RIO — Com o avanço da vacinação no país — 47,54% da população já tomaram ao menos uma dose do imunizante — as empresas preparam um retorno gradual ao trabalho. Mas depois de mais de um ano de home office, a volta ao escritório trará uma nova rotina.
Com um fluxo menor de pessoas, uma mudança comum é o agendamento de mesas, redução de escritórios e a ampliação de áreas de integração, já que a proposta é transformar a sede da empresa em um ponto de encontro, reuniões e eventos.
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Para definir o caminho para o retorno ao convívio coletivo e até à pausa para o cafezinho, mesmo que sob novos termos, as empresas têm feito pesquisas para identificar a preferência dos funcionários. Isso ajuda a decidir até mesmo se é necessário trocar o imóvel ou que tipo de obra precisará ser feita no local.
De 15 para 7 andares
A Vale já tinha investido na ergonomia dos funcionários, comprando cadeiras e mesas, pois a maioria dos funcionários optou pelo modelo híbrido.
A partir de agora, globalmente, a companhia não terá mais escritórios e, sim, os hubs — que são estes pontos de apoio. Não é obrigatório ir, e o agendamento é feito por um aplicativo da Vale.
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A mineradora reduziu seus 15 andares em Botafogo, no Rio, para sete e vai investir em outros sete hubs pelo Brasil. Em Vitória e Belo Horizonte, eles já estão prontos. A data do retorno depende do comportamento da pandemia.
— Foram remodelados para um cenário pós pandemia. A grande mudança é que no lugar das baias, vamos colocar mesas colaborativas, sofás para conversar, paredes móveis, espaços abertos para reuniões, mais despojado, onde a pessoa pode participar da reunião ali ou remotamente — diz Josilda Saad, gerente executiva e líder do programa Jornada Vale.
Agenda coletiva da família
Algumas empresas como a farmacêutica GSK CH Brasil começaram o retorno aos poucos. Desde março, os funcionários que vão de carro podem adotar o modelo híbrido. Andressa Tomasulo, do RH, explica que, por ora, quem anda de transporte público permanece em casa para não expor o funcionário ao risco do deslocamento.
Eles mudaram para um espaço com 60% da capacidade anterior, também na Barra da Tijuca. Agora, as mesas são revezadas, e o funcionário faz a reserva. Cada um tem o seu laptop, teclado e mouse e a temperatura é aferida na entrada.
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Tânia Quintas, gerente de Comportamento do Consumidor, reserva sua mesa três vezes na semana. Nos dias cheios de reunião, prefere ficar em casa.
Para Tânia, ir ao escritório é uma boa opção porque ela começou a trabalhar no meio da pandemia, então não conhecia a equipe pessoalmente. Por outro lado, requer planejamento. Ela tem uma filha de 12 anos e um filho de 7, que estudam parte em casa e parte na escola, e o marido trabalha fora.
Os pais dela já foram vacinados e se dispõem a ajudar. Além disso, conta com a ajuda de uma funcionária. Para conciliar as necessidades de todos, o jeito foi organizar uma agenda coletiva.
Economia de R$ 1,2 milhão
A Funcional, empresa de gestão de serviços de saúde, com 525 empregados, pôs boa parte dos funcionários, 450, em home office permanente, indo alguns dias por semana ao escritório se preferir. O restante do quadro, mais voltado para o atendimento, a empresa estuda se voltam ou não ao escritório. Mesmo assim, a volta só se daria no ano que vem, quando se espera que a população já esteja vacinada.
Bruna Mostacatto, diretora de Gente&Gestão da Funcional Health Tech, diz que a empresa contratou um serviço para adaptar o escritório para que seja seguro ao voltar. E se o funcionário se recusar a voltar ao escritório, a empresa vai demitir? Isso também não foi discutido ainda.
— Essa questão também não foi discutida. Mas acredito que teremos que avaliar caso a caso, entender o motivo de recusa. Não adianta ter gente por obrigação. O resultado vem de acordo com comprometimento da pessoa.
Menos salas: Empresas prolongam home office e entregam escritórios
A decisão de manter os funcionários em home office fez a empresa devolver cinco dos seis escritórios que mantinha. Fechou o de Belo Horizonte e o do Rio e dois em São Paulo. Manteve apenas um na capital paulista. A economia estimada é de R$ 1,2 milhão por ano com despesas de escritórios. Quando precisar, pretendem usar esquema de coworking.
A Supergasbras fechou em março do ano passado e reabriu em setembro por três meses, mas a adesão do modelo híbrido foi baixa. Agora, com a vacinação e outro cenário, vai reabrir em setembro e avaliar até o fim do ano.
Se os funcionários voltarem a frequentar mais o escritório no Centro do Rio, pretende fazer obras para pôr espaços maiores, também voltados para a integração. No modelo “superflex”, o colaborador não precisa ir frequentemente ao escritório, mas precisa comparecer conforme eventuais demandas.
— O futuro do trabalho é híbrido. Queremos que o escritório fique atraente e o colaborador opte por ficar lá — afirma Glória Castro, diretora da RH da empresa.
Fadiga do zoom:A exastão com as reuniões virtuais
A Unimed-Rio deu início ao modelo híbrido no dia 19 de julho. Desde então, as equipes vão ao escritório duas vezes por semana. O retorno de 1.100 colaboradores está sendo gradual. Para este primeiro momento, são 220, e a exigência é que não pertencessem a nenhum grupo de risco ou tivessem familiares nessas condições, sendo dada preferência a voluntários.
Objetos pessoais trancados no locker
As mudanças incluem: temperatura aferida na chegada ao trabalho e do almoço; escala no almoço e só um colaborador por mesa; distância das mesas de trabalho; janelas abertas, além das regras básicas (álcool e máscara).
A Oi também fez pesquisas ao longo da pandemia com os funcionários e chegou à conclusão de que vai incorporar o modelo híbrido de forma definitiva. Hoje, 80% estão em home office. O retorno para parte do tempo no escritório será gradual, a partir de 2022.
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O mesmo aconteceu na empresa de óleo e gás Ocyan. Com base na consulta interna, eles pretendem voltar em setembro com o trabalho “flex”. Dentre as mudanças, não haverá mais lugares fixos e os funcionários passarão a guardar seus pertences em lockers.
Os banheiros serão automatizados com torneiras, saboneteiras e portas que abrem automaticamente e as salas de reuniões serão menores, para até seis pessoas.
Mudar para acompanhar o cliente
A rede de coworkings WeWork, por exemplo, que tem muitos clientes corporativos, já mudou sua estratégia e planeja expandir com pequenos escritórios chamados de hubs.
Lucas Mendes, diretor geral no Brasil, conta que 90% dos seus clientes hoje querem ter uma sede para grandes encontros, mas também pontos espalhados pelos país onde os funcionários possam trabalhar ou fazer reuniões:
— Estamos pensando em imóveis menores em quantidades. Temos que acompanhar os clientes.