Recentemente, em entrevista a UOL Carros, o presidente da Volkswagen, Pablo Di Si, afirmou que não via sentido em reabrir as fábricas sem concessionárias funcionando para vender carros.
Di Si tem razão: as revendas ainda são parceiros fundamentais para o sucesso da indústria automotiva, tanto é que (depois de intensa pressão sobre as autoridades) o setor foi um dos primeiros a obter autorização para reabrir as portas em São Paulo (SP), mesmo em meio a índices cada vez maiores de vítimas da Covid-19.
Antes mesmo do coronavírus, uma pergunta já pairava na cadeia automotiva: qual será o futuro das concessionárias?
Um estudo feito pela consultoria Deloitte com base em dados coletados na América do Norte, Europa e na Ásia pode dar uma pista do que pode vir por aí, inclusive no Brasil.
China é ‘último dos moicanos’?
Os automóveis ainda serão bens de consumo cobiçados. O estudo informa que as vendas vão crescer nos próximos 15 anos, embora em uma proporção muito inferior à observada nas últimas décadas.
Há um enorme potencial de crescimento na China, cuja perspectiva de aumento nos lucros pode chegar a 70% até 2035. As vendas no segmento premium também devem subir e responder por 8% do volume total de veículos comercializados no país. Mesmo assim, nem tudo são rosas para as fabricantes de carros.
“A China é o único mercado que está crescendo no momento. Os consumidores ainda querem possuir um veículo, mesmo que eles nem o utilizem com frequência. Ainda há muito potencial, mas, apesar disso, as empresas precisam pensar em como fazer dinheiro. Elas precisam pensar como a digitalização pode ajudar concessionárias e montadoras a ter lucro”, afirma Marco Hecker, especialista no mercado automotivo da Deloitte na China.
Mobilidade e elétricos ameaçam revendas
A situação, porém, será bem diferente em mercados importantes, como Estados Unidos (alta estimada de apenas 9%) e Europa (queda de 2%). O Japão também deve enfrentar um declínio de 4% nas vendas de automóveis.
Os resultados devem acontecer com base no aumento da procura por serviços de mobilidade, que gradualmente vão decretar o fim dos carros particulares em alguns países.
Além dos aplicativos de transporte particular, como Uber, os serviços de carsharing também vão crescer exponencialmente, principalmente depois da fase pós-coronavírus.
Considere aí o modelo de P2P (no qual proprietários alugam seus veículos por curtos períodos de tempo), semelhante ao sistema “pay per use” (ou “pague pelo uso”, em tradução livre), no qual o usuário paga uma tarifa por minuto ou por hora para realizar seus deslocamentos.
Além disso, a Deloitte lembra também que as concessionárias vão precisar rever seu modelo de negócios e adaptá-lo à frota nas grandes cidades.
A consultoria acredita que a frota de carros nos centros urbanos será em sua maioria elétrica, enquanto os veículos movidos a combustão ainda devem rodar nas localidades mais afastadas, como áreas rurais.
Assim, as revendas precisarão oferecer estruturas adequadas para atender cada tipo de cliente.
Especialistas do setor também acreditam que o modelo atual das concessionárias está fadado à extinção, e que a rede autorizada das montadoras sofrerá cortes significativos em poucos anos.
“Acredito que o número de concessionárias vai diminuir no mundo, e não só pela necessidade das montadoras de diminuir custos. Hoje o cliente já chega (na revenda) decidido sobre o que vai comprar. Existe uma tendência dos mercados de eliminar os intermediários e isso acontecerá em todos os setores”, opina Antonio Azevedo, CEO e fundador da LogiGo, empresa especializada em conectividade.
O futuro é digital (e elétrico)
Existe ainda outros dois importantes fatores que jogam contra o modelo atual de concessionária. Um deles é a popularização dos carros elétricos, que devem resultar em uma redução drástica na venda de peças de reposição e alguns serviços de pós-venda, uma vez que carros elétricos possuem manutenção mais simples do que veículos a combustão.
O segundo fator é o alto custo para manter um imóvel tão grande como uma revenda tradicional. Normalmente os gastos com aluguel e outras despesas fixas são muito elevados de acordo com a localização.
Assim, algumas montadoras já investem em um modelo de concessionária digital, no qual há menos veículos (ou até nenhum) exposto e toda a apresentação do produto é realizada de forma virtual. Com o auxílio de ferramentas de realidade virtual, o cliente pode conhecer e até configurar seu próximo carro em minutos. No Brasil, Fiat e VW já adotam este modelo.