A Renault anunciou investimento de R$ 2 bilhões em sua operação no Brasil, prometendo novos motor 1.0 turbo, SUV e plataforma. Lançou mais um carro elétrico (o Kwid E-Tech), introduziu novidades na linha atual e planeja outras mudanças. Em entrevista ao programa CBN Autoesporte (todo domingo, às 9h), Ricardo Gondo, presidente da Renault do Brasil, revela os próximos movimentos da marca francesa no país para Guilherme Muniz, da CBN, e Marcus Vinicius Gasques, da Autoesporte.

Guilherme – Como a Renault avalia o mercado brasileiro atualmente e quais são as perspectivas para os próximos meses, já que os investimentos são feitos sempre olhando para o longo prazo? Vocês vislumbram uma retomada apesar deste momento difícil ou esses investimentos poderiam ser até maiores se o cenário econômico fosse mais favorável?
Gondo –
Mesmo em um cenário complexo como foi o de 2021, nós continuamos investindo aqui no Brasil. Durante os últimos dois anos, estamos aportando R$ 1,1 bilhão para a renovação da gama atual de veículos que produzimos no país. Em 2021, renovamos o Captur (com novo motor 1.3 turbo, novo design e também um novo interior). No início deste ano, em janeiro, lançamos o Kwid também totalmente renovado, a nova Master e também introduzimos na Oroch e no Duster o motor 1.3 turbo. Além disso, estamos focados na estratégia com veículos elétricos.

No ano passado lançamos o novo Zoe e agora o novo Kwid 100% elétrico no Brasil. Então nós continuamos investindo aqui. E acabamos de anunciar outro investimento de R$ 2 bilhões — que serão focados em uma nova plataforma, em um novo motor 1.0 turbo e em um novo veículo (um SUV). O mais importante é que uma nova plataforma pode dar origem a vários outros veículos, e estamos trabalhando para ter esses novos carros. É uma arquitetura bastante moderna da Renault, a CMF-B, e é possível também ter, no futuro, veículos eletrificados sobre ela.

Marcus – Com o investimento nessa nova plataforma e o novo motor 1.0 três cilindros turbo, o foco principal é um SUV, preferência no Brasil e no mundo. E você fala também em elétrico. Nos próximos anos, o mercado brasileiro vai se dividir e nós não vamos mais falar tanto em sedãs e hatches?
Gondo –
É claro que, quando fazemos esses investimentos, estamos pensando nos próximos sete, oito, dez anos. Por quê? Porque são investimentos grandes, a indústria automobilística tem que fazer investimentos grandes, e a gente pensa no futuro porque o ciclo de vida do produto é de seis a sete anos.

Então estamos trabalhando e pensando em qual será a demanda do cliente nos próximos anos. A tendência do SUV, que já estamos vendo há algum tempo no Brasil, começou a aumentar nos últimos dez anos, e nós fomos um dos pioneiros com o lançamento do Duster. Hoje temos também o Captur. E podemos ver que o segmento de SUV compactos cresceu nos últimos anos, assim como o de SUVs médios. Eu acho que isso é uma tendência do mercado no Brasil e uma demanda dos clientes. Então a nossa visão é de que o mercado de SUVs vai continuar a crescer no país; e o mercado total brasileiro continua tendo potencial. A perspectiva para os próximos anos é de crescimento.

Novo SUV compacto da Renault vai estrear plataforma e motor 1.0 turbo — Foto: Projeção: João Kleber Amaral/Autoesporte

Guilherme – Como você vê esse convívio entre os carros elétricos e os carros a combustão? Essa nova plataforma pode dar origem a carros eletrificados? Por outro lado, a Renault também está investindo em um motor turbo que ajuda muito no consumo. O Brasil vai continuar tendo os carros a combustão e os elétricos convivendo por muitos anos ou a Renault já está no momento de investida mais forte nos elétricos?
Gondo –
Nossa visão é de que o futuro dos veículos vai ser elétrico, conectado, autônomo e compartilhado. Estamos entre os primeiros a lançar os veículos elétricos, principalmente na Europa. Aqui no Brasil acho que a transição vai ser mais longa, possivelmente será feita com veículos híbridos, com sistema flex. O mais importante é que o Grupo Renault tem todas essas tecnologias disponíveis. Então, em função do mercado e das políticas públicas, vamos definir a estratégia de motorização para os próximos anos no Brasil.

Marcus – Em âmbito global a indústria automobilística está revendo suas estratégias de mercado, enxugando as linhas de produção… Nesse grande contexto a Renault anunciou seu planejamento estratégico, o “Renaulution”, que trata de revolução. Com isso, ficou explícita a ideia de tirar carros menos lucrativos de oferta, buscando maior rentabilidade. Como esse plano impacta o Brasil?
Gondo –
O “Renaulution” é um plano estratégico de médio e longo prazos do Grupo Renault. A primeira etapa a gente chamou de “Ressurection”; a segunda, de “Renovation”, com o lançamento de novos produtos; e a terceira é o “Revolution”, quando a gente fala de novas mobilidades, de veículos elétricos. Para o Brasil acho que a primeira etapa a gente está cumprindo muito bem, prova disso é o anúncio de novos investimentos e produtos — o que já faz parte da segunda etapa. Desde o início falamos da mudança de estratégia de volume para valor, mas não significa que vamos vender carros somente na parte mais alta do segmento.

A Renault é uma marca generalista, com ofertas em todos os segmentos do mercado. Um exemplo é o novo Kwid, que tem mais tecnologia e segurança. Tudo isso agrega mais valor para os nossos clientes, e vimos que houve uma mudança dentro do nosso mix de vendas: vendemos mais Outsider (versão mais cara) do que antes. Isso porque nós colocamos mais valor nos nossos veículos. Então, acho que isso vale para o mercado de forma geral.

Guilherme – Como você vê o segmento de carros compactos populares? Ainda existe espaço para eles? Ou até mesmo os carros compactos tendem a deixar de ser considerados populares e vão rumando para ganhar mais tecnologia, outros itens de valor agregado que acabam elevando o preço?
Gondo –
Eu acho que aí há vários elementos. O primeiro é a legislação. Ao longo dos últimos anos, o Brasil evoluiu de forma bastante positiva do ponto de vista de legislação. Hoje os carros são muito mais seguros, e tudo isso devido à legislação e a novos equipamentos. Tem uma segunda parte que está ligada à demanda dos clientes, quando a gente fala, por exemplo, de conectividade.

Eles querem muito mais conectividade do que os carros ofereciam há cinco, dez, 15 anos. Um terceiro elemento está muito ligado à pressão de custos que ocorreu nos últimos anos — todo o tema dos aumentos de matéria-prima, de transporte, de frete. Isso faz com que os veículos sejam impactados. Agora, eu acho que não dá para comparar um veículo de entrada que nós vendemos hoje com carros que vendíamos dez ou 15 anos atrás, do ponto de vista de tecnologia, do ponto de vista de segurança, do ponto de vista de conectividade.

Marcus – Essa nova plataforma que será desenvolvida, CMF-B, e o motor turbo envolverão a aliança Renault-Nissan Mitsubishi? Quais serão os benefícios para o consumidor?
Gondo –
A plataforma é da aliança, mas eu não poderia falar pelas outras marcas. Do ponto de vista da Renault, o mais importante é ter competitividade, a competitividade em custos que uma plataforma comum da aliança pode proporcionar para a Renault aqui no Brasil.

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