Foi no começo do ano que a FCA confirmou a estreia do Jeep Compass híbrido no Brasil ainda em 2020.
Só que muita coisa mudou desde então: o Salão do Automóvel (palco da apresentação oficial do carro) foi adiado para o ano que vem e a pandemia forçou a empresa a mudar seu planejamento. Assim, a nova versão do SUV ficou para 2021.
Enquanto isso, os europeus já conhecem o Compass 4xe (nomenclatura dada pela marca aos veículos híbridos e que também é aplicada nas versões eletrificadas de Renegade e Wrangler) desde junho. Foi lá que UOL Carros pôde dirigi-lo e traz agora suas impressões.
O Compass 4xe usa a mesma plataforma do Renegade (e do Fiat Tipo e do 500X, modelos do grupo FCA na Europa). Em comparação com o ‘irmão’, que também terá uma versão híbrida no Brasil, se destaca por um acabamento de melhor qualidade, saídas de ventilação diretas para os lugares traseiros e pequenas diferenças no painel de bordo.
O painel chega com a instrumentação TFT e a central multimídia tátil de 8,4″, que pode ser facilmente ligada a smartphones Android Auto ou Apple Carplay e que mostra um funcionamento razoavelmente intuitivo, mesmo que os gráficos não sejam os mais modernos do mercado.
Em relação aos Compass não híbridos plug-in, esse se diferencia pelos menus e informação específica que diz respeito à parte elétrica e híbrida, o que quer dizer que temos os conhecidos três botões na transição do console para o painel de bordo que servem para selecionar os modos de funcionamento.
São eles Hybrid (motor a gasolina e os dois elétricos trabalham juntos), Electric (100% elétrico enquanto a bateria tem carga, sendo a autonomia máxima de 50 km e a velocidade máxima de 130 km/h) e e-Save (que pode servir para manter a carga da bateria ou para usar o motor de gasolina para carregar a mesma até um máximo de 80%).
Ao lado esquerdo está colocado o comando redondo Select-Terrain para optar entre cinco modos de condução: Auto, Sport (que os outros Compass não têm), Snow (neve), Sand/Mud (Areia/Lama) e, apenas no Trailhawk, Rock (pedras). Cada uma dessas posições interfere com a resposta das ajudas eletrônicas, motor e câmbio automático de 6 velocidades.
A posição de dirigir adequada é simples de regular, fruto dos amplos ajustes em altura e profundidade da coluna de direção e da altura do assento. A maior parte dos comandos estão bem posicionados, exceto os da ventilação e os dos modos de dirigir e de propulsão, que estão demasiadamente baixos e obrigam o motorista a desviar o olhar da estrada para usa-los.
190 cv e 50 km elétricos
A novidade principal aqui é, então, a motorização híbrida, que junta o motor 1.3 litros (aqui com 130 cv) a dois motores elétricos, um no eixo traseiro (60 cv) e outro menor acoplado ao motor na frente do carro – o que deixa o modelo com rendimento máximo de 190 cv.
O sistema é alimentado por uma bateria de íons de lítio de 11,4 kWh (9,1 líquidos), instalada no piso do carro, do centro para trás e que pode ser carregada em carregadores domésticos de 3 kW, em 3,5 horas, até 7,4 kW – potência do carregador de bordo -, em 1h40m.
Como habitualmente, é o componente mais pesado deste híbrido plug-in e projeta o peso total deste modelo para cerca de 1,9 toneladas, aproximadamente 350 quilos mais do que a mesma versão movida apenas por motor a gasolina. O motor elétrico dianteiro ajuda o de 4 cilindros nas acelerações e pode atuar como gerador de alta voltagem, enquanto o traseiro conta com engrenagem de redução e um diferencial integrado.
Uma das particularidades deste sistema é ele que impede que a bateria fique sem energia nenhuma, mesmo quando a autonomia elétrica indicada é zero. Isso ocorre para que o eixo traseiro tenha sempre força para participar na locomoção do Compass 4xe de maneira que nunca deixe de funcionar como 4×4 elétrico, que é o que a sigla promete.
Outra promessa importante é a da autonomia elétrica, que a Jeep diz rondar os 49 a 52 km e que poderão até ser mais do que isso se o Compass não sair da cidade, ou bem menos se passar a maior parte do tempo em vias rápidas (uma carga completa a 2,3 kW faz-se em cinco horas e numa Wallbox de 7,4 kW em 1h40m).
Neste aspeto posso admitir que a autonomia elétrica real não fique muito longe da anunciada oficialmente, a avaliar pelo indicado como média de consumo elétrico no computador de bordo no fim do trajeto de 110 km nos arredores da pista de testes do Grupo Fiat, em Balocco (Itália).
Já o consumo de gasolina ficou bastante acima do esperado – mesmo que os 47,6 km/l homologados fossem difíceis de obter, até porque em teste acabamos sempre por submeter o carro a esforços mais exigentes do que o seu motorista no dia-a-dia. Mas os 11,5 km/l registrados são muito altos, ainda mais tendo seguido as indicações da seleção de modos de dirigir de acordo com o percurso.
Como atenuante, vale ressaltar que o teste não visava chegar ao final com o menor nível de consumo, mas sim garantir que a bateria tivesse carga suficiente para que outro jornalista que testaria o carro em seguida não tivesse que aguardar demais para que o Compass 4xe estivesse pronto para dirigir.
Rápido e silencioso
O arranque é feito em modo elétrico, e assim dá para seguir até os 130 km/h. A recuperação de energia tem dois níveis definidos pelo próprio motorista com um botão junto ao de estacionamento. Em uns trecho de 10 km de estrada ziguezagueante, a um ritmo mais rápido, a carga na bateria foi maior no fim do trecho que no início, o que mostra que as fortes freadas e desacelerações foram bem aproveitadas em termos de recuperação de energia.
A eletricidade ajuda bastante nas acelerações e retomas de velocidade, e se pensarmos que são 270 Nm do motor a gasolina e 250 Nm do elétrico traseiro (ainda que não disponíveis em sua totalidade ao mesmo tempo), dá para perceber que o 4xe é o Compass mais esportivo da família.
Mesmo não sendo esta a versão de 240 cv, os 7,9s de 0 a 100 km/h são prova disso, e também de que os 350 kg que o plug-in pesa a mais do que a versão 1.3 a gasolina são mais do que compensados pelo acréscimo de potência/torque.
Bom comportamento, mas direção muito leve
Para além do melhorado isolamento acústico (face ao Renegade), o Compass aproveita-se da altura inferior da carroceria para ser sempre mais estável do que o “irmão”, convencendo na plenitude a esse nível, sendo que as pesadas baterias colocadas perto do solo permitem que seu centro de gravidade seja realmente baixo.
Positivo é também o efeito da tração nas quatro rodas mesmo em asfalto, que ajuda a limitar a tendência de subviragem que seria natural caso a totalidade da potência/torque fosse entregue ao eixo dianteiro.
Pior é a impressão deixada pela direção, sempre muito leve e pouco comunicativa, enquanto a caixa automática de dupla embreagem deixou sentimentos mistos: positivos porque se mostra menos hesitante, negativos porque no modo Sport acaba por ser brusca e por reter a mudança engrenada durante tempo a mais (melhor usar no programa Auto).
De maneira geral, a impressão inicial foi boa. Comportamento equilibrado, interior espaçoso e porta-malas que quase nada perde pela instalação do sistema híbrido são alguns dos seus pontos mais fortes.
Ficha técnica
Jeep Compass 4xe
Motor: 1.3, 16V, 4 cilindros em linha, injeção direta, turbo, gasolina; motor elétrico traseiro
Potência: 130 cv (gasolina) / 60 cv (elétrico)
Potência combinada: 190 cv
Torque: 27,5 kgfm (gasolina) a 1.850 rpm / 25,5 kgfm (elétrico)
Torque combinado: n/d
Câmbio: automatizado de dupla embreagem, 6 velocidades
Tração: 4×4
Suspensão: independente, McPherson (diant. e tras.)
Freios: Discos ventilados (diant.) / Discos sólidos (tras.)
Direção: elétrica
Diâmetro de raio: 11,07 m
Dimensões: comprimento: 4,39 m / largura: 1,87 m / altura: 1,64 m / entre eixos: 2,63 m
Porta-malas: 420 litros
Tanque: 36,5 litros
Peso: 1860 kg
Pneus: n/d
Velocidade máxima: 183 km/h
0 a 100 km/h: 7,9 s
Consumo misto: 43,4 km/l (média)
Bateria: posição central-traseira, íons de lítio
Tempo de recarga: 5h (em potência de 2,3 kW) / 1h40min (7,4 kW)
Preço (estimado): 44 700 euros