O Peugeot 208 é um dos poucos modelos vendidos no Brasil em sintonia com a geração vendida na Europa. Ou quase isso: embora tenha a mesma plataforma modular CMP, vários pontos importantes do projeto foram substituídos ou simplificados com a intenção de reduzir custos de produção.
Mas existe uma exceção na linha: o e-208 GT. Ao preço de R$ 269.990, a versão elétrica do 208 é rigorosamente o mesmo modelo comercializado no mercado europeu. E isso pode ser bom e ruim, como UOL Carros atestou após passar uma semana com o primeiro modelo elétrico vendido pela Peugeot no Brasil.
Pontos Positivos
- Design
- Desempenho
- Autonomia
Veredito
Primeiro carro elétrico da Peugeot no país, o e-208 GT ‘resolve’ as maiores deficiências do 208 movido a combustão. O bom desempenho do motor de 136 cv empolga, assim como o nível de acabamento acima da média da categoria. O maior ‘problema’ do hatch, porém, não está nele, e sim na concorrência. Modelos como Fiat 500e e Mini Cooper SE estão na mesma faixa de preço e podem cativar quem está procurando um carro elétrico.
DESIGN E ESPAÇO INTERNO
Felizmente quase nada muda no atraente design do 208. O hatch se diferencia apenas pelas molduras em preto brilhante nas caixas de rodas e pelas rodas com desenho exclusivo.
A bela grade frontal tem elementos na mesma cor da carroceria. Atrás, o para-choque preserva o estilo agressivo do hatch e ostenta a letra “E” na cor azul, que também está nas colunas “C”.
Caso você opte pela chamativa cor Amarelo Faro (que custa R$ 2.890 extras), prepare-se para virar o centro das atenções nas ruas. Por onde quer que estive fui alvo de olhares curiosos e de admiração, inclusive com vários sinais de aprovação.
CONSUMO E DESEMPENHO
Se o 208 vendido no Brasil recebeu críticas pelo desempenho discreto do conhecido motor 1.6 16V de até 118 cv, o comportamento da versão elétrica beira o irrepreensível.
São 136 cv e torque instantâneo de 26,5 kgfm, que fazem com que o hatch vá de 0 a 100 km/h em 8,3 segundos – bem melhor do que os 12 segundos do 208 flex. A velocidade máxima é limitada a 150 km/h para poupar a carga das baterias.
Existem três modos de condução: o Eco é voltado para otimizar a autonomia declarada de 340 quilômetros (segundo o ciclo europeu WLTP), enquanto o Normal busca um equilíbrio entre economia e desempenho. Já o modo Sport diverte o motorista sem dificuldades, mas faz com que a autonomia despenque rapidamente.
O hatch traz dois modos de recuperação de energia, que são ativados por toques na alavanca do câmbio do tipo joystick. Assim que tiro o pé do acelerador, o sistema entra em ação, mas diferente de outros elétricos, a atuação não é tão forte a ponto de frear o veículo quase que imediatamente. A direção com assistência elétrica preserva as boas respostas do restante da gama. Leve nas manobras e firme em velocidades mais altas, ela contribui para uma condução bastante prazerosa.
Elogios também vão para a ótima posição de dirigir, que inclui bancos envolventes e o conceito i-Cockpit adorado por alguns e odiado por outros. Para mim, o volante com diâmetro menor tem uma empunhadura muito boa e o quadro de instrumentos em posição mais elevada não me incomoda em nada.
O e-208 GT pode ser carregado até em uma tomada convencional, já que uma bonita maleta com um cabo acompanha o veículo. Bom lembrar que, neste caso, o tempo de recarga pode passar até de 24 horas.
Caso você opte pelas estações de 7,4 kW ou 22 kW, será preciso aguardar aproximadamente 6 horas e 4 horas, respectivamente. Existe ainda a possibilidade de carregar em uma dos raros postos rápidos de 100 kW, que fazem com que a autonomia suba de 0% a 80% em apenas 30 minutos.
Durante o tempo em que estive com o e-208 GT, deixei o veículo em um ponto de carga semirrápida por menos de 3 horas, período no qual a carga pulou de 50% para 90%. Saí de lá com quase 280 km de autonomia e paguei só R$ 10 pela estadia no estacionamento. Nada mal, especialmente se você lembrar quantos quilômetros consegue rodar gastando o mesmo com etanol ou gasolina.
A notícia ruim de sua origem mais “nobre” está na calibragem da suspensão, mas é claro que a culpa não é da Peugeot. Por ser projetado para as ruas europeias, o e-208 GT (que tem rodas de 17 polegadas calçadas com pneus do tipo run flat) sofre com o asfalto sofrível do Brasil. Se você já dirigiu um carro rebaixado, saiba que algumas lombadas mais altas exigem a mesma cautela para não raspar o assoalho. As pancadas secas também serão frequentes caso não tome o cuidado necessário.
EQUIPAMENTOS
Por ser fabricado na França, o e-208 GT segue o padrão adotado na Europa, trazendo uma qualidade de acabamento mais refinada do que o compacto fabricado na Argentina e uma lista de equipamentos um pouco mais generosa.
É verdade que o 208 Griffe já traz um pacote bem recheado de itens de série, que também estão presentes no seu “irmão” elétrico. Ambos oferecem importantes assistências de condução, como alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência, sensor de fadiga, assistente de permanência em faixa com correção de trajetória e detector de pontos cegos. Ar-condicionado digital, faróis full LED, teto solar panorâmico fixo, câmera de ré e sensores de estacionamento traseiros também estão presentes nos dois carros.
As diferenças surgem em alguns detalhes. O acabamento tem superfícies plásticas do tipo soft touch na parte superior do painel de instrumentos, embora a qualidade de montagem seja a mesma nos dois modelos. No console central há uma entrada USB do tipo C, que faz companhia à entrada USB convencional.
A tela da central multimídia tem 10 polegadas (contra 7 do 208 argentino), mas essa é a única diferença significativa entre elas. Existe um modo que exibe as informações do veículo em tempo real, indicando o modo de condução selecionado e se o sistema de regeneração está em funcionamento. Já a alavanca do câmbio é do tipo joystick (com engates para frente ou para trás) e veio do 3008, enquanto o freio de estacionamento tem acionamento eletrônico.
MANUTENÇÃO E SEGURANÇA
Assim como a versão topo de gama do 208 a combustão, o e-208 GT agrada ao trazer importantes assistências de condução.
O carro oferece alerta de colisão frontal, frenagem autônoma de emergência, sensor de fadiga, assistente de permanência em faixa com correção de trajetória e detector de pontos cegos. A lista de equipamentos de segurança inclui ainda 6 airbags, controles de estabilidade e de tração e assistente de partida em rampas.
Outro ponto positivo para a marca francesa está no custo das revisões. As paradas são realizadas em intervalos de 20 mil quilômetros e cada revisão tem o preço fixo de R$ 701 (em fevereiro de 2022).
MERCADO
O e-208 GT concorre com modelos elétricos bem variados. O Renault Zoe custa menos do que o próprio hatch da Peugeot, mas não oferece o mesmo nível de tecnologia.
Já Fiat 500e e Mini Cooper S E podem ser mais estilosos, mas são mais apertados e trazem apenas duas portas.
Talvez o maior problema do e-208 GT é que, apesar de bonito, ele ainda se parece muito com qualquer 208. E em um mundo onde as aparências ditam as regras, o representante da Peugeot pode não ser o escolhido. Mesmo sendo uma das melhores opções da categoria.