O mercado de carros elétricos no Brasil será de 180 mil a 200 mil unidades vendidas por ano em 2030. Estamos preparados?
O caminho pela eletrificação aponta o futuro na indústria automotiva. A urgência pela eficiência energética, ao lado das premissas de responsabilidade ambiental, faz com que o investimento em tecnologias limpas no setor tome uma proporção ampliada. Os carros elétricos seguem essa direção. Uma realidade mais palpável em outros países, é verdade, mas o mercado automobilístico brasileiro não se esquiva dessa que é uma necessidade premente.
Os carros elétricos são movidos à bateria, que deve ser conectada e carregada por energia elétrica, enquanto os híbridos utilizam um motor elétrico e um motor movido à gasolina ou etanol. “A preocupação com o meio ambiente tem provocado uma verdadeira revolução na indústria automotiva. O assunto está na ‘crista da onda’ em função de todo o apelo existente para redução das emissões de gases do efeito estufa em todo o mundo”, pontua o sócio fundador da Auto Maia Veículos, Flávio Maia. A partir de 2030, alguns países da Europa terão a produção de carros a combustão proibida. “Pode parecer distante, mas estamos falando de dez anos”.
Este é um desafio inegável que surte alguns questionamentos. Será que o Brasil dispõe de condições para um aumento abrupto deste segmento na indústria nacional? Com a abertura de mercado, é possível tornar os carros elétricos mais acessíveis ao público médio? E quanto à manutenção, carregamento, infraestrutura – o que considerar?
As possibilidades de aumentar a presença dos carros elétricos no Brasil não esbarram só no preço – a tecnologia nesse sentido ainda é muito cara. Por mais eficientes que sejam esses tipos de veículos, é importante lembrar que eles precisam ser recarregados e bem cuidados.
Empresários do setor automotivo projetam, no entanto, o barateamento das baterias nos próximos anos, por enquanto, entre as principais limitações para a viabilidade desses automóveis. Neste cenário futuro, a expectativa é de um enorme potencial comercial a ser explorado, principalmente com um nível maior de produção. O caminho do veículo será conectado, elétrico, autônomo e compartilhado.
Até então, o ano de 2017 foi um marco quando se trata dos avanços no mercado de carros elétricos. O número de veículos do gênero ultrapassou 3,1 milhões ao redor do planeta, na trajetória para uma evolução estável e satisfatória. Nos primeiros seis meses de 2020, quase 800 mil veículos eletrificados foram registrados na Europa. Na Noruega, a intenção é eliminar os veículos a diesel e gasolina até 2025, e a Alemanha projeta essa realidade para 2031.
Na China, o objetivo é aumentar a fabricação em 12% em 2020. A União Europeia decidiu por uma diminuição de 30% na emissão de carbono nas frotas das montadoras até 2030, com meta de redução de 15% até 2025 – com isso, o número de modelos elétricos à disposição dos consumidores disparou.
Desafio – No Brasil, outro desafio para a implementação da frota de elétricos passa pela questão tributária. Até pouco tempo atrás, esses veículos possuíam a maior alíquota de Imposto sobre Produtos Industrializados (IPI) da indústria automotiva: 25%. No governo Michel Temer, aconteceu a redução dos impostos sobre elétricos e híbridos para uma faixa entre 7% e 20%, mas isso não refletiu na redução dos preços, que continuam altos.
Para implementar essa tecnologia no País, seria necessária uma redução tributária, a criação de planos de incentivo e subsídios às montadoras e desenvolvedores locais de veículos, tudo em consonância com as possibilidades da matriz energética nacional.
Ainda que não de imediato, o Brasil poderá se adequar para receber mais carros elétricos se o panorama for de abertura de mercado, acordos de livre comércio e investimentos em pesquisa e desenvolvimento em novas tecnologias.
Por aqui, a Empresa de Pesquisa Energética (EPE), do Ministério das Minas e Energia (MME), projeta que em 2030 as vendas de carros eletrificados acelerem, chegando a um volume que garantiria participação de 3,5% em um estimado mercado interno de 5 milhões de unidades. Mas isso ainda depende do crescimento econômico, manutenção do crédito, redução do desemprego e evolução do mercado consumidor.
Pelo compromisso estabelecido pelo Acordo de Paris, o Brasil deve reduzir as emissões de gases do efeito estufa em 37% até 2025, e o transporte é uma das grandes ferramentas para mudar este cenário, já que parte expressiva dos agentes poluidores vem daí. A perspectiva está em conduzir a eletrificação e, em paralelo, elevar a eficiência das outras tecnologias. Os motores flex devem equipar 90% da frota de automóveis até 2030.
Os primeiros híbridos a chegarem no Brasil foram o Prius, da Toyota, e o Fusion, da Ford. O primeiro produzido no País foi o Corolla Altis Híbrido. Por três anos, o único carro elétrico no País era o BMW i3. Até 2019, o Brasil ganhou mais cinco modelos: JAC IEV, Renault Zoe, Chevrolet Bolt, Nissan Leaf e o Jaguar I-Pace. “Já o ano de 2020 foi marcado por uma invasão de carros de luxo elétricos no Brasil. Entre os principais, a Mercedes com o EQC-400, a Audi com o E-Tron, e a Porsche com o Taycan”, explica o sócio fundador da Auto MAIA Veículos, Flávio Maia.
O empresário lembra que um dos principais gargalos para o crescimento da procura pelos elétricos por aqui, além do preço salgado, é a autonomia. O primeiro que chegou ao Brasil tinha uma autonomia de 150 quilômetros entre uma recarga e outra. O Porsche Taycan, lançado em outubro, garante uma autonomia de 400 quilômetros e, para 2021, está previsto o lançamento do Tesla Roadster, com impressionantes 1 mil quilômetros de autonomia. “A Volvo, por sua vez, pretende eletrificar toda a sua linha no Brasil até 2022”, acrescenta Flavio Maia.
Segundo pesquisa realizada nos seis primeiros meses de 2020, apenas 0,29% dos carros vendidos foram elétricos. “O baixo volume de vendas dos carros elétricos se dá ao preço elevado”, diz Flavio Maia. O modelo mais barato no País é o chinês JAC IEV20, que parte de R$ 143 mil. Na sequência, o compacto Renault Zoe, com preço estipulado de R$149.990.Em comparação, o híbrido Corolla Altis, bem mais alinhado ao gosto brasileiro, custa R$140.028.
A Associação Brasileira de Veículos Elétricos (ABVE) prevê encerrar oano de 2020 com 19 mil veículos eletrificados (elétricos e híbridos) vendidos no Brasil, o que corresponde a um aumento de 60% em relação a 2019, e de 378% em relação a 2018. O Boston Consulting Group (BCG) estima que, em 2030, os carros elétricos vão representar 5% da frota brasileira, com vendas de 180 mil a 200 mil unidades ao ano.
Marketing – A forma de apresentar os lançamentos está mudando entre as montadoras. Se antes as novidades costumavam chegar pelos salões de automóveis, agora as redes sociais ganham relevância na divulgação dos carros novos. O que não falta são influencers digitais contratados para testar os modelos. “Uma nova forma também de conexão com milhares de pessoas, um público consumidor em potencial ampliado”, afirma Flávio Maia, que também é diretor de Marketing e Planejamento da Associação Revendedores de Veículos de Minas Gerais (Assovemg).
O Itaú Unibanco anunciou em 12 de novembro um serviço que promete acelerar a procura no segmento. O Vec Itaú é um sistema de compartilhamento de veículos elétricos, que permitirá que os usuários desbloqueiem os carros em estações espalhadas pela cidade diretamente pelo celular, podendo devolvê-los na mesma ou em outra estação de carregamento – como acontece com as bicicletas compartilhadas.
O rápido crescimento do mercado global de carros elétricos trará desafios cada vez mais complexos à cadeia produtiva desse tipo de veículo, com mudanças significativas na indústria. Os carros elétricos vêm, cada vez mais, se firmando e confirmando a tese de serem o futuro do setor automotivo.
Ao mesmo tempo, os híbridos também se destacam. Junto com as tendências dos autônomos, da conectividade e do compartilhamento, o carro elétrico pode ser a maior transformação no ramo automotivo mundial, se tornando, ainda, o ápice da tecnologia na área de transporte.