Moraes Moreira, fundador dos Novos Baianos e um dos mais importantes nomes da música brasileira, morreu hoje aos 72 anos. Ao longo de sua história ao lado do grupo que o consagrou e de sua rica carreira solo, o músico acumulou curiosidades e preciosidades em quase seis décadas de carreira.

Veja a seguir dez fatos que você (provavelmente) não sabia sobre Moraes Moreira:

Foi bancário e desistiu da medicina

Moraes Moreira saiu de Ituaçu, na Bahia, e foi morar na capital, Salvador, em 1966. Lá, arrumou emprego em um banco para se manter na pensão enquanto sonhava com a faculdade de medicina.

Na pensão conheceu Paulinho Boca de Cantor e Luiz Galvão, que o apresentaram a Tom Zé. Era o passo que faltava para o menino sanfoneiro desistir da carreira na saúde e investir de vez na música, com uma formação profissional que começou no Seminário de Música da Universidade Federal da Bahia.

Foi o primeiro cantor de trio

Se hoje o Carnaval da Bahia leva turistas do mundo inteiro a Salvador, atraídos pelos cantores que comandam os trios elétricos, isso se deve a Moraes Moreira. Ele foi o primeiro artista a emprestar sua voz para o formato de show, que antes só acontecia de maneira instrumental.

Pouco tempo depois de sair dos Novos Baianos e seguir em carreira solo, Moraes Moreira foi levado por seu parceiro musical Armandinho para o trio do pai do guitarrista —com Dodô e Osmar—, em 1976. Pioneiro, ele não só compôs marchinhas como “Pombo Correio” e “Vassourinha Elétrica”, como cantou em cima do trio, algo inédito naquela época e que viria a mudar definitivamente a cena do Carnaval da Bahia.

Além de cantor, era cordelista

Se há uma palavra para resumir todos os talentos de Moraes Moreira, talvez ela seja “artista”. Além de cantor, compositor, músico, agitador cultural e escritor, o baiano cultivava uma paixão pelo cordel. Foi nesse formato que, em 2008, lançou “A História dos Novos Baianos e Outros Versos”, em um livro com quase 200 páginas.

Dez anos depois, em 2018, Moraes lançaria o disco “Ser Tão”, totalmente inspirado pelo universo da literatura de cordel. É nessa obra que ele se declara “De Cantor Pra Cantador”, título de uma das faixas que abordam os versos rimados do cordel.

Mais recentemente, escreveu e divulgou ainda um cordel batizado de “Quarentena”, em que abordava o isolamento social, o medo do coronavírus e a questão política que envolve a pandemia.

Já flertou com o hip hop

Admirador da palavra cantada, Moraes Moreira chegou a flertar com o hip hop em “De Repente”, disco de 2005 que mistura elementos de música eletrônica e rap com o repente nordestino.

Do álbum saíram faixas como “Baião D2” e “Rap da República”. O artista via o grupo BaianaSystem como um dos grandes representantes dessa mistura na atualidade.

Morou em um carro

Moraes Moreira chegou a morar por três meses em um carro com seus companheiros de Novos Baianos. Isso aconteceu antes de eles acharem um apartamento para alugar em Botafogo e bem antes das famosas aventuras psicodélicas do grupo no famoso sítio em Jacarepaguá.

“A gente tinha um JK [carro produzido pela Alfa Romeo na década de 60] que o Galvão tinha trazido de Juazeiro. Não tínhamos casa, então, moramos nele por três meses. Eram umas oito pessoas. A gente parava o carro em algum lugar e dormia”, relembrou Moraes em uma entrevista ao jornal “O Globo”, em janeiro.

Enquadro “tardio”

Já consagrado na carreira aos 50 anos de idade, Moraes Moreira foi parado pela polícia por fumar um cigarro de maconha dentro do carro com os amigos. A história do enquadro “tardio” foi contada ao UOL por Luiz Galvão, companheiro de Novos Baianos, na época do relançamento do livro dele “Novos Baianos – A História do Grupo que Mudou a MPB”, em 2014.

Era 1997, quando o grupo se reuniu para um novo álbum, e Galvão já estava “careta”. Na volta de um show, dentro do carro com Moraes, Paulinho e Baby, um cigarrinho dos tempos áureos voltou a ser acesso. Na ocasião, o compositor ficou em pânico, pois a polícia chegou a parar o veículo. Os policiais, no entanto, só deram um “puxão de orelha” nos músicos: ‘não acendem mais na orla que é sujeira’, relembra o compositor no livro.

Levou a Bahia ao Rock in Rio

Ivete Sangalo é considerada a rainha do Rock in Rio e muitas vezes é associada ao fato de ter quebrado uma barreira e levado música baiana ao festival, relacionado ao rock e à música internacional. Mas muito antes de Ivete sequer sonhar em subir ao palco principal do Rock in Rio, Moraes Moreira já havia passado por lá.

O cantor e compositor baiano se apresentou nas duas primeiras edições do evento, em 1985 e 1991, e também na volta histórica, em 2001. Nessa edição, ousou ao levar um trio elétrico para circular pelo festival dias depois de Carlinhos Brown ter sido alvo de garrafadas do público do Guns N’ Roses.

Moraes Moreira ainda transformou o filho, Davi Moraes, em um dos artistas recordistas de apresentações no Rock in Rio, já que levou o menino aos 11 anos para tocar com ele na primeira edição e manteve a tradição nas outras passagens por lá.

Foi sogro de Ivete

Moraes Moreira com o filho, o guitarrista Davi Moraes - Felix Lima - 5.jan.2011/Folhapress

Moraes Moreira com o filho, o guitarrista Davi Moraes

Imagem: Felix Lima – 5.jan.2011/Folhapress

Que Moraes Moreira é pai do guitarrista Davi Moraes todo mundo sabe. Mas o que pouca gente lembra é que ele já foi sogro de Ivete Sangalo, outro patrimônio da Bahia. A cantora foi casada com o filho de Moraes entre 2002 e 2004.

Além de Ivete, Moraes Moreira também foi sogro de outras grandes cantoras: Marisa Monte e Maria Rita, que também foram casadas com o filho dele.

Tinha medo do mar

Nascido e criado no interior da Bahia, Moraes Moreira só conheceu o mar aos 15 anos, quando foi pela primeira vez a Salvador. Ao ver a imensidão do oceano, diz ter levado um dos maiores sustos de sua vida.

“Tive muito medo, foi forte, até cruel. Até hoje, vou só onde dá pé e voltou correndo. Não sei nadar”, confessou o músico, em uma de suas últimas entrevistas, ao jornal “O Globo”, em janeiro.

Deixou 20 músicas inéditas

E, por fim, mas não menos importante, Moraes Moreira se foi, mas deixou pelo menos um disco inédito completo. Também em sua última entrevista ao jornal “O Globo”, o cantor e compositor revelou que tinha 20 novas composições e que pretendia apresentá-las em um show ainda neste ano.

Não aconteceu, mas entre os sucessos que ficaram para a história e os que ainda estão por vir, o artista deixa um enorme legado para a música popular brasileira.

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