Na transição do carro a combustão para o elétrico, as montadoras que atuam no Brasil estão quase que “dirigindo” na mesma direção. As principais, como Stellantis, Volkswagen, Toyota e Renault, veem o carro híbrido com etanol como uma solução viável para o mercado brasileiro.
Mas a GM vai “dirigir” na contramão de suas rivais. A companhia descarta totalmente a passagem pelos carros híbridos com etanol, indo direto para o elétrico a bateria. O motivo? Considera que já superou essa fase de transição dos motores a combustão para os elétricos, apurou o NeoFeed com fontes da empresa.
O plano da GM envolve fabricar esses modelos no Brasil, mas não há ainda uma previsão de quando isso vai acontecer. Mas isso não será rápido: ter uma produção 100% elétrica por aqui pode demorar entre 13 anos e 18 anos.
Os executivos de Detroit, onde fica localizada a sede da fabricante de carros nos Estados Unidos, no entanto, acreditam que a mudança para os carros totalmente elétricos será mais rápida do que indicam as previsões. Por isso, o Brasil faz parte do projeto global de “zero emissão” e precisa começar a se preparar para essa realidade em que os motores a combustão vão sumir do mercado.
Em poucos meses, a GM vai trazer quatro carros elétricos a bateria (EVs) para o Brasil: Bolt EV (que volta a ser comercializado após um recall global), Bolt EUV (versão utilitária do modelo), Blazer EV e Equinox EV. O próximo carro da lista deverá ser a picape Silverado EV, já anunciada nos Estados Unidos.
O atual plano de investimentos da GM na América do Norte é de US$ 35 bilhões para o lançamento de 30 carros elétricos até 2025. Essa montanha de dinheiro será aplicada principalmente em novos modelos concebidos para serem 100% elétricos e em carros autônomos.
A GM tenta acelerar o processo de eletrificação total de seu portfólio porque 75% de suas emissões de carbono são oriundas do uso que seus clientes fazem dos carros. Embora nunca tenha vendido modelos híbridos no Brasil, esta tecnologia já foi amplamente testada nos Estados Unidos na última década e não acaba totalmente com a poluição.
Um dos motivos pelos quais a GM não enxerga grandes vantagens no etanol, disseram fontes da companhia, é o fato de que, apesar de reduzir a emissão de CO2, que é um gás de efeito estufa, o combustível feito à base de cana de açúcar emite mais gases nocivos à saúde (como o NOx) do que a gasolina.
O alto custo do carro elétrico, entretanto, é um impedimento para a concretização do objetivo de produzir e vender somente carros 100% elétricos. Hoje, um EV a bateria custa de 200% a 300% a mais para ser produzido.
Nesse caso, a GM aposta na plataforma Ultium Battery para reduzir o custo e o preço dos veículos elétricos. Segundo uma fonte da GM da América do Sul, a segunda geração da Ultium chegará nos próximos meses com 60% a mais de capacidade e 40% a menos de custo. Especialistas da indústria automobilística afirmam que atualmente 50% do custo do carro elétrico está na bateria.
Parcerias locais
Como seria uma GM totalmente elétrica no Brasil? Para começar, a empresa se baseia num recente estudo do BCG (Boston Consulting Group) publicado pela Anfavea, a entidade que representa os fabricantes de carros, que faz previsões sobre esse mercado no País.
Segundo esse estudo, em 2035, o mercado brasileiro terá 38% de carros a gasolina, diesel ou flex e 62% de veículos eletrificados (híbridos leves, híbridos completos, híbridos plug-in e elétricos). Destes, 21% serão EVs, ou seja, carros totalmente elétricos.
Para além disso, a GM mira no crescimento do mercado brasileiro, que pode voltar a ser o quarto ou quinto maior do mundo. Atualmente, o Brasil está em sétimo lugar, com um produção anual que deve chegar a 2,4 milhões de veículos em 2022, segundo estimativas da Anfavea.
A GM apostará também nas parcerias para a produção local. A brasileira Moura, uma das maiores fabricantes de baterias do mundo, é a única empresa do País na lista dos melhores fornecedores globais da GM.
Outra empresa brasileira considerada como estratégica é a catarinense WEG. Atualmente, a WEG produz mais de 19 milhões de motores elétricos por ano e mais de 114 mil MVA (Megavoltampère) em geradores elétricos.
A capacidade produtiva desses fornecedores nacionais, junto com a capacidade instalada da própria indústria automobilística e as grandes reservas de minérios no Brasil e na América do Sul, faz a GM apostar que é possível incluir o país nos planos globais de zero emissão.
Essas características levariam o país a ser um hub de exportação de carros elétricos. Outro argumento da GM para seu otimismo é que o custo de propriedade do automóvel elétrico (que tem cerca de 200 componentes) já está próximo do custo de propriedade de um carro com motor a combustão interna (cuja manutenção é mais cara por ter mais de 1 mil componentes).
Existe ainda por parte dos consumidores grande receio sobre a utilização da bateria dos carros elétricos após sua vida útil, que é de 8 a 10 anos. E, de fato, não há o que fazer, pois as atuais baterias usadas nos automóveis elétricos só conseguirão manter de 20% a 25% da capacidade de armazenamento. Podem, entretanto, ser usadas como geradores estacionários por mais 20 anos.
Enquanto se prepara para produzir o carro 100% elétrico no Brasil, a GM está investindo R$ 10 bilhões no desenvolvimento de novos veículos, tecnologias e atualização das fábricas no País. A nova picape Chevrolet Montana, que chega em 2023, faz parte desse investimento.
Para o futuro próximo, a GM considera a possibilidade de importar algum modelo elétrico de luxo da Cadillac (Escalade, Lyriq ou Celestiq) e até mesmo o super utilitário elétrico da GMC (Hummer EV, que tem a capacidade de andar de lado, como caranguejo).
Ao contrário da Volkswagen e da Renault, por exemplo, que investem em modelos inéditos 100% elétricos, mas também eletrificam modelos nascidos na propulsão por petróleo, como a família Golf e o Kwid E-Tech, a GM não adaptará os carros atuais para a propulsão elétrica.