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Mas a falta de matéria prima, como chips eletrônicos, semicondutores, plástico, borracha e aço, está derrubando a cadeia de produção automotiva novamente, a ponto de já ter levado a GM a paralisar a produção de Onix e Onix Plus em Gravataí por três semanas

Os componentes eletrônicos são parte crucial na montagem de sistemas de aceleração, frenagem, iluminação e controle de cruzeiro em veículos, por exemplo, enquanto o aço é o principal elemento da estrutura. Plástico e borracha são usados em peças de acabamento e isolamento, além dos pneus. Todos estão em falta.

Em relação aos chips e semicondutores, a situação parece ser ainda mais complicada, devido à competição com outras áreas tecnológicas da indústria. A indústria automotiva responde por apenas 12% de toda a demanda global por chips.

Como as fabricantes chinesas – principais produtoras do componente – estão com as operações reduzidas, a reposição do item está focada na alimentação das indústrias de celulares, televisores e games, os setores que mais necessitam desses itens.

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

Em coletiva de imprensa na manhã desta sexta-feira (5), o presidente da Anfavea (associação nacional dos fabricantes de veículos instalados no país), Luiz Carlos Moraes, confirmou que a reposição dos eletrônicos é a mais complicada. 

“O problema dos semicondutores é global, afetou nossas empresas em todo o mundo e é mais complexo, por isso demorará mais tempo a ser resolvido. Eu acho que até o final do ano teremos muitas emoções na questão da produção”, disse.

Sem uma previsão da normalização no suprimento de semicondutores, o colapso – que já começou a acontecer – das linhas de montagem das montadoras no Brasil parece cada vez mais próximo do inevitável nos próximos meses.

Fontes próximas ao grupo Stellantis afirmam que as fábricas da Fiat em Betim (MG) e de Fiat e Jeep em Goiana (PE) estão sofrendo com a falta de peças. Em Minas Gerais, a situação é mais complexa: “Em Goiana, está todo mundo atrás de peças, mas ainda não faltou. Em Betim, vários Fiat Argo chegaram a ficar parados no setor de qualidade por até 30 dias esperando peças para completar a montagem. Peças bestas, como tampa do motor”, relatou um informante.

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A reportagem da Mobiauto procurou a Stellantis, que afirmou que o complexo de Betim vai “dar férias de 10 a 20 de março a um pequeno grupo de trabalhadores (um turno de uma das três linhas de produção), para ajustar a produção ao volume de entregas de componentes. Os itens críticos são aço e eletrônicos”.

A tendência, no momento, é priorizar a produção de modelos mais caros e rentáveis. No caso da Stellantis, os modelos feitos em Goiana, Jeep Renegade e Compass, e Fiat Toro, assim como a nova Fiat Strada e o Argo, são prioridades.

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

A GM optou por suspender a montagem de Onix e Onix Plus no RS para não comprometer a entrega do SUV Tracker em São Caetano do Sul (SP). Ao mesmo tempo, vai reduzir o ritmo de fabricação da picape S10 e do suvão Trailblazer em São José dos Campos (SP).

A Honda paralisou a montagem de Fit, City e Civic em Sumaré (SP), mas segue produzindo HR-V e WR-V em Itirapina (SP).

A Nissan adotou uma atitude ainda mais agressiva para seguir com a reposição de peças. Diferente do Grupo FCA, que pode escolher qual produto produzir, a empresa japonesa tem uma gama de opções mais enxuta no Brasil e aposta todas as fichas no recém-renovado Kicks.

O modelo foi apresentado oficialmente na quinta-feira (25) e tem previsão de chegada às lojas na segunda quinzena de março. 

Para que ele não sofra de falta de estoque antes mesmo de ser apresentado aos compradores, a marca japonesa está usando aviões e helicópteros para transportar as peças necessárias até a planta de Resende (RJ).

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Crise nas vendas diretas

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

Se comprar como Pessoa Física está difícil, no mercado de vendas diretas está mais complicado ainda. Com a falta de insumos para produzir de forma regular, as fabricantes estão escolhendo não apenas o que vai para a linha de montagem, mas que clientes serão contemplados com a produção. 

Nesse segundo caso, vence quem dá mais lucro por unidade vendida, que é a venda no varejo, geralmente a preços de tabela cheios (ou até com ágio, se a demanda estiver muito alta em relação ao estoque). Vendas diretas costumam ter margens reduzidas. 

Por conta da escassez, a Stellantis suspendeu as vendas diretas da minivan/furgão Doblò e do hatch Uno

De acordo com nossas apurações, a Chevrolet já não tem mais faturado Montana, S10, Trailblazer, Cruze e Equinox nessa modalidade de venda. A Renault também suspendeu vendas diretas de Sandero e Captur, focando nas do Kwid (e ainda com fila de espera).

Das líderes de mercado, apenas a Volkswagen mantém veículos na venda direta, mas com prazos de 120, 150 e 180 dias, respectivamente, para entregar Gol, Saveiro e Nivus comprados com CNPJ.

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Paralisação das linhas

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

Quem não se planejou e estocou componentes tem passado por dias difíceis, sendo obrigado a reduzir ou suspender a produção dos veículos. Segundo o presidente da Anfavea, nos próximos meses mais veículos podem ter a fabricação interrompida devido à falta de matéria-prima.

“Essa questão não está resolvida e o risco de interrupções momentâneas continua sendo permanente. A indústria terá que se ajustar a um novo patamar de ritmo de produção e ir retomando aos poucos, de maneira equilibrada”, afirmou Moraes.

No caso da Honda, a interrupção na produção de Fit, City e Civic, vai de 1º a 10 de março, deixando os trabalhadores da fábrica de Sumaré (SP) em férias coletivas.

Em resposta ao contato de nossa reportagem, a marca japonesa afirmou que a falta de componentes afeta mais a produção do sedan médio do que a dupla de compactos. No entanto, a paralisação da fábrica será geral. 

“A parada de produção na fábrica de Sumaré-SP, que acontece até o dia 10 de março, inclui os três modelos atualmente produzidos na unidade – Fit, City e Civic. Contudo, a interrupção no fornecimento de semicondutores impacta a produção do modelo Civic”, comunicou a Honda, que não falou sobre a situação de WR-V e HR-V em Itirapina (SP). Estes, por enquanto, seguem normalmente em linha.

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Mas o caso da Honda não é tão grave quanto o da Chevrolet. Nas outras marcas citadas, os modelos que tiveram produção suspensa possuem volume baixo de vendas: Fiat Uno e Doblo, citados por Quatro Rodas, e o Honda Civic registraram em fevereiro último 1.963, 439 e 1.677 emplacamentos, respectivamente – veja o ranking de mais vendidos aqui.

No caso da marca norte-americana, a falta de insumos interrompeu a produção de Onix e Onix Plus na planta de Gravataí (RS) por 21 dias, como já antecipou Mobiauto. Hatch e sedan são, atualmente, primeiro e quarto veículos mais vendidos do Brasil, com 10.261 e 6.501 unidades comercializadas no mês passado, respectivamente.

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

Com a paralisação, o Onix deve perder a liderança dos mais vendidos no mercado de zero-quilômetro sem ter data prevista para retomar o trono, já que o retorno das operações deve ser tomado de forma gradativa.

Procurada pela Mobiauto, a empresa não entrou em detalhes sobre a suspensão da produção, mas confirmou as férias coletivas na planta localizada no sul do país. 

“A fábrica de Gravataí está em férias coletivas programadas de 1 a 20 de março. Essas férias são para manutenção e atualização da linha de montagem”, resumiu em nota.

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De acordo com o sindicato da região, após as férias, a fábrica terá como foco a formação de novos estoques dos veículos por duas semanas. Em 5 de abril, a planta deve voltar em apenas um turno às atividades. Os funcionários ociosos terão os contratos de trabalho suspensos, através do regime de lay off, por um período de dois a cinco meses, a partir desta data.

Caso o estoque não se normalize após esse prazo, há a possibilidade de o lay off ser prorrogado por mais cinco meses. Durante esse tempo, os trabalhadores dispensados receberão uma remuneração chamada “bolsa de qualificação”. A GM não comentou esta parte da informação.

Fabricantes se desdobram para não paralisar produção por completo em meio a baixos estoques de aço, plástico, borracha e eletrônicos

Além da parada da fábrica de Gravataí, a Chevrolet reduzirá a produção na planta de São José dos Campos, que é responsável pela produção de S10 e Traiblazer – sim, ambos já foram citados anteriormente e estão entre os veículos que já não são mais encontrados na venda direta. 

De acordo com o sindicato dos metalúrgicos da região, por falta de peças, a empresa anunciou a suspensão de 600 contratos em regime de lay off até dia 2 de maio. A reportagem da Mobiauto procurou novamente a empresa para saber se outros veículos podem ser prejudicados com a falta de material, mas não foi respondida até a publicação deste texto.

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Até o momento, apenas Hyundai e Toyota afirmaram que não estão com problemas com falta de componentes. A marca sul-coreana afirma que “a produção segue em ritmo normal.”

Já a Toyota diz que o controle do sistema de produção foi crucial para a manutenção produtiva. “Acompanhamos de perto com nossos fornecedores e estamos cobertos, por enquanto, graças a um controle muito preciso de nosso sistema de produção (TPS)”, disse a marca em nota à Mobiauto.

A nossa reportagem também procurou a Volkswagen, mas não obteve resposta até o fechamento da reportagem.

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