Por Luciano Costa
SÃO PAULO (Reuters) – Usinas eólicas e termelétricas a gás deverão liderar a expansão da capacidade instalada de geração de energia no Brasil na próxima década, de acordo com versão preliminar do Plano Decenal de Energia 2029 (PDE 2029) divulgada nesta quarta-feira.
O documento do Ministério de Minas e Energia, que passará por processo de consulta pública por 30 dias, vem em momento em que o governo do presidente Jair Bolsonaro tenta incentivar a competição no mercado de gás natural para reduzir preços do insumo.
Segundo o PDE, os investimentos na expansão da oferta de gás deverão somar 33 bilhões de reais na próxima década, dos quais 9 bilhões de reais em empreendimentos já previstos e o restante em outros projetos, alguns deles “incentivados pela abertura do mercado” com o programa federal, o chamado Novo Mercado de Gás.
A estatal Empresa de Pesquisa Energética (EPE), responsável pela elaboração do plano, projetou uma possível demanda adicional de gás de 17 milhões de metros cúbicos por dia até 2029, caso as ações do governo tenham sucesso em viabilizar oferta do energético a preço-alvo de até 7 dólares por milhão de BTU.
Essa demanda seria viabilizada pelas indústrias de metanol, eteno e propeno, fertilizantes nitrogenados, pelotização, ferro-esponja, vidro, cerâmica branca e mineração, segundo a EPE.
GERAÇÃO DE ENERGIA
A matriz de geração de energia brasileira deverá passar por importante mudança ao longo da década, período em que a participação das hidrelétricas na capacidade instalada deverá cair de 64% estimados em 2020 para 49% em 2029, segundo o PDE.
O plano anterior já mostrava as hidrelétricas perdendo espaço, mas o novo aponta uma participação ainda menor da fonte, que já foi o carro-chefe da matriz brasileira.
A retração da fatia hídrica deverá ser compensada com expansão principalmente dos parques eólicos, que deverão somar 21 gigawatts em capacidade adicional nos próximos 10 anos e alcançar 17% da matriz ao final do período.
As térmicas, principalmente a gás, também serão destaque, com 20,9 gigawatts adicionais até 2029, enquanto as usinas hidrelétricas de grande porte deverão acrescentar apenas 1,8 gigawatt no período, segundo o cenário de referência da EPE.
Também terão significativo crescimento as usinas solares fotovoltaicas, com 7 gigawatts adicionais nos próximos 10 anos.
Mas a expansão solar ainda pode eventualmente mais que dobrar em cenário alternativo projetado pela EPE, em que o custo de investimento nas usinas da fonte tivesse redução de cerca de 30%.
“É estimado que, com o CAPEX menor, a expansão fotovoltaica no horizonte decenal… possa chegar a até 15.000 MW, ou seja, variando entre o indicado na expansão de referência e pouco mais que seu dobro”, apontou a estatal no PDE.
Já as instalações de geração distribuída –como solares em telhados ou regiões remotas– devem alcançar 11,4 gigawatts até 2029, com 1,3 milhão de sistemas, que exigirão quase 50 bilhões de reais em investimentos até lá.
TRANSMISSÃO, PETRÓLEO
Na área de transmissão de energia, o PDE projeta investimentos totais de 103 bilhões de reais até 2029, sendo 73 bilhões de reais em linhas e 30 bilhões em subestações.
Desse montante, 39 bilhões seriam para novas instalações, ainda não outorgadas, das quais o correspondente a 24 bilhões de reais referem-se a projetos já recomendados em estudos de planejamento.
No setor de petróleo, o plano decenal projeta aportes de entre 424 bilhões e 472 bilhões de dólares apenas para atividades de exploração e produção até 2029.
A estimativa leva em conta projeção de entrada em operação nos próximos 10 anos de 42 unidades estacionárias de produção (UEPs).
A produção em áreas da chamada cessão onerosa, incluindo volumes excedentes de áreas unitizáveis, deverá responder por cerca de 35% do total da produção brasileira de petróleo em 2029, segundo o PDE.
O pré-sal responderá por cerca de 77% da produção nacional de petróleo em 2029, “com forte participação da Bacia de Santos”, ainda de acordo com o plano.