Completando a marca de 1.000 GPs na Fórmula 1, neste domingo, a Ferrari tenta se reabilitar de uma fraca performance na temporada até agora. Mas a tarefa é difícil, na avaliação de Luciano Burti, um dos pilotos brasileiros que melhor conhece o time italiano.

Atualmente comentarista da TV Globo, ele foi piloto de testes da Ferrari entre 2002 e 2004. Neste período, perdeu as contas de quanta quilometragem acumulou no Circuito de Mugello, local de propriedade da própria equipe italiana e que receberá o GP da Toscana, neste domingo. Como na época não havia limite para os testes, estas sessões duravam dias seguidos, com acompanhamento de toda a equipe.

Bom conhecedor da pista e do time, o brasileiro acredita que a Ferrari terá que fazer esforço para não dar vexame em Mugello. E acredita que as dificuldades do time começaram em 2014, quando se iniciou a era dos motores híbridos na F-1. A dificuldade de adaptação se somou à perda de muitos bons profissionais e à pressão constante por resultados.

Confira abaixo os principais trechos da entrevista:

O que aconteceu com a Ferrari desde os tempos áureos de Schumacher?

A equipe perdeu pessoas fundamentais, como o próprio Michael Schumacher, o Jean Todt e o Ross Brawn. Ao mesmo tempo, o time já tinha Mattia Binotto naquela época, cuidando dos motores. Ele era super respeitado. Existe gente com muita competência na equipe ainda. O problema maior foi quando mudou o regulamento para o motor híbrido. A Mercedes se destacou muito e dominou. O motor foi sempre um diferencial. E a Ferrari teve esse problema no motor ano passado, quando tinha um motor extremamente potente. Mas a FIA encontrou algo, mas nunca divulgou.

Isso pode ter afetado a potência deste ano?

Sim, no ano passado, o carro tinha muita velocidade nas retas. Principalmente com uma volta apenas, por isso o sucesso nos treinos classificatórios. Mas na corrida eles eram mais lentos que a Mercedes. Para este ano, colocaram mais pressão aerodinâmica para melhorar o rendimento nas curvas. Mas acabou perdendo potência e virou uma carroça nas retas.

Como explicar essa fase tão difícil da Ferrari?

Quando se tem um carro bom na mão, a vida é mais fácil. Quando não, o piloto tenta tirar leite de pedra, acaba errando, passando do ponto. Tira pressão aerodinâmica do carro para tentar ser melhor de reta. O Leclerc (que sofreu forte batida sozinho no GP da Itália) é espetacular. Veio para se igualar a pilotos acima da média, caso de Max Verstappen e Lewis Hamilton. Mas está tentando fazer o que pode.

Você sabe como está o clima lá?

Ainda tenho amigos na equipe, apesar de muita gente ter saído nos últimos anos. Há uma panela de pressão porque a Ferrari é a Ferrari, porque tem o investimento que tem e a italianada é mais passional que os brasileiros. A imprensa lá é muito dura. Exagera um pouco às vezes. Pelo comportamento dos pilotos, já dá para ver como está o clima. Eles estão mais ríspidos até mesmo no rádio. A situação está tensa, falta performance, todo mundo está pressionado.

A equipe poderia reagir ainda nesta temporada?

Se houver alguma recuperação, é para o ano que vem. E talvez não seja o suficiente para brigar pelo campeonato, mas ao menos para não passar mais pelo vexame que tem passado. O desempenho atual não é o da Ferrari. Não lembro de ter visto um desempenho assim, tão ruim. É realmente lamentável.



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