Uma “viagem” transcendental, quase cósmica, que também serve como uma passagem para o autoconhecimento, especialmente no que tange à busca por um mundo sem desigualdades. Pode parecer “papo cabeça”, mas é apenas o bom e (velho) rock alternativo. Assim deve ser encarado “O Selenita”, terceiro disco da banda paulista NDK, disponível nas plataformas digitais.
Composto por 16 faixas, sendo oito inéditas e algumas que foram lançadas em pílulas, desde agosto, o EP traz a criatividade e a experimentação sonora como carro-chefe, elementos típicos do trabalho desta banda de Jundiaí (SP), que, após começar como uma brincadeira de colegas no ensino médico, está na estrada há cerca de 15 anos.
Produzido pelo rapper NiLL, o disco traz músicas que compõem planetas e elementos do espaço, como “Buraco Negro”, “Terra” (que conta com parceria de Analaga), “Saturno”, “Júpiter”, “Marte”, “Urano”, “Éris” e “Netuno”. A maioria delas servem de metáfora para os dilemas sociais por que passam o povo brasileiro.
“É um trabalho que versa sobre uma insatisfação nossa, especialmente em relação a uma quebra de valores morais que estamos vivendo”, dispara Rike, vocalista que divide os holofotes com Caio (guitarra), Fer Lavinhati (guitarra e voz), Gustavo Santos (bateria) e Júlio Pires (baixo). O cantor, inclusive, faz questão de explicar o “cósmico” nome do EP.
“Estava em uma loja que vende minerais na Argentina, quando um colombiano me questionou se sabia o nome das ‘pessoas que vinham da lua’ (risos). Achei que ele estava me zoando (mais risos)! O rapaz falou que eram selenitas. O nome vinha do grego Selênio, que quer dizer Lua. Inclusive, a pedrinha é chamada assim por seu aspecto, que remete ao piso lunar”, explana, em tom de teoria, dizendo que o novo álbum propõe essa “viagem de autoconhecimento”.
“O nome casa com o aspecto que queríamos para o disco, uma mistura do NDK e NiLL, um beatmaker que tem a ver com a sonoridade ‘new age’ que gostaríamos para esse novo trabalho, uma mistura de rock com hip hop”.
DENÚNCIA SOCIAL
Em “O Selenita”, chama a atenção a faixa “Marte”, música feita em parceira com o pernambucano China, que fala basicamente sobre relações trabalhistas e seu caráter de exploração contra os menos privilegiados. Trechos como “/É a luta do brasileiro/ Povo merecedor/ Com medo da morte/ Da bala perdida”, convida à reflexão.
“Sempre gostei de usar o espaço do palco e do microfone para alertar a plateia. Na música, o China usa uma frase muito forte: ‘Só o Trabalho Liberta’. Ela foi anexada na entrada do campo de concentração de Auschwitz, tornando-se um dos símbolos do Nazismo. A mesma frase foi usada esse ano, por uma secretaria do Governo Bolsonaro de maneira errônea”, relembra Rike, citando o caso da Secretaria Especial de Comunicação Social da Presidência da República que, em maio, postou um texto semelhante em uma mensagem compartilhada em suas redes oficiais: “O trabalho, a união e a verdade libertarão o Brasil”.
Polêmicas à parte, “O Selenita” – que também conta com participações de artistas como Keops e Raony, Egypcio, a banda uruguaia Cuatro Pesos de Proprina e Dieguito Reis, entre outros -, foi feito a partir de um financiamento coletivo.
O NKD abusou da criatividade na ação, propondo um vídeo que mostrava o ano de 2049, quando o desaparecimento de uma banda mobilizou o país. O resultado foi imediato, com a maioria dos fãs aderindo à campanha de doação. Abaixo, veja o vídeo.
“A mobilização na internet sempre foi um diferencial para o nosso trabalho. Tanto que hoje temos vários fã-clubes pelo país, que sempre nos acompanham. Vivemos um momento complicado, especialmente com a impossibilidade de shows presenciais. A fórmula agora é manter uma proximidade pelas redes sociais, apostando em um caráter híbrido, também com apresentações pela internet. O negócio é investir na criatividade, com trabalhos que sejam bem mais do que lançar uma boa música”, complementa.
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