A reciclagem é essencial para a humanidade, independentemente de qual material seja reutilizado. A frase “sem reciclagem não há futuro” se encaixa muito bem para a situação dos carros elétricos. Afinal, é possível ou não reciclar as baterias de íons de lítio que equipam seus motores?
Os automóveis são responsáveis por 25% das emissões de poluentes globais, de acordo com relatório produzido pela Organização das Nações Unidas (ONU). E a principal alternativa para esses índices serem drasticamente reduzidos estão nas baterias de íons de lítio, cujo desenvolvimento rendeu o Prêmio Nobel de Química de 2019.
Prêmio Nobel de Química 2019 foi para os inventores das baterias de íons de lítio (Foto: Reprodução/Internet ) — Foto: Auto Esporte
Os cientistas John B. Goodenough, M. Stanley Whittingham e Akira Yoshino iniciaram os estudos sobre as baterias de íons de lítio durante a primeira grande crise do petróleo, na década de 1970. E durante a entrega do Nobel, Yoshino, afirmou que a reciclagem é a chave do sucesso para popularizar os veículos elétricos no planeta.
Responsável por equipar quase todos os dispositivos móveis que utilizamos, como smartphones, notebooks e tablets, as baterias de íons de lítio podem ser recicladas, sim, principalmente para esses equipamentos menores.
Se não houver reciclagem das baterias, o mercado de carros elétricos não suportará a demanda (Foto: Divulgação) — Foto: Auto Esporte
“Existem algumas opções, como reutilizar essas baterias em outros segmentos, como nobreaks, aparelhos hospitalares e celulares. Quando as baterias são retiradas do carro, não quer dizer que elas não prestam, elas só não atendem certos parâmetros porque são muito exigidas, mas continuam sendo boas para utilizar em outros segmentos“, explica o engenheiro automotivo, Frederico Marion Madeira.
O especialista que trabalha na Alemanha no setor de carros elétricos diz que empresas que realizam esse processo de reciclagem serão cada vez mais comuns nos próximos anos. Afinal, reutilizar as baterias dos veículos elétricos para outras aplicações será algo inevitável de acontecer.
“Se tivéssemos um consenso entre as montadoras para utilizar um padrão de bateria, isso seria muito benéfico para esse processo de reciclagem. Mas a gente sabe que por questões mercadológicas, isso não vai acontecer”, ressalta. A vida útil das baterias nos veículos é de até 15 anos.
Uma das alternativas para reciclagem é reutilizar as baterias dos carros em equipamentos menores — Foto: Divulgação
O Instituto Fraunhofer para Ciclos de Reciclagem e Estratégia de Recursos (IWKS) é uma das empresas mais avançadas em reciclagem de materiais no mundo. Jörg Zimmermann, gerente de projeto da IWKS, comenta o mesmo problema ressaltado por Frederico.
“Os maiores desafios não estão apenas na recuperação dos materiais de qualidade, mas começa logo no início, com a desmontagem da bateria. Isso ocorre porque existem muitos sistemas de baterias diferentes no mercado, e os fabricantes de automóveis e de baterias não gostam de divulgar qual é a proporção de materiais usados” explica Zimmermann.
Como não há um padrão entre os componentes das baterias, isso dificulta a reciclagem — Foto: Divulgação
As baterias de íons de lítio utilizam, tradicionalmente, óxidos metálicos de cobalto, níquel, manganês, ferro, grafite, sílica e óxidos de titânio, além de outros elementos químicos. Mas a quantidade dos materiais usados pode variar muito de fabricante para fabricante.
O gerente da IWKS diz ainda que analisar as baterias por fora não revela todos os seus componentes internos e qual o estado de qualidade deles. Portanto, não dá para saber o que esperar quando o equipamento é melhor analisado do ponto de vista químico, e isso dificulta muito a padronização e a automatização do processo de reciclagem.
Estima-se que até 2030, 1,2 milhões de toneladas de baterias estejam no fim da vida útil (Foto: Autoesporte) — Foto: Auto Esporte
“Esse fator e o grande consumo de energia e água tornam a reciclagem tão cara que atualmente é mais barato comprar matéria-prima nova do que iniciar um processo reciclável”, completa.
Até 2030, e estimativa é de que 1,2 milhão de toneladas de baterias de íons de lítio tenham atingido o fim de sua vida útil, portanto, se não houver um grande incentivo global para políticas de reciclagem, os carros elétricos podem sofrer um grande reverso em sua proposta de sustentabilidade.
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