Não bastasse o resultado de vendas em janeiro, o pior desde 2005, que coloca uma interrogação sobre o interesse e a capacidade dos consumidores de adquirirem veículos novos este ano, outra coisa que vem perturbando o setor automotivo é: qual será o futuro da indústria da mobilidade?

Todos os dias deste 2022 alguma empresa da cadeia automotiva fez investimentos ou promoveu ações internas para adequar seus negócios à transformação que está sendo considerada uma das maiores na história desse setor centenário. Alguém já viu, leu ou ouviu algo sobre a eletrificação da mobilidade este ano? Ou sobre os novíssimos modelos elétricos que circulam pelo País? Ou sobre ESG?

Nós, que acompanhamos diariamente a agenda da cadeia automotiva global, recebemos um sem-fim de comunicados sobre investimentos de centenas de bilhões de dólares na eletrificação da mobilidade, além de muitas ótimas intenções das empresas para cumprir as exigências do ESG, dentre outras tantas que estão adequando seus negócios aos princípios do Pacto Global da ONU.

O cerne da questão, porém, não tem sido abordado em toda sua complexidade e relevância. Aparenta estar sendo ofuscado pelas inovações das tecnologias da eletrificação e do bom-mocismo nas ações anunciadas pelas empresas e patrocinadas pelo mercado financeiro.

Estamos falando das emissões dos gases de efeito estufa. E não se trata apenas das emissões do busão a diesel nas cidades, ou dos mais de 70 milhões de veículos novos que chegam às ruas todo ano no mundo. Ou dos caminhões que transportam a economia pelas rodovias. O buraco é muito mais embaixo.

É preciso imaginar que estamos olhando o planeta lá de cima observando o movimento das nuvens e do vento. E compreender que na atmosfera deste globo não há fronteiras. Então a poluição carregada pelos movimentos do ar acaba atingindo de alguma forma todos os lugares e afetando todos nós.

Assim, não adianta a China eliminar as 10 bilhões 670 milhões de toneladas de CO2 liberadas na atmosfera [dados de 2020] para resolver os problemas das mudanças climáticas causadas pelos gases de efeito estufa.

Mesmo que isso fosse possível – retirar da contabilidade 30% das emissões automotivas globais -, continuaria havendo eventos extremos como ondas de calor e de frio, a seca e os incêndios, as trombas d’água e os furacões em vários pontos do planeta. Em tempos de hiper conectividade dizer que tudo está conectado na Terra é até um clichê.

Avaliando a questão sob esse prisma ainda é muito cedo para dizer que a mobilidade elétrica dará contribuição suficiente para o desafio das emissões globais. Mesmo assim essa é aposta mais forte da indústria automotiva para a produção de uma nova geração de veículos que passarão a utilizar a propulsão elétrica sob o argumento de que assim se eliminará as emissões da equação.

Enquanto não surgirem respostas convincentes sobre a origem e o impacto ambiental dos materiais utilizados nas tecnologias da eletrificação, para as emissões geradas ao obter essa matéria-prima e inseri-la na cadeia produtiva, além de mecanismos eficientes para a recuperação, reutilização ou reciclagem de todos os itens de um veículo ao fim do ciclo de utilização desses produtos, a equação nunca estará solucionada.

Mesmo que talvez insuficiente é preciso dizer que os esforços da indústria automotiva demonstram para outros setores da economia que o momento é de ação para encarar as transformações globais que a cada dia são mais intensas, imprevisíveis e desafiadoras.

Diante de tantas possibilidades para enfrentar o que vem chamado como emergência climática global, o setor industrial e o financeiro, a sociedade e os entes federativos deste planeta poderiam olhar com mais atenção para estudo de Michael Eisen, da Universidade de Berkeley, e Patrick Brown, de Stanford, em 1º de fevereiro na publicação científica Plos Climate.

Eles analisaram o impacto combinado da eliminação de emissões ligadas à pecuária e da restauração da vegetação nos 30% da superfície terrestre utilizados nesta atividade. O resultado mostrou que sem o gado haveria a retenção de 800 gigatoneladas de CO2 no solo em forma de biomassa, pastagens ou mesmo florestas, o que significa redução de 68% das emissões anuais de dióxido de carbono da atmosfera.

Associado ainda à queda nos níveis de metano e de óxido nitroso atualmente emitidos pela pecuária, a decisão de eliminar a carne vermelha e os laticínios da dieta de 8 bilhões de pessoas simplesmente “tem o potencial único de reduzir significativamente os níveis atmosféricos dos três principais gases de efeito estufa”, contou o pesquisador Michael Eisen no artigo.

Tá aí uma ideia original e realmente revolucionária.

Calma. Mesmo com a queda de 26,1% registrada no primeiro mês de vendas, na comparação com janeiro do ano passado, a Fenabrave está otimista com o decorrer do ano. Acredita e mantém a projeção inicial de 2 milhões 216 mil unidades negociadas em 2022, alta de 4,6%.

Recuperação? As vendas em janeiro na Argentina, 43 mil 253 unidades, recuaram 13% na comparação com igual período de 2021. Porém, com relação a dezembro, 17,7 mil unidades, houve crescimento de 144%.

Trucks. Enquanto o mercado de automóveis patina por uma série de fatores o de caminhões segue registrando bons resultados. É o caso da Volvo, que obteve o melhor desempenho de vendas de sua história de 42 anos de presença no Brasil. Foram 21,8 mil caminhões emplacados, volume 45,7% superior ao obtido no ano anterior.

* Colaboraram Caio Bednarski, Soraia Abreu Pedrozo e Vicente Alessi, filho



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