A Ford acaba de anunciar o encerramento da produção de veículos no Brasil, com o fechamento das fábricas que a montadora mantém em Camaçari (BA), Taubaté (SP) e Horizonte (CE), onde é fabricado o utilitário 4×4 T4, da Troller.

De acordo com a companhia, as três linhas de produção terão as atividades encerradas durante este ano, “à medida em que a pandemia de Covid-19 amplia a persistente capacidade ociosa da indústria e a redução das vendas, resultando em anos de perdas significativas”.

A Ford informa que a produção de peças vai continuar mais algum tempo, para garantir estoque de componentes de reposição, enquanto três dos quatro modelos que eram fabricados aqui – Ka, Ka Sedan e EcoSport – deixam imediatamente de ser produzidos na Bahia e seguirão à venda apenas enquanto durarem os estoques.

Já o T4 segue em linha no Ceará até o quarto trimestre de 2021.

Com isso, a operação brasileira da oval azul ficará restrita à importação de modelos, como hoje acontece com o SUV Territory, trazido da China.

Por meio de nota, a Anfavea, a associação das montadoras, informa o seguinte:

“A Anfavea não vai comentar sobre o tema, trata-se de uma decisão estratégica global de uma das nossas associadas. Respeitamos e lamentamos. Mas isso corrobora o que a entidade vem alertando há mais de um ano sobre a ociosidade local, global e a falta de medidas que reduzam o Custo Brasil.”

Nova Ranger mantida

A montadora confirma que manterá a oferta da Ranger, fabricada na Argentina, e irá lançar aqui a nova geração da picape, também com produção no país vizinho. Também irá trazer para cá a nova geração do utilitário Transit, bem como outros lançamentos, como o Bronco e o Mustang Mach 1.

As operações na Argentina e no Uruguai serão mantidas, bem como permanecem em operação no Brasil o Centro de Desenvolvimento de Produto, na Bahia, o Campo de Provas, em Tatuí (SP), e sua sede regional, em São Paulo.

A marca, que já foi uma das quatro maiores do País em volume de vendas, já tinha fechado a unidade de São Bernardo do Campo (SP) em meados de 2019, onde produzia sua linha de caminhões e o Fiesta, descontinuados.

Segundo a empresa, a decisão faz parte da reestruturação global, que inclui o mercado sul-americano.

“A Ford está presente há mais de um século na América do Sul e no Brasil e sabemos que essas são ações muito difíceis, mas necessárias, para a criação de um negócio saudável e sustentável. Estamos mudando para um modelo de negócios ágil e enxuto ao encerrar a produção no Brasil, atendendo nossos consumidores com alguns dos produtos mais empolgantes do nosso portfólio global”, afirma Jim Farley, presidente e CEO da Ford.

5.000 demissões no Brasil e Argentina

A Ford informa que 5.000 funcionários serão demitidos no Brasil e na Argentina. Neste momento, a fabricante não informa a quantidade de trabalhadores por unidade.

“A companhia está definindo os planos de indenização e, nos casos em que se aplicar, ela será definida como parte do processo de negociação com os respectivos sindicatos”, afirma nota enviada para UOL Carros.

Ainda de acordo com a companhia, ela irá “trabalhar imediatamente em estreita colaboração com os sindicatos e outros parceiros no desenvolvimento de um plano justo e equilibrado para minimizar os impactos do encerramento da produção”.

‘Descontinuidade de produtos não lucrativos’

Daqui para a frente, a Ford oferecerá apenas produtos importados “de alto valor agregado”, “conectados” e “cada vez mais eletrificados”, acrescenta o comunicado.

A montadora justifica a decisão de não mais fabricar automóveis no Brasil como parte do plano de focar produtos lucrativos e obter uma margem corporativa EBIT de 8%, para gerar “fluxo sustentável de caixa”.

“Nosso time da América do Sul fez progressos significativos na transformação das nossas operações, incluindo a descontinuidade de produtos não lucrativos e a saída do segmento de caminhões. Esses esforços melhoraram os resultados nos últimos quatro trimestres, entretanto a continuidade do ambiente econômico desfavorável e a pressão adicional causada pela pandemia deixaram claro que era necessário muito mais para criar um futuro sustentável e lucrativo”, diz Lyle Watters, presidente da Ford América do Sul.

Watters acrescenta que, além da confirmação da produção da nova geração da Ranger, da chegada do Bronco, do Mustang Mach 1 e da Transit, a Ford também planeja anunciar outros modelos totalmente novos, incluindo um veículo híbrido plug-in.

Com a decisão de encerrar a operação brasileira de manufatura, a Ford prevê impacto de aproximadamente US$ 4,1 bilhões em despesas não recorrentes, incluindo cerca de US$ 2,5 bilhões em 2020 e US$ 1,6 bilhão em 2021.

A empresa acrescenta que cerca de US$ 1,6 bilhão será relacionado ao impacto contábil atribuído à baixa de créditos fiscais, depreciação acelerada e amortização de ativos fixos. Os valores remanescentes de US$ 2,5 bilhões impactarão diretamente o caixa e estão, em sua maioria, relacionados a compensações, rescisões, acordos e outros pagamentos.



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