa e Desenvolvimento em Telecomunicações), em Campinas/SP, verificou esses reflexos e constatou serem quase nulos.
Estimamos que a expansão dos modelos elétricos teria impacto limitado na demanda de energia. Nossas projeções iniciais apontam que o uso dessa tecnologia ampliaria o consumo de energia entre 0,6% e 1,7% no Sistema Interligado Nacional (SIN) em 2030, quando outras previsões indicam que a frota de elétricos no país poderá alcançar entre 5 e 13 milhões de unidades.
Danilo do Nascimento Leite, engenheiro eletricista e coordenador do Programa de Mobilidade Elétrica da CPFL Energia
Aplicativo permite localizar estações de recarga
Alguns aplicativos oferecem o serviço de busca de eletro postos, como o Tupinambá Energia. Disponível para Android e iOS, ele já traz 400 estações cadastradas e traça rotas até a unidade de recarga mais próxima.
Transporte rodoviário elétrico já é realidade
No final do ano passado, o grupo Águia Branca anunciou o primeiro ônibus elétrico para uso rodoviário no país. Trata-se de um projeto-piloto que envolve quatro empresas, com duração de 18 meses e investimento de R$ 6,6 milhões.
A carroceria deste primeiro veículo foi fabricada pela Marcopolo e o chassi pela BYD, com quatro estações de recarga que operam de forma integrada por meio de um sistema de gerenciamento.
O ônibus elétrico tem potência de 410 cv, autonomia de 350 km e as cargas são concluídas em até 4 horas. Neste primeiro momento, ele vai realizar viagens no estado do Espírito Santo.
Segundo estimativas, o custo operacional deste veículo pode ser até 70% menor que o de um ônibus convencional, movido a diesel. Isso porque, além do combustível, o ônibus elétrico traz 300 peças, enquanto o ônibus a diesel tem cerca de 2 mil.
Como não emite gases nocivos à saúde ou ao meio ambiente, o ônibus elétrico tem um ciclo de vida sustentável, com alto potencial para contribuir para a redução das emissões locais e atmosféricas.
Kaumer Chieppe, CEO do grupo Águia Branca