Nos arredores de Arnstadt, na Alemanha, funcionários da Contemporary Amperex Technology, empresa chinesa conhecida pela sigla CATL, correm contra o relógio para construir a maior fábrica de baterias para carros elétricos da Europa.
Naquela área equivalente a 100 campos de futebol antes ficava uma das maiores fábricas de painéis solares do continente.
O projeto de US$ 2 bilhões — que está entre meia dúzia de fábricas de baterias que estão sendo construídas na Alemanha — preocupa autoridades europeias, que tentam desesperadamente garantir que a indústria automotiva local não perca competitividade na transição para os veículos elétricos.
As vendas desses veículos na Europa devem saltar de pouco menos de meio milhão em 2019 para 7,7 milhões em 2030, de acordo com previsões da BloombergNEF.
Esses veículos serão movidos principalmente por baterias de fabricantes asiáticas como a própria CATL, a menos que as empresas europeias reajam e montem uma cadeia de suprimentos local.
Os veículos elétricos e alternativas de transporte limpo estão no centro da iniciativa Green Deal da Comissão Europeia, que dedicará mais de € 1 trilhão (US$ 1,1 trilhão) para tornar a União Europeia neutra em emissões de carbono até 2050.
O plano inclui a substituição de grandes usinas elétricas por unidades menores e mais localizadas que sejam movidas a recursos renováveis, além de eliminar motores de combustão em ônibus, carros e caminhões.
Após a prolongada aposta no diesel, um combustível sujo, políticos europeus e líderes de empresas como Volkswagen, Daimler e BMW prometem montar uma cadeia de suprimentos mais ecológica para todos esses veículos.
“Se deixarmos a China como dona da bateria, perderemos a peça central dos carros elétricos”, avisou o vice-ministro da Economia da Alemanha, Thomas Bareiss. “Não sei se esta é a melhor abordagem para a nossa indústria automotiva.”
A Europa tem apenas pequenos empreendimentos voltados para baterias.
A maior parcela do valor de um carro elétrico fabricado na Europa pertence à Ásia: China, Coreia e Japão representam mais de 80% da produção mundial de baterias de veículos elétricos e empresas como CATL, LG Chem e Samsung SDI são donas das maiores fábricas de baterias da Europa.
Para mudar o quadro, a Comissão Europeia criou a Aliança de Baterias.
Em dezembro, aprovou a liberação de € 3,2 bilhões em ajuda para projetos aprovados ou em andamento em 17 empresas, incluindo BASF, BMW e Fortum. A medida visa incentivar investimentos em fábricas por estas e outras companhias europeias.
Os governos dos países do bloco também estão direcionando quantias elevadas para o segmento de baterias, especialmente na Alemanha.
No início de fevereiro, o ministro da Economia, Peter Altmaier, anunciou um projeto de € 5 bilhões para células de baterias na Alemanha e na França. Altmaier tem sido um dos maiores defensores do desenvolvimento de uma indústria local de baterias.
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O objetivo, segundo ele, é construir “as baterias melhores e mais sustentáveis na Alemanha e na Europa”. Não há outra opção para assegurar o sucesso das montadoras de automóveis do continente, na visão dele.
Companhias europeias — como a fabricante de materiais tecnológicos Umicore, da Bélgica, e a empresa química alemã BASF — fazem materiais para baterias, de catalisadores a cátodos.
No entanto, há pouca mineração de ingredientes importantes como o lítio e nenhuma capacidade para transformar esses recursos em baterias de alta qualidade para veículos.
Os esforços são motivados em parte pela intenção de aproximar o lítio e outros materiais da linha de produção. “O hidróxido de lítio não viaja bem”, explica Andreas Scherer, da AMG Advanced Metallurgical Group.
O material “não fica bem quando armazenado no porão de um navio por seis semanas — isso prejudica a qualidade.”
Regras ambientais rigorosas e oposição comunitária a novas minas podem frear o movimento. Proprietários de terras e grupos ambientalistas temem as emissões de poluentes associadas a esses empreendimentos.