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O Automóvel Clube do Oeste (ACO) e a Federação Internacional de Automobilismo (FIA) custaram a acertar no que miraram. Mas o que teve início de forma tímida para o Mundial de Endurance (WEC) e as 24h de Le Mans deste ano, com apenas cinco carros inscritos dentro do novo regulamento dos hipercarros – se bem que um deles nem hipercarro é, é um LMP1 para que a Alpine – leia-se Renault – seja impelida a seguir na competição –, tem tudo para marcar uma nova ‘Era de Ouro’ das corridas de longa duração.
Isso se a própria FIA deixar, porque por algumas vezes a entidade máxima do desporto automobilístico jogou contra a modalidade, especialmente no quesito regulamentos. Quando o Endurance estava no auge da popularidade e com autódromos cheios, o que fazia a turma da Place de la Concorde? ‘Matava’ o Mundial. E em 1992, quando o regulamento previa motores iguais à F1 e só restaram Toyota, Peugeot e Mazda, além de uma equipe que usava o modelo Lola com motor Judd V10, muitos deram esse tipo de evento como morto e enterrado e as 24h de Le Mans de 1993 tiveram apenas 28 carros no grid – o menor plantel da história.
O ACO bateu cabeça por muito tempo. Na ânsia de trazer a Peugeot, elaborou um estapafúrdio regulamento plug-in onde os protótipos com sistemas híbridos teriam por obrigação completar a primeira volta pós-pit-stops somente no motor elétrico. Não colou: a marca do Leão não anunciou o retorno às provas longas – das quais estava afastada desde o início de 2012, quando de última hora mudou seus planos – e o CEO da marca, o português Carlos Tavares, sempre se declarou um apaixonado pelo esporte a motor. Foram anos de trabalho: vários regulamentos foram jogados no lixo, inclusive o anunciado em 2019 quando anunciou-se os hipercarros derivados de modelos de rua e, quando veio a nova proposta da classe sucessora da LMP1, a Peugeot viu, gostou e já prepara o regresso – e em grande estilo, pois o novo 9X8, com sua proposta arrojada que abre mão do aerofólio traseiro, impressionou positivamente.
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A Ferrari, na esteira do corte de gastos da F1, limitando a R$ 800 milhões o orçamento das equipes, vai gastar parte de seu budget na construção do primeiro protótipo oficial de fábrica do construtor de Maranello em mais de meio século: desde 1973, não há nenhum carro da marca italiana na principal categoria em Le Mans e a edição dos 100 anos da clássica prova francesa terá o regresso, em grande estilo, do Cavallino Rampante. A AF Corse, tradicional equipe que representa a Ferrari no WEC e em La Sarthe, ficará a cargo de cuidar dos equipamentos.
Mas o grande acerto, que possibilitará ver um grid como nos velhos tempos, foi a convergência de regulamento com a série estadunidense IMSA, buscando não só a adesão das equipes dos EUA como também uma forma de baratear os custos a fim de atrair novos construtores, na criação da plataforma Le Mans Daytona Hybrid (LMDh), com base – a exemplo dos atuais Daytona Prototype International (DPi) nos modelos LMP2 homologados pela Federação Internacional de Automobilismo, aerodinâmica e motorização livres e sistema híbrido padronizado.
E o tiro foi certeiro. A Porsche foi a primeira a anunciar seu retorno às provas de longa duração e ao evento do qual é a maior vencedora com 19 conquistas – tendo como parceiro ninguém menos que Roger Penske e em duas frentes: IMSA e WEC, mirando uma inédita vitória da equipe do lendário Capitão em Le Mans. E sem precisar gastar muito como fez com o protótipo LMP1 919 Hybrid, possivelmente o carro mais complexo da história do automobilismo moderno.
Na esteira desse anúncio, vieram – surpreendentemente, aliás – a Audi (que também pertence ao grupo Volkswagen, dono da Porsche), a Acura (Honda) e a BMW. Os bávaros, assim como os quatrargólicos, deixam a Fórmula E com equipes oficiais e ambas as marcas alemãs miram novamente o Endurance da FIA.
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