Não bastasse a carroceria com linhas agressivamente elegantes, o Toyota Corolla Altis destaca-se pela inédita solução de ser equipado com motorização híbrida e flex, pioneirismo mundial. O resultado pode ser considerado um passo importante para amenizar a imagem desse sedã médio-grande no mercado nacional, onde é conhecido como “carro de tiozão”. No cenário mundial, a casa fundada por Kiichiro Toyoda em 1937 há algum tempo investe em ações para dar à marca um posicionamento mais próximo de valores como emoção e desempenho. No ano que vem, o Corolla será um dos modelos que disputará, junto com o Chevrolet Cruze, o Campeonato Brasileiro de Stock Car.

Se a primeira impressão do Corolla 2020 acelera o coração pelas linhas modernas e com traços bem dosados de agressividade (notadamente as entradas de ar nas extremidades do para-choques dianteiro), o interior com boa dose de requinte no acabamento trata de acalmar as batidas do coração. O recurso mais impactante para atingir esse objetivo é o rodar macio, mesmo com rodas de aro 17”, e o excelente isolamento acústico, valor exacerbado quando o motor elétrico entra em ação. Dar a partida na unidade de potência – para usar o termo adotado na F-1 de motores igualmente híbridos – é o primeiro passo para notar tamanho silêncio. Como nem tudo é perfeito, o freio de mão de acionamento mecânico é um verdadeiro elo com o padrão pista de teste das vias públicas brasileiras. A única justificativa para tal solução é a onipresente contenção de custos.

Acelerar o Corolla Altis ajuda a encontrar o ponto de equilíbrio deste Toyota fabricado em Indaiatuba (interior de São Paulo) e motorização importada. O motor 1.8 a combustão gera 98/101 cv a 5.200 rpm e 14,5 mkgf a 3.600 rpm (gasolina e etanol, respectivamente), e o elétrico: 72 cv e 16,6 mkgf. Esses valores chegam à tração dianteira através de um câmbio CVT planetário. A suspensão dianteira mantém a clássica solução McPherson. A traseira ganhou suspensão independente, que funciona melhor para suportar o peso das baterias instaladas sob o assento traseiro, e explora a rigidez 60% da carroceria em relação ao Corolla anterior. Em linhas gerais, a versão Altis Hybrid Flex, como a avaliada, justifica o preço de R$ 124.990: já há fila de espera para comprar o modelo.

Solução?

Nesse início de vendas da renovada linha Corolla 2020, a demanda pelos novos modelos, incluindo o híbrido, superou as expectativas em 30%, segundo a Toyota. Por ora, essa versão 1.8 que roda com motor elétrico e a combustão chega a apenas 20% de participação nas vendas em relação aos demais modelos flex 2.0, lembrando que a opção híbrida é oferecida apenas na topo de linha Altis.

Será preciso esperar mais alguns meses para analisar o sucesso da versão híbrida e comprovar que a Toyota deu um passo certeiro, como muitos apostam. Mas isso não é unanimidade. Sérgio Habib, presidente da JAC Motors do Brasil, que acaba de lançar seu primeiro elétrico (iEV40) e prepara a chegada de mais quatro outros veículos plug-in vindos da China, criticou a estratégia da Toyota.

“As vendas dos híbridos estão em queda no mundo. Carro híbrido é quase um dinossauro, não é o futuro. Ele vai morrer antes de ter existido em volume. É caro e complexo. Quando quebra só se conserta em autorizada e não resolve o problema de CO2 no mundo. É uma solução que funciona enquanto a bateria não tiver redução de preço. Na China, as vendas de híbridos estão desmoronando, com queda de 40% este ano. Enquanto isso, o elétrico dobrou suas vendas”, argumentou o empresário ao defender que o futuro pertence aos elétricos. Ele ainda alega que híbridos ficaram limitados ao mercado japonês. “Os híbridos vão cair mais ainda por uma razão simples: quem compra carro híbrido é japonês. Não sei por que o japonês não compra carro elétrico”.

Ricardo Bacellar, líder do setor automotivo da KPMG no Brasil, discorda de Habib. Segundo ele, há na Ásia um forte movimento de fomento de produção de cana mirando o etanol. “Existe um potencial enorme de mudar o panorama do etanol no mundo”, sugere. No caso do Corolla híbrido flex, Bacellar afirma que foi “um tiro certeiro da Toyota”. Além da infraestrutura já instalada do etanol em oferta no Brasil “do Oiapoque ao Chuí”, seu viés sustentável é fortíssimo. “Se a matriz energética na China ainda é a queima do carvão, o elétrico chinês é sustentável? O etanol bate todas as alternativas mundiais, inclusive o hidrogênio. Para nós, é espetacular”.

Somar o etanol à tecnologia híbrida traz muitos benefícios. “O Corolla é um carro bem posicionado em preço, bem acabado, de grande aceitação e adiciona a pegada sustentável e de economia, com consumo de 17 km/l para um carro médio. Imagina isso dando certo e portar essa solução a veículos menores como Yaris e Etios?”, avalia Bacellar. Para ele, o híbrido não depende de tomada para ser recarregado, abastece com etanol, carrega as baterias por autorregeneração e toda essa independência lhe dá ampla vantagem.

Para Carlos Libera, sócio da consultoria Bain & Company, a chegada do elétrico ao mercado brasileiro não significa virar a chave de um dia para o outro. “O híbrido não está morto. Ele é muito mais fácil, por exemplo, para viajar, diferentemente de um elétrico. Haverá uma curva de adoção, poderá ficar obsoleto, mas o modelo a combustão ainda é mais vendido e vai ter muitos anos de produção, mais de 20 anos”, estima.

*Colaborou Lúcia Camargo Nunes

 



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