Os dias de problemas com o dono de um imóvel alugado acabaram: tudo pode ser resolvido com uma administração profissional. Por meio de um aplicativo, você pode pedir consertos no apartamento, um aluguel de carro, um delivery de comida e até mesmo a troca para outra residência. Sua nova casa terá cerca de 21 m², mas você se acostumará a usar os espaços compartilhados.
Para a Housi, uma startup de gestão de residências alugadas, esse será o futuro da habitação. “É para quem não quer mais comprar um imóvel, mas sim ter um membership [filiação a um clube] de moradia e fazer parte de uma comunidade”, diz o fundador Alexandre Frankel.
Criada em janeiro de 2019 em São Paulo, a Housi intermedeia 1,2 mil locações na cidade. Até o final deste ano, quer quintuplicar de tamanho na comparação com dezembro de 2019. Para cumprir a meta, fará uso de diversas estratégias: lançamento de hotéis cápsulas com quartos de 2 m², conexão de aplicativos de startups à sua plataforma e expansão para mais sete capitais.
Ideia de negócio: plataforma digital para residências
A Housi surgiu a partir da construtora Vitacon. Fundada por Frankel em 2010, ela apostou em imóveis perto de locais de trabalho ou de opções de mobilidade, mas compactos. Em seus dez anos, a Vitacon passou de imóveis de 38 m² para os de 21 m² e investiu em áreas compartilhadas de trabalho, de eventos e de cinema.
Com metragem reduzida, o valor de compra também ficou menor para os futuros moradores. A estratégia fez a Vitacon crescer, principalmente a partir de 2017. Enquanto isso, o mercado de imóveis ainda ensaiava uma retomada. A imobiliária construiu mais de 70 prédios e teve um ano recorde em 2019, com R$ 1,5 bilhão em vendas de imóveis. Em 2020, espera crescer 50%.
A ideia para a criação da Housi veio da área de atendimento a investidores da Vitacon. Hoje, mais de 90% dos clientes da imobiliária compram imóveis para alugá-los e colher rendimentos. Esses investidores não querem se preocupar com mobiliar as propriedades e administrar os anúncios online. Dessa demanda surgiu uma oportunidade de negócio.
Em dezembro de 2019, a Housi recebeu um aporte de R$ 50 milhões do fundo Redpoint eventures para investir em tecnologia, captação de usuários e crescimento. Atualmente, a plataforma tem R$ 3 bilhões em imóveis sob gestão.
A maioria dos clientes da Housi tem entre 17 e 40 anos de idade. São desde estudantes a recém-casados e divorciados. Os idosos também estão começando a chegar à plataforma em busca de imóveis acessíveis e que precisam de uma manutenção menor. As famílias maiores ainda precisam ser conquistadas, mas Frankel afirma que “o comportamento de compra está mudando rapidamente.”
Estratégia de crescimento: superaplicativo para a vida
A Housi reúne tanto imóveis para alugar da própria Vitacon quanto de outras imobiliárias. O aluguel parte de R$ 100 a diária e inclui taxas como o Imposto Predial e Territorial Urbano (IPTU) e as contas de água, energia, gás e internet.
Além de livrar o inquilino da negociação desses serviços e do relacionamento com o locador do imóvel, Frankel afirma que outra vantagem é a facilidade em trocar de apartamento pela Housi. “O número de mudanças de casa pelo dinamismo da vida, seja um novo emprego ou uma família aumentando, pode saltar de um para dez. Em outros países isso já acontece e modelos flexíveis de locação se encaixam muito bem.”
Outra estratégia para fidelizar o usuário da plataforma é a inserção de serviços de outros aplicativos nos prédios administrados pela Housi. O edifício VN Ueno, no bairro paulistano da Bela Vista, foi o primeiro a receber facilidades como cadeiras massageadoras para fazer manicure e pedicure (da startup Singu); estações para alugar carros, bicicletas e patinetes elétricas (das empresas Grow, Lev, Movida e Turbi); salas para consultas médicas (da startup Docway); congeladores com marmitas artesanais (da startup Apptite) e armários para entrega de comida (do aplicativo iFood).
A última cartada para crescer da Housi é ambiciosa: popularizar na capital paulista os hotéis cápsulas, famosos no Japão. A empresa tem em sua plataforma uma unidade construída pela Vitacon na Vila Olímpia, bairro paulistano de alto poder aquisitivo, com diária de R$ 150. O quarto se resume a uma cama de 2 m² e um armário com toalhas. O banheiro e o espaço para alimentação são compartilhados.
Segundo Frankel, os clientes mais comuns são funcionários do mercado financeiro ou executivos que precisam de um espaço para tomar banho ou para dormir após uma madrugada de trabalho ou um evento no bairro. Outro público são os familiares e amigos de quem tem um imóvel compacto sem espaço para hospedá-los.
Um novo hotel está sendo construído perto da Avenida Paulista, ícone da cidade de São Paulo. Outra estratégia é destinar alguns andares de prédios da Vitacon para abrigar as cápsulas, em um modelo híbrido de residência e hospedagem.
Segundo o fundador da Housi, 30% do mercado imobiliário da capital paulista é formado por residências alugadas. A porcentagem poderia ultrapassar os 50% em 10 anos. A Housi também pretende chegar a outras sete capitais até o final deste ano. No fim de 2019, ela começou a operar em Porto Alegre (Rio Grande do Sul).
Neste ano, o negócio tem como meta chegar a R$ 15 bilhões sob gestão. Para concretizá-la, voltará à esteira do capital de risco: a Housi planeja uma nova rodada de investimentos para o primeiro semestre deste ano. Os imóveis são compactos, mas a ambição é grande.
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