O Honda Civic de 10ª geração é seguramente um dos melhores carros fabricados no Brasil. Entretanto, são cada vez mais fortes os rumores de que a Honda deixará de fabricar o Civic no Brasil. Os motivos seriam três: 1) preferência do público por SUVs; 2) forte queda nas vendas dos sedãs médios; 3) alto custo dos equipamentos eletrônicos devido à desvalorização do real perante as principais moedas.
A Honda não confirma que o Civic sairá de linha. Mas também não dá pistas de que a nova geração do Civic será fabricada no Brasil; pelo contrário, há um novo modelo programado para produção no país, o novíssimo City Hatchback, lançado semana passada na Tailândia. Nos EUA, a Honda já tirou de linha o Civic cupê (vendido no Brasil apenas na versão esportiva Si).
A Honda não estará sozinha se desistir do mercado de sedãs médios. A GM também deixou de gastar energia e recursos no Chevrolet Cruze, que é produzido na Argentina e também deverá ser descontinuado. O caso da Honda, entretanto, é diferente do caso da GM. A Honda não tem um sedã campeão de vendas, como o Chevrolet Onix Plus. Se desistir do Civic, para além de decepcionar milhares de consumidores, a Honda passará a atuar num terreno minado.
Está no DNA da Honda do Brasil cobrar mais pelos seus carros do que a concorrência. A razão é a confiabilidade da marca, construída ao longo de décadas com as motos da linha CG, com as vitórias de Nelson Piquet e Ayrton Senna na Fórmula 1 e, finalmente, com o baixo histórico de quebras de seus carros. O Civic foi o primeiro carro produzido pela Honda no Brasil, a partir de 1997, já em sua sexta geração.
De lá para cá, o Honda Civic rivalizou com o Toyota Corolla e chegou a ser líder do segmento. Embora tenha perdido essa briga para o Corolla, o Civic foi o porto seguro no qual a Honda atracou seu discurso de confiabilidade, repassada para modelos como Fit, City, WR-V e, principalmente, HR-V. Sem o Civic, a Honda perderá sua referência. Pior do que isso: vai se posicionar como uma marca comum, porém sem o volume de marcas como Chevrolet, Fiat e Volkswagen.
Se abrir mão do Civic — um carro sensacional, com um comportamento dinâmico superior ao do Toyota Corolla –, a Honda perderá seu carro de referência. Segundo o site Autoo, o novo City seria o carro-chefe da Honda para introduzir no país a tecnologia híbrida com o motor 1.5 e o sistema i-MMD, que entrega 108 cv de potência e 253 Nm de torque.
Como noticiamos na semana passada, o novo City Hatchback estreou na Tailândia em três versões com motor 1.0 turbo de 122 cavalos. O destaque deste motor é o baixo consumo: faz 23,8 km/l de gasolina. Seja com motor 1.0 turbo ou com 1.5 híbrido, o Honda City híbrido não será barato, o que pode fazer da Honda uma marca mais de nicho do que de volume no Brasil. Essa estratégia é perigosa: pode funcionar num momento de crise econômica, mas é um tiro no pé a longo prazo.
A Honda já tem uma rede de revendas robusta no Brasil e seus concessionários precisam de volume. Atualmente, a marca tem um bom posicionamento no mercado brasileiro. Em 2020, a Honda ocupa o 9º lugar no ranking de vendas, com 65,5 mil emplacamentos até outubro. No patamar das marcas de volume, a Honda ganha atualmente apenas da Nissan, que vendeu 49,4 mil carros.
O Honda Civic vendeu 15,2 mil unidades este ano (até outubro). É metade do volume alcançado pelo Toyota Corolla (31 mil), cujo maior mérito foi ter introduzido o sistema híbrido em carros de volume. A Honda perdeu essa corrida, pelo menos em sua primeira parte. Agora, para recuperar terreno, não deveria sacrificar justamente o Civic, que é seu modelo de referência.
O City, que é um compacto superior, não tem carisma. Vendeu apenas 5,6 mil unidades este ano. É um bom carro, muito melhor do que a fama lhe confere, mas, para ser o carro-chefe da Honda, vai precisar de um enorme investimento de marketing — para criar uma imagem que o Civic já tem. É verdade que o câmbio desfavorável jogou na estratosfera os custos de equipamentos eletrônicos de conectividade, segurança e assistência à condução — cada vez mais exigidos no segmento de sedãs médios –, mas parar de fabricar o Civic seria jogar fora 20 anos de história.
A futura geração do Civic já foi revelada há cerca de 10 dias nos EUA. O novo Honda Civic terá uma mudança radical em suas formas. A ousadia da 10ª geração ficará no passado. O novo Civic será bem mais conservador, seguindo o estilo preferido pela Toyota com o Corolla. As linhas ainda são de um sedã-cupê, mas o carro será bem mais discreto. O Civic revelado no protótipo será um pouco mais longo e mais largo do que seu antecessor. A ideia é preencher a lacuna deixada pelo sedã de luxo Accord, que saiu de linha. A carroceria angular do Civic atual deu lugar a uma carroceria muito mais limpa.
A ideia é aumentar o apelo do carro globalmente, pois alguns mercados rejeitam um design ousado. É o caso do Brasil. Com linhas mais convencionais, o Honda Civic tem mais chance de fazer sucesso no Brasil. Não foram poucos os consumidores que rejeitaram o Civic da 10ª geração. Até 2022, quando a nova geração do Civic estreará no Brasil, a Honda precisa deixar mais claro se o carro continuará ou não a ser produzido no Brasil. Mesmo que não o faça oficialmente, que dê pistas, caso ele vá continuar. Assim, manterá a confiança dos consumidores que ainda escolhem o modelo.