A onda de valorização do paládio causada pela escassez crônica de oferta custou à indústria automotiva mundial US$ 18 bilhões nos últimos 12 meses, segundo um novo relatório do banco americano Citigroup.

O preço do metal prateado aumentou mais de 80% nos últimos 12 meses, com os consumidores industriais suando para conseguir o ingrediente, crucial para os carros híbridos e para os conversores catalíticos de carros a gasolina.

Analistas do Citigroup acreditam que a alta desenfreada nos preços — o paládio atingiu o recorde de mais de US$ 2,5 mil por onça-troy na semana passada — espremeu os fluxos de caixa e custou à indústria automotiva US$ 18 bilhões em 2019. O metal já ultrapassou o ouro, que é negociado atualmente em torno de US$ 1,560 mil a onça-troy.

“Os metais do grupo da platina [que inclui o paládio] agora representam impressionantes 15% do fluxo de caixa das montadoras mundiais, em comparação aos 7% de um ano atrás e aos 4% de três anos atrás”, escreveu o analista Max Layton, do Citigroup, em relatório, destacando que seus cálculos não levam em conta operações de hedge que os compradores possam ter feito.

Layton acrescentou que os números são ainda maiores para as montadoras com alta exposição às vendas de veículos a gasolina, que precisam de mais paládio e ródio em seus catalisadores.

Um dos grandes fatores por trás do aumento nos preços tem sido a demanda da China, onde as montadoras precisam cumprir exigências mais rigorosas contra poluição do ar. Isso levou a um aumento na quantidade de paládio usada nos catalisadores. A peça usa o paládio para converter emissões tóxicas, como o monóxido de carbono e o óxido de nitrogênio, em dióxido de carbono, água e nitrogênio.

A oferta, por sua vez, não conseguiu acompanhar o ritmo da demanda e os estoques diminuíram, uma vez que o paládio é produzido paralelamente à platina ou ao níquel — commodities cujos novos projetos de exploração têm sido raros.

Analistas, porém, destacaram que a onda de alta poderia perder força se as montadoras começarem a substituir o paládio pela platina, mais barata.

“De acordo com alguns cálculos, 25% [do paládio] pode ser substituído por platina nos veículos a gasolina em 18 a 24 meses e isso já pode estar em andamento”, disse Layton. Diante dos preços atuais, o analista não está convencido de que continuar apostando na alta do paládio compensa os riscos. “Se for esse o caso, isso poderia afetar gradualmente o mercado a partir de 2021 e provavelmente afetar substancialmente o mercado a partir de 2022.”

Ainda assim, as montadoras, que investem bilhões de dólares nos veículos elétricos, podem não estar dispostas a trocar um metal pelo outro. O Citigroup acredita que a maior ameaça aos preços do mercado é o reforço das vendas a partir dos estoques da Rússia, uma vez que a maior produtora de paládio do país, a Norilsk, inunda o mercado justamente para impedir essa substituição. O Global Palladium Fund, da Norislk, criado em 2016, forneceu 1 milhão de onças-troy de paládio tanto em 2017 quanto em 2018, de acordo com o Scotiabank, o que contribuiu para conter os preços.

A recente alta do paládio (mais de 25% só neste ano), no entanto, indica que a oferta do metal está muito baixa ou que a demanda cresceu excepcionalmente, segundo Nicky Shiels, estrategista de commodities no Scotiabank, em Nova York.

A alta no preço do paládio também trouxe algumas consequências inesperadas. A polícia de Londres alertou os donos de carros quanto à possibilidade de roubos de catalisadores. A Toyota, fabricante do carro híbrido Prius, aconselhou os motoristas no Reino Unido a comprarem a trava “Catloc”, que impede a retirada do catalisador.

O cenário também elevou as ações de produtoras como a Norilsk, Anglo American e Sibanye Gold. Os papéis desta última, que são negociados em Johannesburgo, mais do que dobraram de valor desde setembro.

Analistas acreditam que a unidade de produção de platina da Anglo American, que tem ações negociadas separadamente, também na África do Sul, poderia pagar um dividendo especial neste ano.

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