A afirmação de que a produção de baterias para carros elétricos liberta tanto CO2 como oito anos de utilização de um carro a gasolina — uma conclusão de um estudo feito pelo Instituto Sueco de Pesquisa sobre o Ambiente e citado pelo Autoblogue — pode “estar correta ou não” dependo de vários pressupostos. Francisco Ferreira, da Associação Zero, explica ao Observador que “tudo depende do número de quilómetros anuais [feito pelo condutor] e das emissões do veículo a gasolina, bem como e também do local de produção e uso de materiais das baterias”.

Neste momento vários estudos indicam que produzir baterias de carros elétricos liberta uma grande quantidade de CO2, mais do que a utilização de carros a gasolina. Mas a questão é a seguinte: acaba ou não por compensar a longo prazo?

Francisco Ferreira, da Associação Zero, explica que, desde já, há uma ressalva importante a fazer: a publicação em causa refere-se a um estudo de 2017 que apontava para “valores de emissões entre 150 e 200 kgCO₂e por kWh de energia armazenada na bateria, mas baseava-se em poucos dados e associados a uma produção em pequena escala, alguns de 2010”. Um estudo mais recente da mesma entidade, mais precisamente de 2019, realça que “as baterias de veículos elétricos tornaram-se 2-3 vezes mais limpas em comparação com o referido estudo de 2017”.

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Desta forma, o especialista explica que está em causa o aumento da produção de baterias — esta é agora feita em maior escala — havendo uma variação “entre 61 e 106 kgCO₂e por kWh de energia armazenada na bateria”. “Neste momento, e tendo em conta novas tecnologias já a serem aplicadas na mineração e principalmente na produção de baterias, o valor não ultrapassa na maioria das vezes 77 kgCO₂“, afirma Francisco Ferreira.

Vamos então a contas para comparar dois veículos semelhantes de uma mesma marca: um elétrico com uma bateria de 58 kWh e outro a gasolina com uma emissão de 107 grama por quilómetro. “Concluímos que o dióxido de carbono emitido associado à bateria é de 4466 kg. As emissões no total dos oito anos do automóvel a gasolina terão igual valor se não andarmos mais de 5200 quilómetros por ano“, explica.

Assim, a afirmação só seria verdadeira se o carro a gasolina não andasse mais de 5200 quilómetros por ano. Contudo, um estudo do Observador Cetelem revelava em janeiro de 2019 que cada automobilista português percorre, em média, 16 795 quilómetros por ano, mais 800 quilómetros do que a média mundial, que é de 15 967 quilómetros.

Com este valor, a Zero ressalva que “a pegada carbónica da bateria em comparação com as emissões do uso da gasolina, equivalerão a dois anos e meio de uso do automóvel a gasolina“.

“Em todas estas contas, há ainda que considerar que o aumento da percentagem de energia renovável e a evolução tecnológica dos veículos elétricos nomeadamente na produção de baterias é superior à redução das emissões dos automóveis a gasolina, pelo que as diferenças serão cada vez maiores a favor dos elétricos”, explica Francisco Ferreira.

No relatório “Veículos elétricos, ciclo de vida e perspetivas de economia circular”, da Agência Europeia do Ambiente (AEA), de 2019, surgia a confirmação de que os carros elétricos são melhores para o ambiente e para a qualidade do ar por emitirem muito menos gases com efeito de estufa e poluentes atmosféricos em todo o seu ciclo de vida, em comparação com os veículos a gasolina ou diesel. Mas a mesma pesquisa alertava para o facto de o elétrico poluir mais na fase de produção, especialmente devido à necessidade de extração e processamento de cobre, níquel e outras matérias primas fundamentais para as baterias.

Tendo em conta os dados agora analisados pela Associação Zero, estes são valores que podem continuar a descer com uma produção de veículos elétricos em larga escala, o que pode tornar estes automóveis ainda mais eficazes em comparação com os que são movidos a gasóleo ou gasolina.

A informação é enganadora, desde logo, porque está desatualizada. Os dados utilizados partem estudo de um 2017, enquanto as pesquisas mais recentes mostram que os valores das emissões de CO2 na produção de carros elétricos têm vindo a descer ao longo dos últimos anos (um estudo dois anos depois, em 2019, já apontava que a produção de baterias era 2 a 3 vezes mais limpas. O especialista Francisco Ferreira, da Associação Zero, fez as contas e explicou ao Observador que, neste momento, a afirmação apenas seria verdadeira se um carro a gasolina não andasse mais de 5200 quilómetros por ano, o que está bastante abaixo dos valores médios em Portugal. Pelos valores médios em Portugal e no mundo, a produção de bateria — mesmo com esses números de 2017 — corresponderia a pouco mais de dois anos e meio de utilização de um carro a gasolina e não os oito indicados na publicação.

Por outro lado, é factual concluir que os veículos elétricos produzem menos gases com efeito de estufa e poluentes do ar do que os veículos tradicionais durante a sua vida, apesar de ser também evidente que este veículo é mais poluente na fase de produção e pré-produção, especialmente devido à necessidade de extração e processamento de cobre, níquel e outras matérias primas fundamentais para as baterias.

Assim, de acordo com o sistema de classificação do Observador, este conteúdo é:

ENGANADOR


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