O que a JAC Motors – sim, aquela marca que fez sucesso com propagandas do Faustão na televisão – e a Volkswagen têm em comum? Para início de conversa, os alemães compraram 50% do fabricante chinês. E essa parceira já rendeu frutos (inclusive aqui): o novo E-JS1 será o carro elétrico mais barato do Brasil e custará 149.990 reais. Por enquanto, está em pré-venda, mas chegará às lojas em setembro.
Mais barato do que pode parecer
Mesmo menor que o Renault Kwid, que, hoje, é o modelo mais em conta à venda no mercado brasileiro (por 45.390 reais), o estreante custa três vezes mais. Mas basta dar uma olhada no segmento para notar que os valores não fogem à regra: com exceção de outros dois modelos da própria empresa, só existem opções acima dos 200.000 reais, como é o caso do Renault Zoe, que parte dos 204.990 reais.
“Toda cadeia tributária é um desafio. Carros elétricos não têm alíquota de importação, mas pagam 13% de PIS/COFINS; 14,4% (SP) ou 12% de ICMS (resto do Brasil); e 7% a 16% de IPI dependendo do peso e da eficiência energética. Ou seja, pagam mais IPI mais que carros populares. Para baratear carros elétricos, a carga tributária deveria ser reduzida”, afirma Sérgio Habib, presidente da empresa no país.
Foco em vendas diretas
No caso do estreante, o foco será nas vendas corporativas – com previsão de 60% das negociações para empresas. De acordo com o executivo, são clientes com consciência ambiental e que decidiram colocar em prática medidas para reduzir as emissões de carbono das operações. E a previsão é emplacar até 50 unidades ao mês, ou seja, quase o dobro do T40, atual líder de vendas da JAC Motors por aqui.
“No total, deveremos vender cerca de 2.500 unidades neste ano. Com os três lançamentos que estamos promovendo [além do E-JS1, há um SUV e um furgão], a expectativa é vender 800 unidades de elétricos no segundo semestre, contra menos de 200 unidades do primeiro. E não há nenhuma previsão de parar de comercializar os veículos a combustão, que devem emplacar 1.500 unidades em 2021”, diz.
De acordo com a Abeifa, instituição de importadores e fabricantes de veículos à qual a JAC Motors está associada, a marca chinesa vendeu 460 unidades no acumulado de janeiro a junho – sendo que modelos livres de emissões tiveram 34 emplacamentos desde o início do ano. Só que a empresa garante que não há risco de abandonar a estratégia de eletrificação e terá três novas opções até meados de 2022.
Cara de um, focinho do outro
E se o E-JS1 pareceu familiar, é porque o estreante aproveita a mesma plataforma do finado J2, que veio junto com o lançamento da JAC Motors no país, em 2012. Esse modelo também serviu de base ao iEV20, que, atualmente, é o carro elétrico mais barato do mercado brasileiro (e sai a 159.900 reais). Mais que o preço, o novato trocou o jeito de “miniSUV” e terá 302 km de autonomia, ou seja, 98 km menos.
Em relação ao desempenho, o lançamento chega à velocidade máxima de 110 km/h, ainda que a marca considere a proposta estritamente urbana. Nesse ponto, o tamanho ajuda no dia a dia: são apenas 3,65 m de comprimento e 2,39 m de entre-eixos – mais compacto que o Renault Kwid, por exemplo, que tem 3,68 m e 2,42 m, respectivamente. Já o motor de 62 cv e 15,3 kgfm chega aos 50 km/h em 5,5 s.
Recuperação judicial do Grupo SHC
Mais que o produto recém-apresentado, a própria situação do Grupo SHC, que representa oficialmente a JAC Motors no Brasil, gera curiosidade (e apreensão) de possíveis compradores. Afinal, a empresa está em processo de recuperação judicial desde setembro de 2019, quando o pedido foi homologado, e tem mais de 1 bilhão de reais em dívidas acumuladas, de acordo com apuração da Revista AutoData.
“Nós estamos há 32 meses em processo de recuperação judicial e tudo está caminhando bem. E a nossa previsão é permanecer por mais alguns meses assim e sair até o fim deste ano. O plano [de pagamento dos débitos] foi aprovado em assembleia e colocado em prática no processo de recuperação judicial, já divulgado há cerca de um ano”, diz Habib, que não revelou faturamento e previsões da empresa.
Em relação ao segmento de modelos eletrificados, o mercado brasileiro vive o melhor momento desde 2012, quando a Associação Brasileira do Veículo Elétrico (ABVE) foi fundada. No primeiro quadrimestre, foram emplacadas 7.290 unidades, o que significa o melhor resultado de todos os tempos por aqui. Isso elevou a expectativa da organização, que estima a comercialização de 28 mil veículos só neste ano.