Ainda que a democratização da tecnologia tenha rompido grandes barreiras e chegado ao alcance de todos os segmentos (seja para transformar a indústria em 4.0 ou para facilitar a distribuição de cooperativas de agricultura familiar em comunidades remotas do Brasil), são muitos os caminhos para a criação de soluções que continuem impactando positiva e efetivamente a sociedade. Quando o assunto é pagamentos eletrônicos, por exemplo, o embate travado em 2019 pelas credenciadoras de cartões na “guerra das maquininhas” chamou a atenção do mercado, direcionando olhares e estratégias para conquistar novos clientes e inserir o varejo de alto fluxo (supermercados, drogarias, restaurantes, bares, vestuário) em uma realidade além do dinheiro físico para impulsionar suas vendas.
A outra face da mesma moeda, no entanto, é que em diversos setores, a compra por meio eletrônico de pagamento ainda é incipiente. Pagamentos de serviços de saneamento, gás, energia elétrica, telecomunicações, serviços governamentais (como IPTU, multas de trânsito) e registros de conselhos regionais e entidades de classes (advocacia, medicina, engenharia e etc.) são pagos, predominantemente, em dinheiro, via transferência e com a utilização de boleto bancário.
Realizado pela IDC (International Data Corporation), o estudo “Como fintechs e bancos podem democratizar os serviços financeiros na América Latina” ouviu pouco mais de mil pessoas no Brasil, Colômbia e México sobre recursos preferenciais para pagamentos digitais, operações bancárias via internet, compras por canais on-line e empréstimos a consumidores e comerciantes por plataformas conectadas à web. A pesquisa destacou que o Brasil lidera o uso de cartões de crédito: 57% dos entrevistados relatou usar a função crédito com mais frequência do que o débito. Outro dado interessante revela que 61% dos brasileiros afirmaram recorrer a meios digitais de pagamento ou “carteiras digitais” para realizar seus pagamentos e transações. Em resumo: o consumidor está apto para utilizar e desfrutar de novas facilidades.
Apesar disso, do ponto de vista do mercado, para que mais soluções de pagamentos estejam disponíveis para todos é necessário interesse genuíno das empresas de serviços financeiros (sejam elas fintechs ou instituições tradicionais) em estudar os segmentos, dialogar com agentes governamentais – e seus fornecedores – para assumirem o protagonismo nesse processo. Outro passo fundamental é estabelecer contato com as bandeiras dos cartões de modo que passem a incentivar, por meio de política comercial, que transferências utilizando cartão de crédito possam custar menos para que novos projetos aconteçam e ganhem escala. Recentemente, em parceria com a Prefeitura de São Paulo e SPTrans, a Stone foi uma das responsáveis pelo projeto que habilita o pagamento de tarifa dos ônibus municipais via cartão de débito e crédito, além de carteiras virtuais presentes em smartphones ou smartwatches.
Para a saúde financeira das empresas e instituições “beneficiadas”, as novas alternativas de pagamento resultam em maior previsibilidade de recebível e diminuição de inadimplência de seus consumidores. Popular e bem-sucedido, o serviço de recorrência, utilizado pelo Spotify e Netflix, assegura que, mensalmente, o usuário seja cobrado em sua fatura do cartão de crédito.
A exemplo de qualquer outra estrutura para pagamentos eletrônicos, esse também é um trabalho multidisciplinar e multiorganizacional em parceria com as empresas adquirentes de cartões de crédito. Grande desafio para 2020, é possível – e extremamente necessário – costurar tecnologias já existentes para desenhar soluções que correspondam aos desafios de segmentos desassistidos.