As ambições da Fórmula 1 na área da sustentabilidade vão muito além de neutralizar todas as emissões de carbono relacionadas ao campeonato até 2030, como foi anunciado pela categoria em novembro. A principal competição de automobilismo do mundo quer ajudar a elaborar o primeiro motor do mundo livre de emissão de carbono. Os detalhes, contudo, ainda são segredo.
Mesmo assim, o Estado teve acesso a documento que revela parte dos projetos da F-1 em seu plano maior de buscar a sustentabilidade de suas atividades. “Acreditamos que a Fórmula 1 pode continuar a ser pioneira na indústria automobilística, trabalhando com a energia e os setores automotivos para entregar a primeira unidade de potência de carbono zero no mundo, derrubando as emissões de carbono pelo planeta”, diz Chase Carey, o chefão da F-1.
O objetivo da direção da categoria é se aproximar ainda mais da indústria para ampliar a eficiência dos motores híbridos, que passaram a ser adotados em 2014. A mudança foi tal que até alterou o nome deles para “unidades de potência”, unindo os velhos motores à combustão a sistemas elétricos mais sofisticados.
“Estimulando o imenso talento, a paixão e a disposição para inovar de todos os membros da comunidade da Fórmula 1, esperamos causar um impacto positivo no ambiente e nas comunidades onde atuamos”, afirma Carey, no documento que detalha o projeto de sustentabilidade da categoria.
O plano conta com duas metas, como anunciado em novembro: tornar o evento totalmente sustentável do ponto de vista do meio ambiente até 2025 e neutralizar todas as emissões de carbono relacionadas ao campeonato até 2030.
Esperamos causar um impacto positivo no ambiente e nas comunidades onde atuamos
Chase Carey, chefe da Fórmula 1
Desta forma, cada etapa do calendário terá que se tornar sustentável do ponto de vista do meio ambiente até 2025, o que vai exigir a adoção de materiais reciclados e até compostagem. Até o transporte dos fãs até os autódromos deverão passar por mudanças, ao oferecer opções mais “verdes”. Os circuitos e as áreas de convivência, como os paddocks, terão que agradar ao público e também à natureza.
Para 2030, as medidas serão mais drásticas, a começar pelos carros, alguns dos mais poluentes do automobilismo atual. Eles deverão se tornar totalmente livres de carbono. É nesta parte que entra o esforço em conjunto com a indústria na busca por motores mais eficientes e sustentáveis.
O objetivo da direção da F-1 é influenciar diretamente os carros comuns, nas ruas e estradas de todos os países. “Em sua história de 70 anos, a F-1 foi pioneira em inúmeras tecnologias e inovações que contribuíram positivamente para a sociedade e ajudaram a combater as emissões de carbono. Poucos sabem que o atual motor híbrido é o mais eficiente do mundo, entregando mais potência com menos combustível e, consequentemente, menos CO2, do que qualquer carro de rua”, argumenta Carey.
Curiosamente, as emissões dos motores correspondem a somente 0,7% do total, segundo números do ano passado. Estão aí tudo os que os 20 carros emitem ao longo de um ano, nos testes de pré-temporada, intertemporada e ao fim do campeonato, e nas 21 etapas disputadas em 2019.
LOGÍSTICA É A VILÃ
O motor não será o único grande desafio na categoria. Atualmente, a maior dificuldade será zerar as emissões causadas pela logística. Ela corresponde sozinha a 45% de um total de 256.551 toneladas de CO2 emitidos pela F-1 em 2019. Essa grande quantidade de gás carbônico foi lançado na atmosfera nas movimentações de todos os equipamentos do circo da F-1, das equipes, fornecedores e da direção, via navio, caminhão e avião.
As viagens das pessoas são o segundo maior emissor de CO2 dentro da F-1. Todas as viagens aéreas e todo o transporte por solo dos funcionários de todos os times, direção e fornecedores correspondem a 27,7% do total. O restante diz respeito a escritórios, fábricas e hospitalidade das equipes e da direção (19,3%); e eventos de transmissão, marketing, divulgação e impacto dos autódromos (7,3%).