O hidrogênio verde é um combustível que pode modificar a realidade energética do Brasil. Saiba mais sobre esse combustível e suas aplicações!
O Hidrogênio verde será um dos combustíveis mais importantes do futuro, especialmente quando se fala do futuro econômico do Brasil. Em muitos aspectos o hidrogênio vem assumindo um papel importante como uma das fontes de energia do futuro, mas existia um ponto sobre sua produção que ainda precisava ser melhorado: sua forma de obtenção.
O fato do hidrogênio não ser encontrado de forma natural e o processo de eletrólise da água, que durante muitos anos foi o procedimento que muitos acreditavam ser possível, não ser tão eficiente a ponto de gerar o material necessário, fizeram com que essa tecnologia fosse postergada.
Nesse sentido, a indústria química criou diversas formas de obtenção do hidrogênio, o que é ótimo para o aspecto energético e econômico do elemento como produto, mas ruim para o meio ambiente, porque a maioria dessas formas acabava usando algum combustível fóssil para acontecer, o que acaba gerando carbono na atmosfera. O hidrogênio verde, feito com base no etanol, entretanto, é diferente nesse sentido.
Em um cenário em que o etanol passa a ter grande relevância para o mundo da energia verde, é importante explicar que o Brasil já vem, desde o século passado, desenvolvendo tecnologias relacionadas ao uso do etanol combustível, o que associado com a grande produção de cana de açúcar do país, gera um prognóstico positivo para o futuro do Brasil como um dos protagonistas nessa forma de energia limpa, que pode ser usada tanto para veículos quanto para obter energia elétrica.
Estes são alguns motivos pelo quais é importante prestar atenção na produção de hidrogênio verde, quais são as vantagem que o hidrogênio oferece como combustível e porque diversas montadoras já acreditam mais no carro movido à célula de hidrogênio do que no carro plug-in.
A ciência por trás do hidrogênio verde
O que faz o hidrogênio verde ter essa denominação, como deve ter ficado claro, tem relação direta com o fato de que esse hidrogênio seja produzido de forma a não ter “pegada de carbono”, ou seja, que ele seja produzido por uma fonte limpa.
Como as duas formas mais comuns de obtenção do hidrogênio são por meio de queima de material ( que gera resíduo de carbono, mas em alguns processos esse resíduo é retido) e por meio de eletrólise, o hidrogênio verde precisa ser feito por meio dessa segunda forma, e a energia usada no processo de eletrólise precisa ser feito com energia elétrica também obtida de forma limpa, ou ele deixa de ser verde.
Com uma matriz elétrica composta principalmente por usinas hidrelétricas, a mais extensa produção de cana de açúcar, além de tecnologia disponível por meio de pesquisas nacionais e participações internacionais, o Brasil tem potencial para se tornar uma verdadeira potência dentro desse processo.
Como o hidrogênio verde pode se tornar uma vantagem para o Brasil?
A resposta é simples, mas o desafio para transformar esse conceito em realidade é um pouco mais complexa que isso. O Hidrogênio verde é de fácil produção no Brasil, e existem diversas formas de trabalhar a sua distribuição, o que ainda está em disputa entre diversas empresas.
Tanto que por isso mesmo já existem veículos movidos à célula de hidrogênio para impulsão elétrica.
Este é, inclusive, um aspecto importante de salientar. Existem duas formas principais de utilização do hidrogênio como combustível para veículos:
- A combustão do próprio hidrogênio: não é tão diferente energeticamente falando de todos os outros combustíveis utilizados atualmente, embora seja consideravelmente menos poluente, por não gerar carbono na queima.
- O uso do hidrogênio em células de energia para carros elétricos: esse método é muito mais eficiente e realmente faz com que o hidrogênio seja considerado um dos combustíveis do futuro, pois além de dar mais autonomia e facilidade de recarga aos carros elétricos, ele ainda consegue aumentar a eficiência do combustível por 50%, em média.
De acordo com Enio Peres da Silva, coordenador do laboratório de hidrogênio da Unicamp e pesquisador do Centro Nacional de referência em energia do hidrogênio “A Associação da economia do hidrogênio representa a forma mais eficiente e menos impactante de utilização deste biocombustível, praticamente dobrando a sua disponibilidade para substituição de combustíveis não renováveis em todo mundo o que poderia significar para o Brasil além de posição de maior produtor também é de maior exportador de energia renovável do mundo”;.
Em resumo, se o Brasil conseguir realmente conseguir se destacar na transformação do etanol em hidrogênio, pode existir uma promoção do país a protagonista nesse novo mercado, já que é muito difícil para qualquer concorrente competir com o Brasil quando o assunto for geração de hidrogênio verde.
O que vem sendo feito para a produção de hidrogênio verde no Brasil?
Existem pesquisas tanto dentro das universidades brasileiras quanto em parcerias internacionais para a aplicação mais eficiente desse potencial de transformação do etanol em hidrogênio.
Nesse sentido, existem diversas iniciativas, com destaque para o já citado laboratório de hidrogênio da Universidade de Campinas ( UNICAMP) e os diversos estudos focados nessa tecnologia pela Universidade Federal do Ceará (UFC), que vem trabalhando soluções para a criação do Hub de hidrogênio verde no Ceará, que contará com apoio internacional para sua criação.
O investimento de 34 milhões de Euros na produção de hidrogênio Verde no Brasil anunciado pela agência alemã de cooperação internacional vai ajudar a promover o mercado do hidrogênio Verde no Brasil.
A iniciativa foi chamada de H2 Brasil e iniciará com a construção de uma planta piloto de eletrólise que terá a capacidade total de 5 MW. Além disso, um dos objetivos do governo alemão é ajudar a criar um Marco do Hidrogênio no Brasil, ajudando outras empresas a se inserirem nesse mercado.
Um dos aspectos mais interessantes a respeito desta parceria é que a Alemanha está auxiliando o Brasil no desenvolvimento desta tecnologia e ainda se tornará um de seus maiores compradores de Hidrogênio Verde.
Desta forma, a Alemanha acaba nos auxiliando não apenas com as iniciativas de transferência de tecnologia, mas também ajuda a criar o mercado consumidor para este recurso que está sendo desenvolvido no país.
Logicamente, a contrapartida da Alemanha parte do pressuposto de que ela precisa de ajuda para conseguir atingir as metas de descarbonização apontadas no Tratado de Paris e reforçadas na última COP 26.
Outra questão importante em cima de ser lembrada é que o Brasil é o país que possui mais indústrias alemãs fora da Alemanha, sendo que as empresas dessa parceria têm participação de cerca de 12% do PIB brasileiro.
Inicialmente, foram anunciadas obras nesse sentido tanto em Minas Gerais quanto no Ceará e espera-se que, possivelmente, sejam anunciados projetos similares no estado de São Paulo, estado que vem se mantendo nos últimos anos como o maior produtor de cana-de-açúcar do país.
Qual o risco do uso do hidrogênio e porque o seu “irmão” verde pode ser a solução?
Uma das maiores questões sobre o uso do hidrogênio como combustível para veículos terrestres é o fato de que eles são muito mais instáveis e voláteis do que outros combustíveis, o que causaria muitos acidentes de grande proporção.
Nesse sentido, o uso do hidrogênio para abastecer células de energia de veículos elétricos é uma alternativa interessante. Existe também a possibilidade de a eletrólise distribuída do etanol, que faz, por exemplo, com que não seja necessário o transporte de grandes quantidades de hidrogênio, em algo parecido com caminhão tanque, como é feito atualmente.
Ou seja, o processo de transformação do etanol em hidrogênio seria feito diretamente na bomba de combustível ou até dentro do próprio veículo.
Além de permitir que o hidrogênio verde seja produzido de forma otimizada, a utilização segura do hidrogênio como combustível e gerador de energia são os desafios que os especialistas estão buscando neste momento, sendo uma das últimas barreiras para que o hidrogênio verde realmente se torne uma potência no mercado.
Qual seria o impacto da utilização do hidrogênio verde no Brasil e no mundo?
É importante ter em mente que nem tudo são flores nesse processo de modificação de matriz energética.
O plantio de cana-de-açúcar, que já é uma monocultura de grande importância para a economia do país ( correspondendo a cerca de 2% do PIB brasileiro, em média) pode crescer ainda mais, contando com o adicional de que somos o maior produtor de cana de açúcar do mundo.
Acontece que com a cana de açúcar se tornando mais interessante financeiramente, poderia ocorrer que agricultores de outras culturas as deixassem de lado para começar a plantar cana, o que poderia gerar problemas com a produção de alimentos e outros commodities agrários, como a soja.
É importante lembrar que a soja faz parte de uma série de produtos, tanto para consumo humano quanto para consumo animal, e o aumento no preço da soja desencadearia uma série de outros aumentos, que podem afetar negativamente a cesta básica.
Ou seja, o ideal neste caso para que a este mercado crescente não desequilibrasse a produção de outros alimentos seriam políticas de estímulo à produção de outras canas que não fossem a cana-de-açúcar para produção de energia ou biocombustível, seja por meio da compra de partes da safra para recriar o banco de alimentos público, uma reserva de alimentos que o governo mantém para conseguir interferir no preço dos alimentos de forma indireta, mas eficiente, seja por subsídios fiscais ou facilitação de crédito.
Outro aspecto que precisa ser ressaltado é que ser uma matriz energética de zero carbono e ter zero impacto ambiental são duas coisas diferentes, especialmente quando falamos em agricultura.
Com o aumento da demanda por cana de açúcar, a ameaça que paira sobre nossas áreas de preservação também cresce. Acaba se tornando ainda mais indispensável, em um cenário como esse,que a fiscalização para que não exista a destruição desnecessária do bioma em busca de mais espaço para a plantação de cana.
Outra forma de fazer com que essa revolução não fique tão dependente do plantio da cana é reforçar os investimentos na área de beneficiamento e tecnologia, que já tem um bom início com o investimento alemão e, com os resultados que já vem oferecendo, pode oferecer ao Brasil o poder de se tornar um centro de beneficiamento de etanol.
Sendo assim, como acontece com tantos outros países hoje em dia, que possuem muitas refinarias mas não produzem tanto petróleo cru, o Brasil poderia começar a importar cana de açúcar e fazê-la render com todo o processo de beneficiamento.
Já fora do país, é possível dizer que seria um excelente momento econômico para outros países tropicais, onde a cana de açúcar pudesse ser plantada. O que se sabe é que, além do Brasil, o Chile também está atento ao mercado de hidrogênio verde, e isso pode levar a algumas disputas comerciais dentro do Mercosul nos próximos anos.
Hidrogênio verde ou carros plug-in: qual vencerá?
Essa é uma discussão que vem oferecendo pontos de vista interessantes de ambos os lados. Apesar de serem mais simples de se inserir na nossa realidade atual, os carros elétricos plugin podem ser “falsos verdes”, já que, basicamente, podem consumir energia elétrica produzida por termelétricas à carvão, o que não ajuda em nada no processo de descarbonização.
Isso já não acontece com os carros movidos à hidrogênio verde, embora existam todos os desafios que já foram citados.
Além disso, existe toda a questão da renovação da frota de veículos e de todo o processo de retirar os veículos a combustíveis fósseis de circulação.
Esse processo vai depender de políticas e também de demanda, e um dos motivos pelo qual o banco de cooperação internacional alemão está investindo no hub de hidrogênio verde tem também relação com a escolha de praticamente todas as grandes montadoras alemãs pela tecnologia.
Acontece que, neste exato momento, mesmo essas montadoras estão investindo pesadamente nos projetos de carros plugin, embora também invistam nos carros à célula de hidrogênio.
Isso porque esses veículos são mais aplicáveis à realidade atual, como já comentamos, e com a mudança do carro a combustível fóssil ao elétrico sendo feita mais rapidamente, as metas de descarbonização podem ser atendidas com mais tranquilidade.
Existe também a probabilidade de que esse novo combustível também seja a forma de substituir o gás ou carvão mineral, que ainda são muito importantes para a matriz energética de muitos dos países europeus.
De toda a forma, pode-se perceber que o hidrogênio verde possui grande potencial para o futuro, e o Brasil tem um enorme potencial para se tornar um dos protagonistas dessa nova tecnologia.