A história da Jeep obriga-nos a recuar até 1941 e ao lendário Willys MB, um pequeno veículo militar encomendado pelo exército dos Estados Unidos da América (EUA) — para a Segunda Guerra Mundial — que mais tarde daria origem à Jeep, uma das marcas de automóveis mais reconhecidas do planeta e cujo nome até virou sinónimo de veículo de todo o terreno.
Agora, no ano em que a marca norte-americana celebra o seu 80.º aniversário, os desafios são mais exigentes do que nunca. Em primeiro lugar, estamos a começar a querer sair de uma pandemia que “congelou” o planeta durante mais de um ano e que afetou a indústria automóvel como já não se via há várias décadas.
E como se isto não representasse um desafio suficientemente grande para as marcas, a indústria automóvel atravessa um dos momentos mais conturbados dos últimos anos, sobretudo na Europa, onde é cada vez mais inevitável “navegar” a onda da eletrificação.
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Os primeiros Jeep a renderem-se aos “sinais dos tempos” foram, como não poderia deixar de ser, as duas propostas mais europeias da gama, o Compass e o Renegade. Agora, chegou a vez do icónico Wrangler, o herdeiro natural do Willys MB.
Já conduzimos em primeira mão o Jeep Wrangler 4xe, um híbrido plug-in com 380 cv, e ficámos surpreendidos com a resposta em estrada e fora dela. Mas mais do que uma nova versão de um modelo, o Wrangler marca o virar de página definitivo da marca norte-americana agora integrada na Stellantis.
É o primeiro Wrangler eletrificado da história e o modelo que melhor personifica a aposta da Jeep na Europa nos próximos anos. De forma a percebermos o que a marca tem reservado para o continente europeu, e na sequência da apresentação europeia do Wrangler 4xe, estivemos à conversa com Antonella Bruno, a responsável pela Jeep na Europa, Médio Oriente e África.
ADN mantém-se intacto
Razão Automóvel (RA) — Os clientes sempre viram a Jeep como uma das marcas com maior tradição no todo o terreno. O que é que podemos esperar desta nova era em que a Jeep está a entrar, com a eletrificação?
Antonella Bruno (AB) — Sim, tens razão. A Jeep sempre foi vista como a criadora dos SUV, em 1941. Mas também é verdade que a eletrificação se está a tornar e se vai tornar no futuro uma peça central para a evolução da marca.
Mas isso não dilui o valor da marca, porque o sistema 4xe que lançámos no ano passado no Renegade, no Compass e agora no Wrangler, graças à tecnologia e ao binário superior, oferece ainda melhores performances fora de estrada.
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E olhando para o exemplo do Wrangler, podemos dizer que ele é agora um carro que pode ser usado todos os dias, mesmo nas cidades com restrições de CO2, mas ao mesmo tempo não só mantém a capacidade fora de estrada como ainda a vê reforçada, graças ao binário instantâneo e mais elevado.
Por um lado estamos a melhorar a capacidade off-road, mas ao mesmo tempo estamos a ficar mais sustentáveis. Por isso não estamos, de maneira alguma, a diluir o valor da marca.
RA — Então podemos assumir que graças à eletrificação o ADN da Jeep ainda pode ser reforçado. É isso que está a dizer?
AB — Sim, é exatamente isso. Por um lado estamos a ficar sustentáveis, mas por outro lado estamos a ficar mais eficientes e mais performantes no tradicional território off-road, que é parte do ADN da marca.
Wrangler “europeu” será apenas híbrido já este ano
RA — Num mercado quase inteiramente dominado pelos SUV, acredita que o maior potencial para estas propostas híbridas plug-in está na Europa? Em que países espera um crescimento maior?
AB — Acreditamos profundamente na evolução do mercado da eletrificação. Já vemos isso no Compass 4xe, onde já conseguimos um mix de 30% a nível europeu. E se tivermos em consideração que o 4xe vai substituir os 4×4 no mercado, podemos esperar um mix mais elevado em todos os países. Não há nenhum mercado que vá ficar fora desta “moda” da eletrificação.
No Wrangler, por exemplo, hoje em dia temos duas motorizações, uma a gasolina e agora esta híbrida plug-in, mas no final do ano a única motorização disponível no Wrangler será a híbrida plug-in, porque acreditamos que o comboio da eletrificação já está em marcha.
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RA — Isso quer dizer que também podemos esperar uma versão híbrida plug-in para o Jeep Gladiator?
Para o Gladiator não está prevista essa possibilidade no futuro mais próximo, mas estamos a estudar todas as análises em torno dos nossos produtos de forma a sermos capazes de oferecer as melhores propostas na Europa. Já o novo Grand Cherokee, e isto é uma antecipação, terá o sistema 4xe, será um híbrido plug-in.
Objetivo é chegar a mais pessoas…
RA — Com a evolução para a eletrificação, acredita que o público alvo da Jeep vai mudar ligeiramente?
AB — Podemos dizer que vamos alargar os nossos clientes. Usando o Wrangler 4xe como exemplo, queremos manter os clientes que são leais ao modelo enquanto uma expressão pura do off-road, mas ao mesmo tempo queremos conquistar clientes que antes não podiam usar o Wrangler diariamente nas suas vidas.
E é exatamente o mesmo para o Renegade 4xe e para o Compass 4xe. Queremos manter os clientes que são leais à marca mas também queremos chegar a pessoas que estão interessadas na sustentabilidade e que precisam de um carro com um custo total de utilização baixo.
Isto porque a maioria dos clientes europeus não faz mais de 50 quilómetros por dia e, considerando a autonomia dos nossos modelos, vão poder usá-los em modo elétrico todos os dias.
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Nós acreditamos que os híbridos plug-in são o melhor compromisso no sentido em que oferecem a experiência de condução em modo 100% elétrico sem nos dar ansiedade, porque temos outra flexibilidade graças ao facto de os podermos usar com motor térmico.
RA — Como é que a estratégia da Jeep vai evoluir daqui em diante? Vamos chegar a uma gama totalmente eletrificada? A entrada no grupo Stellantis mudou alguma coisa na estratégia da Jeep para a Europa?
AB — A estratégia já estava definida. A eletrificação é o presente e será o futuro da marca. Como já disse, o novo Grand Cherokee será híbrido plug-in e vamos introduzir versões mild-hybrid. Todos os modelos da nossa gama terão versões elétricas ou eletrificadas.
Modelo 100% elétrico não é para já
RA — Na edição deste ano do Easter Safari a Jeep apresentou o Magneto, um protótipo totalmente elétrico que não deixou ninguém indiferente. Quando podemos esperar o primeiro Jeep de produção totalmente elétrico?
AB — O Magneto é um protótipo, faz parte da nossa estratégia de concepts e estudos que fazemos em torno do produto. Mas neste momento não passa disso, de um concept. Mas vamos continuar a analisar e a perceber qual a melhor oferta para cada um dos nossos modelos na Europa e nas outras regiões.
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RA — O Renegade e o Compass são dois modelos muito importantes para a Jeep na Europa e recentemente surgiram rumores de que a Jeep podia estar a desenvolver um SUV mais pequeno, para o segmento B. Estes rumores são reais? Podemos esperar um “mini-Renegade” para a Europa nos próximos anos?
AB — Não posso confirmar nada mas posso dizer que o novo plano estratégico da Stellantis será apresentado no final deste ano ou no início do próximo e aí a nossa estratégia será revelada.
RA — Podemos dizer que este é o melhor momento da Jeep até aqui?
AB — Este é um momento muito importante em termos de evolução, porque assinala um novo caminho na Europa com a eletrificação e porque dá a perceção de que a marca está a ficar ideal para a vida do dia a dia.