Por Luiz Humberto Monteiro Pereira
Agência AutoMotrix
Uma teoria corrente entre executivos das marcas automotivas premium que atuam no Brasil afirma: na impossibilidade de fazer viagens internacionais por conta da pandemia do coronavírus, muitos milionários resolveram “se recompensar” trocando de carro. Se não dá para ostentar esquiando em Aspen ou surfando nas Ilhas Maldivas, o jeito é comprar veículos mais requintados. Verdade ou não, alguns automóveis muito caros andam vendendo bem por aqui. Em abril, logo no início da pandemia, a Audi desembarcou no Brasil o utilitário esportivo e-Tron, seu primeiro veículo 100% elétrico. Importado da Bélgica por preços que variam de R$ 499.990 a R$ 539.990, tornou-se o elétrico mais vendido do país – com as cento e duas unidades emplacadas até agosto, superou as noventa e cinco de 2020 do Chevrolet Bolt (que custa menos da metade do e-Tron). O desempenho estimulou a marca das quatro argolas a trazer agora o e-Tron Sportback, com preços que começam em R$ 511.990.
As duas configurações de carroceria do e-Tron partilham plataforma e motor. São praticamente idênticas até a chamada “coluna B” – a que fica entre as portas dianteiras e traseiras. Daí para trás, a Sportback exibe uma traseira mais rebaixada, com o desenho característico dos cupês. O estilo rendeu ainda uma redução no coeficiente aerodinâmico, que é de 0,27 cx no utilitário esportivo e de 0,25 cx no “SUV-cupê” – em ambos os modelos, esses índices são obtidos com os retrovisores externos com câmeras (opcionais disponíveis apenas para a versão “top” Performance Black). O menor coeficiente aerodinâmico trouxe o “efeito colateral” de aumentar em dez quilômetros a autonomia da Sportback em relação ao e-Tron SUV – são 446 quilômetros no ciclo europeu WLTP. As dimensões dos dois e-Tron são idênticas: 4,90 metros de comprimento, 2,04 metros de largura e 1,61 metro de altura, com entre-eixos de 2,93 metros. O novato herda a característica grade Singleframe de design octogonal, com linhas verticais e horizontais. Na borda inferior dos faróis em forma de “L”, quatro faixas horizontais criam a assinatura e-Tron nas luzes diurnas. Na lateral, destaca-se o logotipo e-Tron na cor laranja na tampa de abertura para acoplar o carregador e as rodas de 21 polegadas. Atrás, as lanternas preservam o design inaugurado no Q8 e a ausência dos escapamentos deixa claro que se trata de um veículo com zero emissão de hidrocarbonetos.
Como o e-Tron SUV, o Sportback tem dois motores elétricos que entregam 408 cavalos de potência e 67,7 kgfm de torque – distribuídos em 183,6 cavalos e 31,5 kgfm na frente e 224,4 cavalos e 36,2 kgfm no traseiro. Com torque instantâneo, como qualquer veículo elétrico, a aceleração de zero a 100 km/h ocorre em 5,7 segundos e a velocidade máxima é de 200 km/h limitada eletronicamente – desempenho idêntico ao da versão SUV. O sistema de baterias de íons de lítio é composto por trinta e seis módulos, pesa cerca de 700 quilos e pode ser recarregado desde uma tomada simples de 110V até as de alta tensão. Ele armazena 95 kWh de energia bruta e fica embaixo do habitáculo. Segundo a Audi, em estações de recarga ultra rápida de 150 kW, é possível “abastecer” até 80% da bateria em trinta minutos. Durante as desacelerações, a bateria é recarregada pelos motores elétricos, que atuam como geradores nessas situações.
A versão Performance, que parte de R$ 511.990, traz bancos dianteiros elétricos em couro com ajuste lombar, suspensão a ar adaptativa, ar-condicionado de quatro zonas, teto solar elétrico panorâmico, volante com ajuste elétrico de altura, projeção da palavra e-Tron na abertura de todas as portas, luzes internas personalizáveis com trinta opções, faróis full-led, controle de cruzeiro adaptativo com assistente de saída de faixa, abertura e fechamento elétrico do porta-malas com sistema “hands-free”, auxílio de estacionamento com display 360 graus, indicador de pressão dos pneus e oito airbags. O multimídia MMI vem com sistema de navegação e interface para smartphones com sistema iOS e Android. Há também o Virtual Cockpit Plus, no qual é possível escolher entre duas configurações, além do sistema de som Bang & Olufsen 3D com dezesseis alto-falantes. Já a versão Performance Black, que começa em R$ 551.990, agrega bancos dianteiros esportivos em Alcântara, acabamento interno na cor cinza Volcano e teto interior na cor preta. Por fora, ostenta o kit S Line com soleiras em alumínio e iluminadas, capa do retrovisor externo na cor preta, frisos decorativos em High Gloss Black e pinças de freio laranja.
Para quem não acha a Performance Black suficientemente equipada, há opcionais como os retrovisores virtuais (R$ 13 mil), faróis full-led Matrix HD (R$ 13 mil) e o Side Assist (R$ 8 mil), que engloba tecnologias como o Pre Sense traseiro (reconhece a iminência de uma colisão e regula o tensionamento dos cintos dianteiros, posicionamento de banco e fechamento de teto solar e vidros), o Exit Warning Assist (aviso de perigo quando os passageiros estão saindo do veículo), o Side Assist (aviso de perigo em mudança de faixa) e o Assistente de Tráfego Reverso (informa sobre a possibilidade de um acidente ao se fazer uma manobra traseira). Para ambas as versões, há opcionais de pintura metálica (R$ 2.600) e o Pacote Tecnológico (R$ 26 mil), que contempla head-up display, Pre Sense dianteiro e o Night Vision Assist, que melhora a visibilidade noturna. Dá para levar a fatura do e-Tron Sportback “top” para acima dos R$ 600 mil.
As quatorze concessionárias Audi com a bandeira e-Tron têm pontos de carga rápida DC de 22 kW. Estão localizadas em Belo Horizonte, Brasília, Campo Grande, Curitiba, Londrina, Florianópolis, Porto Alegre, Recife, Rio de Janeiro, Vitória e quatro em São Paulo. Até 2022, a Audi pretende instalar duzentos pontos de infraestrutura de recarga em shoppings, academias, hotéis e restaurantes nas regiões onde há concessionárias. A marca tem ainda uma parceria com a Porsche, a Volkswagen e a EDP (subsidiária brasileira da empresa portuguesa de distribuição de energia elétrica) para instalar trinta estações de recarga rápida em rodovias brasileiras. Até o fim de 2021, a Audi quer trazer mais dois modelos elétricos: o e-Tron Sportback S e e-Tron GT.
Experiência a bordo e lugar singular
O e-Tron Sportback tem espaço generoso para cinco ocupantes e bagagens. Como não tem o eixo cardã, não há o túnel central, o que oferece mais conforto no assento central do banco de trás. A capacidade de bagagem é de 555 litros e, com o banco traseiro rebatido, aumenta para 1.665 litros. Na parte frontal, sob o capô, há um compartimento de 60 litros que acomoda o kit de ferramentas e o cabo do carregador.
No painel e no console central estão os dois displays do MMI Touch, de 10,1 e 8,6 polegadas. Pelo superior, é possível controlar informações, entretenimento e navegação. No inferior, gerencia-se entrada de texto, funções de conforto e ar-condicionado. Com o opcional de retrovisores com câmeras, as imagens capturadas aparecem em displays posicionados entre o painel de instrumentos e a porta. Se o motorista mover o dedo pela superfície do display sensível ao toque, são ativados símbolos que permitem reposicionar a imagem. Contudo, a localização das telas em que as imagens são reproduzidas é mais baixa em relação à dos retrovisores externos convencionais. Demora um pouco para se acostumar com isso.
Primeiras impressões e admirável mundo novo
Como é característico dos veículos elétricos, o ruído do motor do e-Tron Sportback praticamente não existe. Ao acionar o botão de partida, é necessário consultar o painel para confirmar se o carro está ligado – auditivamente, é impossível perceber. Os ruídos aerodinâmicos e do contato dos pneus com o asfalto também são discretíssimos, porque o isolamento acústico é primoroso.
Na primeira acelerada forte, a performance dinâmica se revela impressionante para um utilitário esportivo de 2,5 toneladas. O fato do elevado torque máximo de 67,7 kgfm ser disponibilizado de forma instantânea transmite uma sensação inusitada e arrebatadora – quase como se o motorista estivesse acelerando um foguete espacial. Com a prática, aprende-se a usar o acelerador com a devida sutileza.
O e-Tron Sportback oferece três níveis de recuperação de energia, reguláveis por meio de comandos posicionados atrás do volante – onde normalmente ficam os “paddles shifts” das marchas. O nível máximo de recuperação possibilita usar apenas um pedal – como no e-Pedal apresentado em 2017 no Nissan Leaf, o carro se imobiliza gradualmente quando o motorista alivia a pressão no acelerador.
Nas curvas rápidas, a suspensão com molas pneumáticas e amortecedores de dureza variável ajuda a atenuar o rolamento. Ela se adapta às diferentes situações do solo e permite ao novo “SUV-cupê” elétrico da Audi esbanjar equilíbrio. O peso das baterias no assoalho ajudou a criar um improvável SUV com centro de gravidade baixo. Com comportamento dinâmico de um esportivo, o e-Tron Sportback se revela um veículo divertido e tão tecnológico que chega a ser um tanto perturbador em um primeiro contato. Mas os afortunados donos se acostumarão rapidamente às novidades.
Ficha Técnica
Audi e-Tron Sportback
Motores: dianteiro (135 kW) e traseiro (165 kW) elétricos, transversais e trifásicos
Potência combinada: 408 cavalos
Torque combinado: 67,7 kgfm
Câmbio: uma marcha e uma a ré. Tração integral
Direção: elétrica
Suspensão: independente, multilink nas quatro rodas com molas pneumáticas
Freios: discos ventilados na dianteira e sólidos na traseira
Rodas e pneus: liga leve, 265/45 R21
Dimensões: 4,90 metros de comprimento, 2,04 metros de largura, 1,61 metro de altura e 2,93 metros de entre-eixos
Porta-malas: 660 litros
Peso: 2.555 kg
Preços: a partir de R$ 511.990 na versão Performance e de R$ 551.990 na Performance Black
Fotos: Luiza Kreitlon/Agência AutoMotrix
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Escrito por Redação, no dia 26/09/2020