O desafio é gigante para cada uma das fabricantes, e já começa no convencimento dos interessados em gastar muito dinheiro por meros subcompactos que não oferecem equipamentos, segurança e versatilidade como um carro a combustão desse preço.

Por outro lado, são amigos do meio ambiente e vão fazer você rir ao olhar um posto de gasolina. Se essa hora chegou, aqui vai tudo (e mais um pouco) do que você precisa saber sobre cada um dos três compactos.

Veterano do trio, o JAC E-JS1 foi lançado em julho do ano passado por R$ 149.900 e manteve o posto de carro elétrico mais barato do Brasil durante quase um ano. Atualmente, é o mais caro deles, partindo de R$ 159.990. E o carrinho de nome difícil é o primeiro produto da JAC feito em parceria com a Volkswagen por meio da Si Hao, joint venture criada pelas duas fabricantes.

Sua plataforma é a mesma dos JAC iEV20 e J2, mas ele passa a impressão de ser um “falso pequeno”. São 3,65 metros de comprimento, 1,67 m de largura, 1,49 m de altura e 2,39 m de entre-eixos. Este último número, que revela como é o espaço para quem vai dentro do carro, me surpreendeu, na medida do possível.

A suspensão da JAC traz o melhor ajuste para enfrentar o asfalto ruim das cidades — Foto: Renato Durães

Sentado no banco do motorista, que tem ajustes manuais, nem precisei levar o assento para trás no trilho até o máximo e já encontrei uma boa posição de dirigir. Lembrando que tenho 1,87 m.

O desconforto fica por conta do volante, que tem o raio bem grande e fica estranho visualmente dentro de um carro tão compacto e com linhas delicadas no painel — de plástico, cheio de texturas e cores. Porém, o incômodo não é só visual: o enorme volante também atrapalha na hora de dirigir, pois em muitos momentos bate no joelho durante algumas manobras.

Com o kit o preço vai para R$ 174.900 — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Em relação ao espaço no banco traseiro, é difícil imaginar alguém que tenha mais de 1,60 m viajando com conforto ali.

O banco traseiro do JAC E-JS1 só é bom para pessoas de baixa estatura — Foto: Renato Durães

O seletor de marchas fica na haste direita atrás do volante, como nos carros da Mercedes-Benz, portanto é preciso se familiarizar para não mudar a marcha ao tentar acionar o limpador de para-brisa. O motor entrega 62 cv e 15,3 kgfm de forma instantânea, como qualquer carro elétrico.

Os números são humildes, mas o pequenino é bem esperto, principalmente porque pesa 1.180 kg, o que é pouco para um carro elétrico, mesmo sendo o mais pesado do trio deste comparativo. O banco tem posição elevada, parecido com o de um SUV, e é muito macio, mas isso só é bom a curto prazo. Depois de uns 40 minutos dirigindo é inevitável que o seu corpo “afunde” no assento, deixando sua postura incorreta e podendo causar uma indesejável dor nas costas.

JAC E-JS1 tem a cabine mais colorida dos três — Foto: Renato Durães

O “ajuste Volkswagen” é sentido na boa dinâmica de condução, com respostas precisas da direção, e na ótima suspensão, que é valente para enfrentar o péssimo asfalto de São Paulo e coloca o JAC no posto de melhor e mais confortável suspensão dentre os avaliados.

A marca de zero a 100 km/h e feita em 10,7 segundos, de acordo com a JAC, e a velocidade máxima é limitada a 110 km/h. Ressalta-se aqui que a proposta não é desempenho, mas sim eficiência. Falando nisso, a autonomia divulgada pela fabricante é de 302 km no ciclo NEDC ou aproximadamente 260 km no WLTP, medição mais rigorosa e usada como padrão internacional.

A versão testada traz o pacote EXT, que traz suspensão 50 mm mais alta, pneus de uso misto, rack de teto e faixa lateral decorativa — Foto: Renato Durães

A lista de equipamentos de série traz central multimídia com tela de 10,25 polegadas — sem conectividade com Apple CarPlay e Android Auto —, câmera de ré, freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold, direção elétrica, controles de tração e de estabilidade, chave presencial com partida por botão, faróis de LED, ar-condicionado digital e controle de cruzeiro.

Com o kit, opcional o preço vai para R$ 174.900 — Foto: Renato Durães

O JAC E-JS1 cumpre bem seu papel urbano no dia a dia e chega a quase empatar com o Kwid, mas o fator crucial que o deixa com a medalha de bronze é a diferença de preço: em relação ao Chery iCar, de R$ 10 mil; já em comparação ao Renault, atinge R$ 13 mil.

2º lugar: Renault Kwid E-Tech

O Kwid E-Tech é o carro mais popular dos três, em três sentidos. É o mais conhecido pelo público, é o mais simples em questão de acabamento e é o mais barato: R$ 146.990. As medidas são as mesmas do modelo a combustão: 3,73 metros de comprimento, 1,77 m de largura, 1,50 m de altura, 2,42 m de entre–eixos e porta-malas de 290 litros.

Essas dimensões colocam o francês como o maior do comparativo. O motor também é o mais potente, com 65 cv, mas o torque de 11,4 kgfm é menor que o dos rivais.

O logotipo da Renault na grade tem acionamento elétrico para acessar a tomada do carregador — Foto: Renato Durãs

Por fora, o design do elétrico é praticamente igual ao do Kwid reestilizado em janeiro deste ano . O que muda é a grade frontal fechada e com um acionamento elétrico para levantar a parte central — onde fica o logotipo da Renault — para acessar o conector do carregador. Nas laterais, as rodas aro 14 têm quatro parafusos, e não três como o Kwid térmico. Já na traseira o desenho das lanternas têm alguns detalhes diferentes, os refletores são verticais e o para-choque muda muito pouco.

O interior, feito só de plástico, traz botões do ar-condicionado simples e, ao contrário dos rivais, que possuem freio de estacionamento eletrônico e partida por botão, o Kwid E-Tech tem o freio de estacionamento manual e a chave é do tipo canivete.

Renault Kwid E-Tech tem o interior bem simples e com muito plástico — Foto: Renato Durães

Para o motorista, o espaço para as pernas é o melhor dos três. Entretanto, não há ajuste de altura do banco e a regulagem manual de inclinação fica do lado esquerdo, sobrando um espaço mínimo entre a lateral do assento e a porta para você colocar sua mão e fazer o ajuste desejado. No banco traseiro, o espaço é melhor do que o do JAC, mas continua extremamente reduzido para um adulto.

Pontos onde há maior corrente elétrica são sinalizados em laranja fluorescente — Foto: Renato Durães

E o que a Renault traz de itens de série para compensar esse interior de carro popular em um modelo de quase R$ 150 mil? Controles de tração e de estabilidade, seis airbags, assistente de partida em rampas, conectividade com Apple CarPlay e Android Auto sem necessidade de cabo, câmera de ré e sensor de estacionamento traseiro.

Com tudo ajustado, giro a chave canivete e o silêncio permanece a bordo, sem a vibração típica do motor de três cilindros 1.0 do Kwid a combustão. O “Ready” no painel de instrumentos digital com tela de 7 polegadas indica que o carro está pronto para sair. Aciono o modo D (Drive) no seletor giratório do console central e lá vou eu.

Renault Kwid E-Tech tem o melhor espaço dos três para as pernas de quem vai no banco traseiro — Foto: Renato Durães/Autoesporte

O pequenino continua com posição elevada de dirigir, tem uma direção leve e precisa e bom fôlego nas arrancadas para sair da inércia e rodar na cidade. O desconforto fica a cargo da suspensão rígida, que dá muita batida seca e sacoleja quem vai na cabine. O torque instantâneo dos carros elétricos exige cuidado para não perder a aderência com o solo, e no Kwid eu senti bastante isso.

A aceleração de zero a 100 km/h é feita em longos 14,6 segundos, mas a arrancada até os 50 km/h é muito rápida (4,1 s). É depois disso que ele perde força. Então, vai uma dica: tome cuidado com o pé pesado.

Renault Kwid E-Tech também tem o maior porta-malas dos três — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Uma característica muito boa do Kwid é o grau de regeneração da bateria no modo Eco. Quando acionado esse modo, a potência fica em 45 cv e a perda de força é muito evidente. No entanto, o grau de energia regenerada na desaceleração é ótimo, fazendo com o que os 298 km de autonomia no ciclo urbano sejam bem duradouros. É importante dizer que o Kwid é o carro mais leve de todos, com 977 kg.

Renault Kwid E-Tech tem a suspensão bem rígida — Foto: Renato Durães/Autoesporte

O franco-indiano ganha dos concorrentes em espaço e tem suas virtudes, todavia é muito simples para um carro de R$ 146.990. Por isso, a medalha de prata está de bom tamanho.

1º lugar: Caoa Chery iCar

A medalha de ouro vai para o novato iCar, de R$ 149.990, mas pode chamá-lo de microcarro. São apenas 3,20 metros de comprimento, 1,67 m de largura, 1,59 m de altura e 2,15 m de distância entre-eixos. As medidas são reduzidas, mas a autonomia é grande: 282 km.

O motor entrega 61 cv e 15,3 kgfm, exatamente os mesmos números do JAC. A diferença é que o iCar pesa 995 kg, ou seja, quase 200 kg a menos.

O iCar é o menor de todos, mas um dos mais divertidos de guiar, além de caber em qualquer vaga na rua — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Aqui vai um detalhe curioso: enquanto a maioria dos carros de luxo usa fibra de carbono para reduzir o peso, o iCar utiliza plástico. É isso mesmo, plástico. Sua estrutura é quase toda feita de alumínio, mas as portas, a tampa do porta-malas e até o capô são de plástico polímero.

Se você acionar a abertura do capô a tampa desencaixa do local e você pode remover a peça com a própria mão, porque é leve. E encaixar de volta é bem prático.

O capô — de plástico — pode ser removido pelo próprio motorista — Foto: Renato Durães/Autoesporte

De acordo com a fabricante, o iCar pesa 180 kg a menos do que pesaria se fosse feito com estamparia de aço. Carros como BMW iX e M3, por exemplo, também usam reforços de polímero nas portas e no para-lama.

Caoa Chery iCar é o único com materiais sofisticados no interior — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Partindo para dentro do iCar, é ali que ele se distancia dos seus rivais e chega mais perto de ter acabamentos dignos da faixa de preço.

Há material macio no painel e nas portas, plástico que imita aço escovado, ajustes elétricos nos dois bancos dianteiros, acionamento elétrico do banco do passageiro para dar acesso ao assento traseiro, freio de estacionamento eletrônico com Auto Hold, carregador de celular por indução, bancos de couro sintético (material que também reveste o volante), ar-condicionado digital, teto panorâmico e chave presencial com partida por botão.

Caoa Chery iCar é recomendado apenas para crianças andarem no banco de trás — Foto: Renato Durães

Além disso, há faróis e lanternas de LED, rodas de liga leve aro 15, controles de tração e de estabilidade, assistente de partida em rampa, freios a disco nas quatro rodas, sensores de estacionamento traseiro e câmera de ré.

A empunhadura desse volante é a melhor dos três e o banco é bem confortável. O seletor de marchas também é giratório. Coloco no D (Drive) para começar a saga pela cidade. Assim como acontece com seus rivais, a arrancada até os 50 km/h é muito rápida e, depois, a aceleração fica mais lenta.

O iCar tem o porta-malas minúsculo — Foto: Renato Durães

Segundo a Caoa Chery, o iCar faz o zero a 100 km/h em 12,8 segundos e a velocidade máxima chega a 100 km/h. Todos vão bem no trânsito caótico de São Paulo, mas o iCar é o que melhor se encaixa, pois é compacto demais e, ao mesmo tempo, arisco. Então, mudar de faixa ou encontrar uma vaga na rua é muito mais simples. A suspensão é um pouco rígida para um asfalto irregular; consegue ser mais macia do que a do Kwid, mas não supera o conforto proporcionado pela suspensão do JAC E-JS1.

O pequenino da Chery está homologado para quatro passageiros e a área útil do porta-malas é de apenas 100 litros. Porém, rebaixar os assentos traseiros é prático: basta puxar uma alça e empurrá-los para a frente. Desse modo, a capacidade do compartimento salta para 380 litros.

Caoa Chery iCar tem muita personalidade no visual — Foto: Renato Durães

Sejamos racionais, ninguém vai comprar algum desses três carros para transportar a família. O foco é totalmente voltado para um público-alvo de solteiros ou casais com, no máximo, uma criança pequena. O bom acabamento, a vasta lista de equipamentos de série e a praticidade do iCar na cidade dão a ele o posto mais alto nesse universo paralelo dos carros elétricos de entrada.

Renault Kwid E-Tech, JAC E-JS1 e Caoa Chery iCar lado a lado — Foto: Renato Durães

iCar, Kwid e E-JS1 são carros elétricos estritamente urbanos e têm boa autonomia declarada, como mostra a tabela mais abaixo. Mas, na vida real, tudo vai depender do modo como você dirige.

Caoa Chery iCar tem 282 km de autonomia — Foto: Renato Durães

Caoa Chery iCar: O pequenino tem baterias de íons de lítio de 30,8 kWh e tomada de padrão europeu. Carrega 80% da bateria em 5 horas no Wallbox de 6,6 kW (AC), vendido à parte, ou em 11 horas em um carregador portátil de 3 kW (AC), também vendido à parte. Em estações de recarga rápida (50 kW), o tempo é de 36 minutos.

Renault Kwid elétrico tem 292 km de autonomia — Foto: Renato Durães

Renault Kwid E-Tech: O francês tem baterias de íons de lítio de 26,8 kWh com o padrão europeu. No Wallbox doméstico de 7,4 kW (AC), vendido à parte, o tempo de recarga de 15% para 80% da bateria é de 2h54. Já em um posto de carga rápida, de 30 kW (DC), o motorista vai precisar de apenas 40 minutos para atingir a mesma marca.

A estimativa, no ciclo WLTP, é de que o Jac tenha 260 km de autonomia — Foto: Renato Durães/Autoesporte

JAC E-JS1 – O carro tem baterias de fosfato de ferro-lítio com capacidade máxima de 30,2 kW. O padrão de tomada é o chinês, que não é utilizado no Brasil. Por isso, a JAC oferece um adaptador com padrão europeu. No Wallbox doméstico de 7 kW (AC), vendido à parte, a recarga de 20% para 100% é feita em cerca de 3h30.

Caoa Chery iCar: a central multimídia de 10,25 polegadas com formato vertical é o que mais chama a atenção — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Renault Kwid E-Tech: a tela é de apenas 7 polegadas, mas é a única que tem conexão com Apple CarPlay e Android Auto — Foto: Renato Durães/Autoesporte

JAC E-JS1:a tela de 10,25″ do multimídia é bem funcional, mas com as particularidades da fabricante — Foto: Renato Durães/Autoesporte

Dados da montadora

Caoa Chery iCar Renault Kwid E-Tech JAC E-JS1
Preço R$ 149.990 R$ 146.990 R$ 159.900
Motor Elétrico Elétrico Elétrico
Bateria 30,8 kWh 26,8 kWh 30,2 kWh
Potência combinada 61 cv 65 cv 62 cv
Torque 15,3 kgfm 11,5 kgfm 15,3 kgfm
Velocidade Máxima 100 km/h 130 km/h 110 km/h
Câmbio Automático, 1 marcha Automático, 1 marcha Automático, 1 marcha
Direção Elétrica Elétrica Elétrica
Suspensão Indep. McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) Indep. McPherson (diant.) e eixo de torção (tras.) Indep. McPherson (diant. e tras.)
Freios Discos ventilados (diant.) e sólidos (tras.) Discos ventilados (diant.) e tambores (tras.) Discos sólidos (diant.) e tambores (tras.)
Pneus 165/65 R15 175/70 R14 165/65 R14
Tração Traseira Dianteira Dianteira
Comprimento 3,20 m 3,73 m 3,65 m
Largura 1,67 m 1,77 m 1,67 m
Altura 1,59 m 1,50 m 1,49 m
Entre-eixos 2,15 m 2,42 m 2,39 m
Peso 995 kg 977 kg 1.180 kg
Porta-malas (Fabricante) 100 l 230 l 121 l
Autonomia da fabricante (WLTP) 282 km 298 km 260 km (estimativa)

Itens

Caoa Chery iCar Renault Kwid E-Tech JAC E-JS1
Partida por botão Série Não Disponível Série
Freio de estac. elétrico Série Não Disponível Série
Airbags laterais Não Disponível Série Não Disponível
Airbags de cortina Não Disponível Série Não Disponível
Carregador de cel. por indução Série Não Disponível Não Disponível
Apple CarPlay Não Disponível Série Não Disponível
Android Auto Não Disponível Série
Câmera de ré Série Série Série
Painel digital Série Série Série
Faróis de LED Série Não Disponível Série
Contole de tração Série Série Série
Controle de estabilidade Série Série Série
Isofix Série Série Série
Controle de cuzeiro Não Disponível Não Disponível Série
Freio regenerativo Série Série Série
Teto solar Série Não Disponível Não Disponível
Rack de teto Série Série Opcional
Rodas de 15 polegadas Série Não Disponível Não Disponível

Notas

Caoa Chery iCar Renault Kwid E-Tech JAC E-JS1
CONFORTO
Acabamento 8 4 7
Espaço interno 4 7 6
Porta-malas 3 7 4
Ergonomia 6 5 7
Equipamentos de série 8 5 6
Equip. de segurança 8 7 6
Subtotal 37 35 36
DINÂMICA
Motor 6 7 7
Frenagem
Suspensão 7 6 8
Desempenho 6 7 7
Autonomia (WLTP) 7 8 6
Sensação ao volante 7 6 7,5
Subtotal 33 34 35,5
MERCADO
Preço 5,5 6 3
Atualidade 7 6 5
Subtotal 11,5 11 8
TOTAL 81,5 80 79,5

Rodapé Um Só Planeta — Foto: Divulgação

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