A Mercedes-Benz lançou em São Paulo o EQC, seu SUV totalmente elétrico e concorrente direto do Jaguar I-Pace.

A marca alemã não abriu a data exata ou o preço do novo carro no país. Um modelo foi trazido da Alemanha para treinar a assistência técnica no Brasil, o que sinaliza que o produto deve estar disponível em breve no mercado nacional.

Em Portugal, um EQC sai por aproximadamente 80 mil euros, mesma faixa de preço do I-Pace, que no Brasil está saindo por R$ 437 mil. 

Globalmente, o carro concorre também com o Audi e-Tron e com o Tesla X. Já é sabido que a BMW também está preparando algo para este mercado. 

É uma briga feroz no âmago de um mercado exclusivíssimo e diferenciadíssimo de carros de luxo tamanho família. Adicione-se que o carros elétricos são a última moda entre os ricos e famosos, e temos aí uma mistura explosiva, que pode levar uma montadora ao estrelato ou ao ocaso. 

É o caso do Audi e-Tron que, apesar de ter gasto uma fortuna neste anúncio de gosto duvidoso no intervalo do Superbowl, não emplacou bons reviews da imprensa especializada e empacou nas vendas. 

O carro da marca das quatro argolas falhou no projeto de engenharia e o resultado é um carro de não impressiona pela beleza, tampouco pelo desempenho. Uma preocupação à menos para seus concorrentes, portanto. 

Já o EQC é um prodígio da engenharia. Ele faz de 0 a 100km/h em cinco segundos e sua bateria é capaz de rodar até 470 quilômetros antes de zerar por completo. Nada mal para um carro grande e gordo. 

Além disso, a Mercedes inventou um recurso que une a conectividade automotiva com eficiência energética. Funciona assim: você está indo pela estrada e o carro percebe – por geolocalização – que existe um posto de recarga rápida mais à frente. 

Presumindo que o motorista irá parar para reabastecer, o carro pré-aquece as baterias para que no momento da parada, o sistema esteja na temperatura ideal para uma recarga mais rápida. Genial. 

O EQC é o primeiro da série EQ, prefixo criado pela Mercedes para seus elétricos. Para completar a família, são esperados o EQE, o EQX e o EQA, conhecidos hoje apenas como concept cars de feiras automotivas, mas que devem dar as caras até 2022, talvez antes. 

MERCADO

Com o lançamento (bom, meio lançamento) da Mercedes Benz, o  mercado brasileiro já conta com sete carros elétricos disponíveis e é possível começar a falar de uma linha de elétricos no país.

Meio ano atrás, o Brasil tinha apenas um modelo de carro elétrico à venda para o consumidor final.

O BMW i3 foi o pioneiro. Na sequência, vieram o Renault Zoe, o Chevrolet Bolt e o Nissan Leaf, todos estes lançados durante o último Salão do Automóvel de São Paulo. Já as vendas do JAC IEV 40 começaram em abril deste ano. 

Mas não está sendo fácil para os early adopters. O Zoe, mais barato entre os citados, parece um Sandero, mas custa R$ 150 mil,  quase três vezes mais. 

O Bolt e o Leaf, saem na faixa dos R$ 175 mil. Caso fossem movidos à gasolina, estariam na mesma categoria de Chevrolet Cruze, que é 65% mais barato. O JAC IEV 40 sai por R$ 153 mil e o BMW i3, por R$ 200 mil.

OTIMISMO

Os preços até agora reforçam um argumento que eu escuto com frequência: “carro elétrico é muito caro, não vai dar certo nunca”.  

Em 2011, quando os smartphones se popularizaram, eles custavam em US$ 348, em média. Hoje, custam US$ 214. Uma redução de 39% em menos de uma década. O mesmo fenômeno ocorreu com outros eletrônicos: rádio, TV, DVD e por aí vai. Podemos esperar o mesmo dos carros elétricos? Ao que tudo indica, sim.

As baterias são as grandes vilãs do preço. Estima-se que 40% do valor contido em um EV hoje estão nas baterias. A tecnologia do íon-lítio possibilitou o ressurgimento dos carros elétricos. Mas é, ao mesmo tempo, um fator limitante. 

Apesar de ser um elemento abundante, as reservas atuais não estavam preparadas para a demanda rampante. A Panasonic, fornecedora da Tesla, já mandou avisar que está tendo dificuldades em acompanhar o aumento da demanda. 

No velho continente, quem mais investe na eletrificação de frota são os alemães, que já se deram conta do pepino que é depender da Ásia para o suprimento de acumuladores de energia.

Mas então, qual é a razão do meu otimismo?

Simples: inovação.

Por exemplo, duas startups, uma na Estônia e outra na Inglaterra, desenvolveram ultracapacitores que podem resolver o problema das baterias. Ultracapacitores não as substituem, mas atuam em conjunto, fazendo com que elas tenham um rendimento superior. 

Além disso, já existem em fase experimental baterias de grafeno. Estas sim têm potencial para revolucionar o mercado, já que tudo indica que serão muito energéticas e potencialmente mais baratas que as atuais. 

Isso é apenas o que sabemos à luz do dia. Não só a indústria automobilística está em busca da bateria perfeita, mas também as empresas aeroespaciais, que estão de olho no mercado de drones de passageiros. 

Voltando ao presente, é natural que de início somente os endinheirados se disponham a comprar um carro elétrico para se exibir para o vizinho. Toda novidade começa assim. Por outro lado, em algumas cidades, o veículo elétrico já é uma ação de saúde pública. 

Assistimos pela TV a poluição de Xangai durante os jogos olímpicos. Por lá, a adoção de ônibus elétricos, ainda incipiente no Brasil, já é massiva, assim como em Shenzhen.    

Ainda não sabemos quando a eletrificação de frota tomará conta das ruas e dos postos de beira de estrada do Brasil. Pode ser em 2023, 2030 ou 2040. 

Porém, é muito difícil acreditar que, depois de todas as montadoras estarem se preparando para a virada para o carro elétrico e depois do Acordo de Paris, ainda sigamos respirando carbono em excesso por mais um século. 

* Carlos Martins é idealizador da E-24, a primeira corrida de carros 100% elétrica do Brasil e escreve para o Baguete sobre temas relacionados com indústria automobilística e mobilidade. Confira o blog da E-24.  



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