A Renault começou sua odisseia elétrica em 2012 com o Zoe. Na época, um hatch quase experimental e até modesto que começava a circular em Paris. A indústria ainda não investia pesado nos carros elétricos. O mundo parecia destinado a conviver por muitos anos com os motores a combustão. Mas o jogo virou, e as montadoras partiram para a eletrificação total.
Agora, nove anos depois, a Renault já colhe os frutos por ter sido pioneira com o Zoe. O hatch alimentado por baterias de íon de lítio foi o modelo do gênero mais vendido da Europa em 2020. Liderou mercados-chave, como o alemão. No Brasil, o modelo desembarcou em 2013 para testes. E no fim de 2018, foi, então, o primeiro carro elétrico a ser vendido para o público geral.
Na ocasião, o Renault Zoe estreou como o elétrico mais barato do país, ao preço de R$ 149.990. A versão anterior já trazia um importante upgrade no pacote de baterias, com capacidade de 41 kWh e autonomia para 300 km. Porém, a grande atualização feita no hatch é essa que acaba de chegar ao país. O novo Zoe E-Tech traz evoluções expressivas em vários aspectos.
Nova arquitetura eletrônica
A Renault não alterou a plataforma do Zoe, mas atualizou a arquitetura eletrônica do compacto. Isso permitiu instalar várias novas tecnologias, como os faróis e lanternas Full LED com ajuste automático dos fachos alto e baixo, além de LEDs dinâmicos nas lanternas. Por dentro, o hatch ganhou painel totalmente novo e mais moderno, com duas telas de alta resolução.
Quem conhece o Zoe anterior certamente vai se surpreender com as mudanças que a Renault promoveu na cabine. Parece até um carro completamente novo. Há freio de estacionamento eletrônico com função Auto Hold e ar-condicionado digital com pequenos visores na parte interna dos botões. Outro elemento marcante é a alavanca tipo joystick do câmbio.
O acabamento também dá um salto expressivo de qualidade. O Zoe deixa para trás a cabine de carro de entrada e exibe um painel bem arrematado, com a parte superior macia ao toque e muitos apliques metálicos. A preocupação com o requinte também é vista pela parte central do painel forrada com tecido, bem como pelos bancos dianteiros largos e macios.
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Abre o olho, Polo GTS
Mas é claro que de nada adiantaria enfeitar se o desempenho não mostrasse real evolução. O Zoe anterior era um carrinho elétrico agradável na cidade, mas de desempenho tímido. Ao contrário de outros modelos elétricos, o hatch da Renault tinha, assim, uma aceleração moderada, com o clássico zero a 100 km/h feito em longos 13,5 segundos.
Pois o novo Zoe E-Tech chega para acabar com essa morosidade. O novo motor elétrico entrega 135 cv de potência, bem mais do que os 88 cv anteriores. Além disso, o torque agora chega a 25 mkgf, força equivalente à do motor 1.4 FSI turbo do Volkswagen Polo GTS. Antes, eram 22,4 mkgf de torque. Assim, o hatch elétrico agora arranca com vontade.
Segundo a Renault, o Zoe E-Tech arranca de zero a 100 km/h em 9,5 segundos. Ou seja, é 4 segundos mais rápido. A marca francesa também diz que as retomadas de velocidade estão cerca de 2 segundos mais ligeiras, como no resgate de 80 km/h a 120 km/h. Isso reafirma o fato de que o novo Zoe está, portanto, mais veloz ao volante.
Autonomia para 385 km
Outra importante mudança no Zoe E-Tech é o upgrade na bateria. O hatch elétrico traz um pacote com os mesmos 12 módulos, mas com 25% a mais de capacidade de armazenamento, totalizando 52 kWh (eram 41 kWh). Assim, a autonomia passa de 300 km para até 385 km (ciclo WLTP), e o hatch recupera mais energia em movimento.
Além da nova bateria, o Zoe estreia o “Modo B”, que funciona como um freio motor. Na prática, quando o motorista libera o pedal do acelerador, o hatch começa a frear gradualmente. Assim, dispensa o uso dos freios em situações de trânsito. O recurso ainda faz o carro recuperar mais energia cinética, prolongando, dessa forma, a autonomia da bateria.
Para o motorista, está mais fácil acompanhar esse vai e vem da eletricidade. A nova tela de 10 polegadas do quadro de instrumentos é maior e exibe gráficos mais modernos e dinâmicos em alta resolução. Assim, é possível ver o fluxo de energia em tempo real, bem como os dados de bordo. Também dá para personalizar as informações nas laterais do visor.
Vida a bordo mais conectada
Nesse primeiro contato, aceleramos a versão topo de linha Intense, de R$ 219.990. O modelo traz itens exclusivos, como as rodas de 16 polegadas com acabamento diamantado e o alerta de ponto cego nos retrovisores externos. Mas a nova multimídia Renault Easy Link está presente desde a versão Zen (R$ 204.990) e melhora muito a conectividade a bordo.
O sistema oferece espelhamento com as plataformas Apple CarPlay e Google Android Auto. Dessa forma, o motorista pode deixar o celular acomodado no console inferior e acessar os principais aplicativos diretamente na tela de 7 polegadas do painel. Há uma entrada auxiliar, além de duas portas USB disponíveis, e ambas conversam com a multimídia.
Em relação aos conteúdos, o Renault Zoe E-Tech vem de fábrica já muito equipado. Há sensores de luz, de chuva e de obstáculos, quatro airbags, ABS com EBD, controle de estabilidade, sistema de ancoragem Isofix para cadeirinhas infantis, monitor de pressão dos pneus, vidros elétricos, ar-condicionado automático digital, multimídia e chave presencial.
Mais divertido e sofisticado
Após uma primeira volta, está claro que o Zoe E-Tech é quase uma nova geração do hatch elétrico. Ao volante, o modelo é bem mais veloz nas acelerações que o anterior. O ganho de desempenho se revela a cada pisada mais forte no pedal do acelerador. O temperamento, entretanto, não é esportivo. Na verdade, os carros elétricos tentam “salvar” a bateria.
Ou seja, quando conduzido normalmente no trânsito, sem acelerações bruscas, o conjunto motor-bateria trabalha no máximo da sua eficiência, recuperando energia a cada freada ou desaceleração. O Jornal do Carro teve 6 horas para acelerar o Zoe pelas ruas de São Paulo. E o hatch elétrico quase não perdeu autonomia, mesmo tendo ficado ligado quase todo tempo.
Ao sair para o início do test drive, tínhamos a bateria totalmente cheia para até 385 km. Porém, no retorno à garagem da Renault, as baterias tinham 85% da carga total, com energia para mais 304 km. Dessa forma, o novo Zoe mostra que os carros elétricos já oferecem hoje autonomia compatível com a de modelos a combustão. Com a vantagem de “ganhar quilômetros”.
A única barreira para o Renault Zoe é realmente o preço. A versão testada pelo Jornal do Carro custa R$ 219.990, faixa de utilitários premium e picapes médias. Assim fica difícil para o pequeno hatch elétrico da marca parisiense. Mas como produto, o modelo agora entrega um nível compatível em desempenho e tecnologias. E sem poluir nada por isso.