Na primeira parte vimos como foi, dia a dia, a minha viagem de férias de Málaga a Lisboa com um elétrico, o Mustang Mach-E, o crossover a «pilhas» da Ford.
Agora, nesta segunda parte, altura de fechar as contas e também responder à questão: É possível fazer férias com um carro elétrico?
Bem, temos uma resposta.
PRIMEIRA PARTE: De Málaga a Lisboa. Já podemos ir de férias num carro elétrico?
Férias com elétrico? Sim, mas com critério…
Tendo uma bateria de 88 kWh (capacidade útil), o Mustang Mach-E promete 540 km de autonomia com uma carga completa (ciclo combinado WLTP), mas durante esta viagem a autonomia real foi sempre inferior, de 410 km a 460 km — tendo a larga maioria dos percursos sido feitos por autoestrada, não poderia ser de outra forma.
Seja como for, já permitem viver com o Mustang Mach-E sem uma forte ansiedade gerada pelo perigo de se ficar sem energia a meio da viagem e quanto maior a componente de condução urbana ou em estradas nacionais mais «lentas», mais a autonomia se vai aproximar dos mais de 500 km homologados.
Convém fazer algum planeamento para que o hotel ou hotéis escolhidos tenham onde carregar a bateria. E depois, em casos pontuais, dá para usar a aplicação da marca ou o sistema do próprio carro para procurar os postos ao longo do trajeto, ver a sua disponibilidade, potências de carga, etc. Pode até ser divertido e o que se perde em tempo, ganha-se em paz de espírito.
Quando temos de parar pelo caminho para fazer carregamentos, o Mustang Mach-E até está bem dotado neste domínio, ao permitir «encher» as baterias (em corrente contínua) com uma potência de até 150 kW (mais do que os rivais do Grupo Volkswagen, por exemplo).
Mesmo não existindo muitos postos de carga ultrarrápida em Portugal, isso vai acontecer forçosamente no futuro. Em corrente alternada (AC) o máximo é de 11 kW.
A habitabilidade do carro e bagageira são suficientes para quatro pessoas, não havendo grande problema a este nível, desde que não se queira levar «a casa às costas».
Custos: as duas faces da moeda
Primeiro as más notícias. A velha ideia de que a energia usada por um carro elétrico é muito mais barata do que a gasolina e até do que o gasóleo pode não ser a mais correta. Ou melhor, a eletricidade em si até é, mas depois de várias entidades e o Estado sobrecarregarem esse valor com várias taxas e impostos, pode ficar bem mais cara.
Senão vejamos: num posto Ionity ultrarrápido carregar por completo (0-100%) a bateria deste Mustang Mach-E custaria 73,62 euros — à data em que a viagem foi efetuada, em agosto passado; à data de publicação deste artigo, seria bem mais caro, cerca de 96 euros.
Daqui resulta um custo de 0,16 €/km, considerando uma autonomia de 460 km, um valor médio realista para o «nosso» Mustang Mach-E (mas 0,21 €/km se o carregamento fosse efetuado hoje), contra 0,13 €/km num automóvel Diesel (com consumo de 7,5 l/100 km) com lotação e prestações similares e 0,19 €/km (10 l/100 km) num a gasolina.
Ou seja, um Diesel seria sempre mais acessível e se fosse hoje (data de publicação do artigo), até um veículo a gasolina seria mais em conta.
Agora as notícias menos más. Quanto mais vezes carregar em casa, no trabalho ou em postos não tão rápidos, menos cara lhe vai sair a energia, mesmo considerando algumas taxas que parecem abusivas (e que estão a aumentar).
Nessa situação, não será difícil ter custos inferiores aos de um carro a gasolina e similares aos de um Diesel no quotidiano, com as idas aos carregamentos ultrarrápidos a serem feitas se realmente não lhe restar outra alternativa.
Basta ver a fatura da EDP que publico (em baixo): 8min59s de carregamento no posto ultrarrápido Ionity (24 kWh carregados) teve um custo (OPC+EGME) de mais de sete euros, enquanto 2h12min de carregamento num posto Mobi.e (13,3 kWh carregados) de 22 kW custaram 2,9 euros — caso tivesse carregado os mesmos 24 kWh, o valor subiria para pouco mais de cinco euros.
O custo da energia não variou em ambos os casos, sendo (na altura) de 0,20 €/kWh s/IVA (hoje, o custo seria de 0,26 €/kWh s/IVA). São as taxas aplicadas que geram a diferença.
E agora as boas notícias: a totalidade da energia carregada foi de fonte 100% renovável (hídrica), o que ajuda a compensar mais depressa o CO2 que é emitido a mais quando se fabrica um automóvel elétrico face a um com motor de combustão.
E ainda melhores notícias, numa perspetiva menos altruísta. Quanto me custou, em energia, esta viagem de 1391 km, ao longo de seis dias a unir Málaga a Lisboa e com um desvio até Óbidos? 21,34 euros. Imbatível. A seguir explico porquê.
Um bom momento para comprar um carro elétrico
Muitos são os que opinam que ainda não é o momento para comprar um carro elétrico como o principal veículo do agregado familiar. Eu discordo.
Primeiro, porque o governo ainda não avançou no sentido de tornar o automóvel elétrico a sua nova «galinha dos impostos de ouro».
O que forçosamente irá acontecer num Orçamento Geral do Estado não tão distante quanto isso, quando as vendas de automóveis a gasolina/Diesel deixarem de ser maioritárias e, sobretudo, não conseguirem contribuir com 20% a 25% das receitas do Orçamento Geral do Estado.
Em segundo lugar, porque como os elétricos ainda são minoritários, em muitos casos é possível fazer uma viagem de uma semana e mais de 1300 km com «combustível» grátis, uma vez que muitos hotéis de qualidade média/alta oferecem o carregamento dos carros aos seus hóspedes. Como nesta viagem que fiz.
Ou seja, só tive que desembolsar os dois carregamentos (Mobi.e em Altura e Ionity em Almodôvar a que faço menção antes).
Por último, o fundamental custo por quilómetro. Já se percebeu que os custos dos carregamentos poderão não ser tão mais baratos quanto isso, quando comparados com os custos de encher os depósitos de gasolina/gasóleo, podendo até ser superiores (como no caso dos postos de carregamento ultrarrápido) e essa realidade tenderá a agravar-se.
A prová-lo, a Entidade Reguladora dos Serviços Energéticos aprovou, no final de dezembro de 2021, as tarifas da EGME (Entidade Gestora da Mobilidade Elétrica que é a Mobi.e) para 2022, com um aumento de 79% da taxa aplicada aos Comercializadores de Eletricidade para a Mobilidade Elétrica (CEME) e aos Operadores de Pontos de Carregamento (OPC), subindo ambos de 0,1657 €/carregamento para 0,2964 €/carregamento.
O aumento, desta vez, não chegará ao consumidor final, mas sabemos que será apenas uma questão de tempo.
Resumindo. É boa ideia comprar um elétrico já?
SIM:
- Carros elétricos ainda não pagam impostos abusivos;
- Autonomia já alargada (em cada vez mais modelos);
- Há muitos hotéis onde se pode carregar «de graça», quando em férias;
- Benefícios fiscais ainda vigoram (empresas/empresários em nome individual e incentivos monetários a particulares que apenas duram uma pequena parte do ano).
NÃO:
- Autonomia ainda insuficiente (em alguns modelos e alguns tipos de utilização);
- Infraestrutura de carregamento insuficiente;
- Preço elevado da tecnologia (irá baixar ao longo da década).
Especificações Técnicas
Ford Mustang Mach-E AWD | |
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Motor Elétrico | |
Motor | 2 motores elétrico, um em cada eixo |
Potência | Total: 258 kW (351 cv) |
Binário | 580 Nm |
Bateria | |
Tipo | Iões de lítio |
Capacidade | Total: 98,8 kWh; Útil: 88 kWh |
Transmissão | |
Tração | Às 4 rodas |
Caixa de velocidades | Caixa redutora com uma relação (uma por motor) |
Chassis | |
Suspensão | FR: Independente MacPherson; TR: Independente Multibraços |
Travões | FR: Discos ventilados; TR: Discos ventilados |
Direção/Diâmetro Viragem | Assistência elétrica; 11,6 m |
Dimensões e Capacidades | |
Comp. x Larg. x Alt. | 4712 mm x 1881 mm x 1597 mm |
Entre eixos | 2984 mm |
Bagageira | 402-1420 l; FR: 81 l |
Massa | 2257 kg |
Rodas | 225/55 R19 |
Prestações, Consumos e Emissões | |
Velocidade máxima | 180 km/h |
0-100 km/h | 5,1s |
Consumo combinado | 18,7 kWh/100 km; Registado: 19,1 kWh |
Autonomia | WLTP: 540 km; Registado: 460 km |
Emissões CO2 | 0 g/km |
Carregamento | |
Potência de carga máxima DC | 150 kW |
Potência de carga máxima AC | 11 kW |
Tempos de carga | 10-80%, 11 kW (AC): 8h30min; 10-80%, 150 kW (DC): 45min. |