O presidente executivo da Prio afirmou esta sexta-feira que a mudança “para o veículo elétrico é uma boa solução a longo prazo”, mas “economicamente irracional” e que a aposta nos biocombustíveis “tem mais efeitos práticos” e imediatos.
Em declarações à agência Lusa, à margem do II Congresso Internacional de Negócios, a decorrer em Aveiro, Pedro Morais Leitão explicou que a mudança para os veículos elétricos obriga a substituir o parque automóvel em Portugal, que neste momento soma mais de cinco milhões de veículos, dos quais apenas 12 mil são elétricos.
“Obviamente que [o crescimento] vai acelerar, mas mesmo acelerando muito, será otimista pensar que em 2030 teremos 600 mil veículos elétricos em Portugal. As previsões do Governo andam entre os 600 mil e um milhão, o que continua a ser uma percentagem pequena do parque total. Se o elétrico é uma percentagem pequena, não vai ser tão bem tratado como devia”, indicou.
Ou seja, esta mudança não vai acontecer “de um dia para o outro, vai ser gradual e progressiva, mesmo com incentivos”, o que significa que se há uma urgência climática, porque “o regulador diz que há”, a “solução que tem impacto amanhã e que teve impacto nos últimos anos são os biocombustíveis”. Pedro Morais Leitão quer que essa urgência seja tomada com medidas concretas e um veículo elétrico “aplica-se num circuito urbano e de curta distância”, enquanto a maior parte das pessoas “gosta de ter um veículo flexível”, e quando se passa para os pesados “a migração é sempre difícil de justificar”.
“A Carris está a fazer um grande investimento para migrar a frota para o elétrico. É um investimento que lhes custa muito dinheiro e que é feito por uma questão ambiental e não económica. Tudo o que sejam empresas a seguir critérios económicos não vão seguir isso. As empresas de transportes de mercadorias, até poderem fazer essa migração vai demorar uma eternidade. A sugestão que fazemos é aumentar a incorporação de biocombustíveis, os chamados B15”, defendeu.
Morais Leitão defendeu ainda a incorporação de biocombustíveis nos combustíveis para aviação e para a marinha. “Mudar para o elétrico é algo que, economicamente, é irracional. A solução ou é a imposição regulatória por uma questão de qualidade de vida — o Estado aceita que é um custo que tem de ter — ou, se não impõe o custo, tem de haver uma solução mais prática”, explicou.
Nesse caso, a aposta nos biocombustíveis “tem efeitos mais práticos” e a Europa “tem feito progressos nesse sentido”, mas na “prática está a forçar o passo para o elétrico e, forçar evoluções por regulações nas tecnologias, é má solução”. “Não forcemos algo que não sai naturalmente. A Prio tem interesses nisto, porque produz biocombustíveis, mas também tem uma rede de carregamento de elétricos em Portugal”, disse.
Porém, acrescentou, o que se vê hoje em dia “é que o elétrico dá muitas dores de cabeça” e pouco retorno, exemplificando com o investimento de “quatro milhões de euros” nos elétricos, ao longo dos últimos 10 anos, que geraram “receitas totais de um milhão de euros”, enquanto nos biocombustíveis, o investimento foi de “40 milhões de euros” e as receitas foram na ordem “dos 800 milhões de euros”.
“Como há poucos veículos elétricos, a redução da emissão de gases de carbono conseguida com os biocombustíveis foi muito maior do que as do elétrico. Fizemos um investimento 10 vezes maior, mas tivemos um retorno 1.000 vezes maior, quer do ponto de vista económico, como de redução de gases de carbono”, continuou.
O presidente da Prio reforçou que o “elétrico é uma boa visão, mas não é por decreto ou por alguém ter escrito no papel que o carro elétrico é melhor, mais barato e ecológico” que isso vai ser verdade, oferecendo o exemplo da Tesla que “tem um carro fantástico, mas é para ricos” e não se pode “propor como solução universal para todos”.
“A pergunta é: que queremos que aconteça de miraculoso no elétrico para que a regulação esteja apontada para ali? Se esquecemos as outras soluções contruídas entretanto, vamos estar a criar um problema. A dita urgência climática não vai ser respondida”, frisou.